postado em 13/06/2019 04:16
Em uma escalada de tensão preocupante, Hong Kong se prepara para novas imagens de ruas apinhadas de manifestantes e para cenas de repressão por parte das forças de segurança. Ativistas e o governo da ex-colônia britânica insistem na posição desafiadora. O protesto envolvendo dezenas de milhares de pessoas forçou as autoridades a adiarem, por tempo identerminado, os debates sobre um controverso projeto de lei sobre extradições para a China Continental. No entanto, a previsão é de que uma votação final ocorra daqui a exatamente uma semana. A chefe de governo de Hong Kong, Carrie Lam, classificou os atos de ontem de ;rebeliões organizadas; e considerou ;inaceitáveis para sociedades civilizadas; os confrontos entre policiais e ativistas. Como mecanismo de pressão, mais de 100 empresas e estabelecimentos comerciais fecharam as portas, enquanto sindicatos de estudantes convocaram um boicote das aulas para que alunos participassem da concentração popular.
Para tentar desbloquear as avenidas do centro financeiro da cidade, policiais dispararam bombas de gás lacrimogêneo e gás de pimenta. Vídeos divulgados pela internet mostravam jovens derrubados ao chão e espancados com cassetetes. Até o fechamento desta edição, os choques tinham deixado 72 feridos, dois deles em estado grave. Stephen Lo, chefe da polícia, garantiu que os agentes ;atuaram com moderação, até que gângsteres tentaram tomar o Conselho Legislativo de Hong Kong (Legco, o Parlamento);. No último domingo, as manifestações reuniram mais de 1 milhão de pessoas. Foram as maiores mobilizações em 22 anos.
Sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial, três décadas atrás, o assistente social Chan Ching Wa Jonathan, 54 anos, saiu ontem às ruas para protestar contra a lei. ;Essa legislação é realmente um ato descarado do governo (de Lam), com uma única intenção: dar à China comunista mão direta sobre todos aqueles de quem ela não gosta, inclusive ativistas de direitos humanos e quem ousar em se levantar contra Pequim. A intenção é de extraditá-los para os tribunais controlados pelo Partido Comunista da China (PCC);, afirmou ao Correio.
Chan relatou ter visto a polícia usar bastões, gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar e deter ;cidadãos desarmados;. ;Um dos manifestantes foi atingido diretamente no olho por uma bala de borracha. Uma dessas munições acertou um poste ao meu lado. Em essência, as forças policiais violaram o direito do povo de Hong Kong às livres expressão e manifestação. A força excessiva utilizada foi desproporcional à situação;, acrescentou. No fim da manhã, Matthew Cheung, secretário do governo de Hong Kong, apelou aos cidadãos para que ;demonstrem moderação, com uma dispersão pacífica e que não desafiem a lei;. O apelo foi em vão.
Com 201 mil seguidores no Twitter, a cantora, atriz e ativista LGBT Denise Ho disse à reportagem existir frustração acumulada e raiva por parte da população de Hong Kong. ;Desde o movimento dos guarda-chuvas, o governo tem ignorado todas as vozes que vêm do povo. Tivemos vários ativistas processados por envolvimento em protestos, além de seis legisladores afastados do Conselho Legislativo;, lembrou. Ela acusa as autoridades de erodirem o sistema democrático e o modelo ;um país, dois sistemas;, agravando a decepção dos cidadãos. ;É um momento muito frustrante para Hong Kong, pois temos um governo que não se importa com a segurança do povo. Eu estava no meio da multidão e vi como policiais lançaram gás lacrimogêneo e usaram todo o tipo de tática contra nós, o que fez com que as pessoas criassem o caos.;
Denise crê que a nova onda de insatisfação é símbolo de esperança. ;Trata-se de uma versão atualizada da luta pela democracia e pelos direitos humanos em Hong Kong. A forma com que as pessoas se mobilizaram foi orgânica. Os protestos são acéfalos, não têm liderança. O governo está com medo;, ressaltou. O projeto de lei polêmico autoriza extradições nos territórios com os quais não há acordo bilateral, incluindo a China continental. Os opositores temem que o texto abra precedentes para que Pequim persiga cidadãos de Hong Kong e estrangeiros. A União Europeia instou Pequim a ;respeitar; os direitos civis. Por sua vez, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, se disse entristecida com as imagens de policiais disparando contra ativistas e afirmou apoiar as demandas por liberdade.
Um desafio a Pequim
;Os protestos são um desafio indireto à vontade da China comunista. Em relação ao fato de essa situação em Hong Kong levar a um massacre no estilo daquele ocorrido na Praça da Paz Celestial, em 1989, isso depende se a polícia adotará força crescente e medidas (como munição letal) para suprimir as manifestações. Também há possibilidade de as ações da polícia incitarem uma resposta massiva incapaz de ser contida; então, haveria perigo real de o Exército Popular de Libertação entrar em cena.;
; Chan Ching Wa Jonathan, 54 anos, assistente social e sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial. Estava nos protestos de ontem, em Hong Kong
Desobediência civil
;Estamos em movimento de desobediência civil, pois fomos empurrados ao nosso limite pelo governo de Hong Kong. As pessoas foram empurradas para as ruas porque o governo não está escutando as vozes do povo. Não faz sentido as autoridades de Hong Kong pedirem aos manifestantes para se dispersarem, pois nós temos demandas que não têm sido respondidas. O governo deveria estar nos protegendo, mas estão se virando para a China comunista e querem aprovar essa lei de extradição a todo custo.;
; Denise Ho, cantora, atriz e ativista LGBT, 42 anos, moradora de Hong Kong. Participou dos protestos de ontem