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Pressão liberta jornalista

Autoridades retiram acusações contra repórter detido por tráfico de drogas e colocado em prisão domiciliar

postado em 12/06/2019 04:16
Ivan Golunov deixa delegacia em Moscou: ministro do Interior admitiu que houve vícios no caso e pedirá afastamento de generais da polícia


Depois de três dias em prisão domiciliar, sob acusação de tráfico de drogas, o jornalista russo Ivan Golunov foi libertado ontem, no que parece ter ser configurado em um raro momento em que as autoridades se dobraram à pressão da mídia e da opinião pública. O anúncio oficial esclarece que foram retiradas ;todas as acusações; contra o repórter, que atua como free-lancer para o Meduza, um site de notícias da vizinha Letônia. Os policiais que registraram o flagrante contra Golunov foram suspensos das funções enquanto o caso é investigado. O ministro do Interior, Vladimir Kolokoltsev, anunciou que pedirá ao presidente Vladimir Putin a demissão de dois generais da polícia: Andrei Pushkov, que responde pelo setor ocidental de Moscou, e Yuri Deviatkin, que responde pelo Departamento de Combate a Narcóticos na capital.

;Muitíssimo obrigado por seu apoio;, disse o jornalista ao deixar uma delegacia, acompanhado por colegas de imprensa e simpatizantes. Conhecido pelas investigações sobre corrupção na prefeitura de Moscou, Golunov estava em prisão domiciliar desde sábado. Na ocasião, foi abordado e revistado por políciais, que alegaram ter encontrado cocaína em sua mochila ; e, depois, também em sua residência. O repórter acusa os agentes de terem ;plantado; o flagrante como represália pela sua atividade. De acordo com a polícia, exames toxicológicos e de impressões digitais confirmaram que o jornalista não tinha traços da droga no sangue nem tinha manipulado as amostras que motivaram a detenção.

;Golunov será solto da prisão domiciliar e todas as acusações serão retiradas;, anunciou o ministro do Interior, em comunicado. ;Vou pedir ao presidente para remover do cargo (os dois generais da polícia envolvidos no caso);, completou. O texto afirma que a Justiça terá a incumbência de ;avaliar a legalidade das ações policiais; que resultaram na prisão de Golunov, na última quinta-feira.

O caso provocou uma onda de rara solidariedade na sociedade russa, com apoio de jornais independentes e até a mídia estatal, passando até mesmo por alguns políticos de alto escalão. A decisão de retirar as acusações não tem precedentes na história recente da Rússia, onde os serviços de segurança e a polícia são acusados com frequência de fabricar casos de drogas para silenciar opositores, e onde as absolvições são poucos frequentes.

;É uma grande notícia, um exemplo inspirador e motivador do que a solidariedade pode fazer em favor de pessoas que são perseguidas;, comemorou o político de oposição Alexei Navalni, ele mesmo alvo de vários processos judiciais nos últimos anos. Embora contestadas por ele e por seus advogados, as condenações impediram Navalni de disputar eleições, inclusive a que rendeu mais um mandato ao presidente Vladimir Putin.

A União Europeia (UE) também celebrou a retirada das acusações contra Golunov, mas pediu uma ;investigação exaustiva e transparente; sobre uma eventual ;brutalidade policial; durante a detenção do jornalista. A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) saudou no Twitter a ;mobilização histórica da sociedade civil; na Rússia. ;Agora, aqueles que tentaram montar esse caso devem ser julgados;, apontou.

O site independente Meduza, com sede na Letônia, afirmou que ;o poder escutou a sociedade;, no desfecho do caso. Desde sexta-feira, manifestantes protestaram em frente à sede da polícia, em Moscou, com um cartaz ; a única forma de protesto que não requer autorização das autoridades. Pela primeira vez na história, os três maiores jornais do país ; Kommersant, Vedomosti e RBK ; publicaram uma coluna comum em apoio a Golunov e exigiram que o caso fosse ;totalmente investigado;.

;É uma grande notícia, um exemplo inspirador e motivador do que a solidariedade pode fazer em favor de pessoas que são perseguidas;
Alexei Navalni, líder político da oposição russa



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