Agência France-Presse
postado em 13/06/2019 18:40
No controle de uma escavadora na província síria de Idlib, o voluntário Basel al Rihani vai abrindo na terra vermelha covas para as próximas vítimas dos bombardeios do regime sírio.
A região de Idlib, que reúne cerca de três milhões de habitantes no noroeste da Síria em guerra, sofre quase que diariamente ataques de forças do regime do presidente Bashar al Asad e de sua aliada Rússia.
Desde o fim de abril mais de 360 civis, entre eles 80 crianças, morreram devido à intensificação dos bombardeios nesta província e nos territórios próximos controlados pelos jihadistas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Cavamos sepulturas (...) sem saber para quem", reconhece Rihani na região de Maaret al Nooman, uma localidade de onde fugiram quase todos os habitantes devido aos bombardeios.
Novas covas são abertas antecipadamente e os funerais são rápidos, em geral com poucas pessoas, diante de uma sepultura sem qualquer ornamentação.
Tudo é feito para "enterrar as pessoas o mais rápido possível, porque os cemitérios são muitas vezes alvos de ataques", acrescenta este jovem de 25 anos.
Com a escavadora, ele faz o serviço em menos de dez minutos, explica. Sem ela, o trabalho todo demoraria até três horas, muito tempo para ficar exposto num local visado para bombardeios.
Enterro rápido
Idlib, na fronteira com a Turquia, é uma das cidades que integram o acordo concluído em setembro de 2018 entre Moscou e Ancara para estabelecer uma "zona desmilitarizada" na região e separar os territórios sob controle rebelde das regiões em poder do regime.
Apesar disso, em abril, o regime e a Rússia intensificaram os bombardeios sobre esta região e áreas próximas das províncias de Alepo, Hama e Latakia, controladas pelo Hayat Tahrir al Sham (HTS), um grupo extremista formado pelo ex-braço sírio da Al-Qaeda.
Na segunda-feira, Mohamed Torman, de 21 anos, enterrou a filha Fátima, de dois anos. Ele tinha saído para comprar verduras quando sua casa no povoado de Maar Shurin foi bombardeada.
Correu de volta e tirou a menina dos escombros, mas ela faleceu pouco depois no hospital. Levou o corpo dela para ser lavado no que restou da residência, onde a família fez as orações funerárias tradicionais.
"Ela foi enterrada rapidamente. Éramos poucos e as pessoas tinham muito medo dos aviões", afirma. "Nem sequer nos despedimos corretamente", declarou.
Por falta de meios e para reduzir o risco, as famílias das vítimas organizam funerais modestos e rápidos, explica Basel al Rihani.
"Antes da guerra, metade da cidade assistia a um enterro. Agora a cerimônia conta apenas com quatro ou cinco familiares", diz o socorrista.
Às vezes, as vítimas estão desfiguradas (queimadas ou despedaçadas) e com frequência são enterradas muitas, de diferentes gerações de uma mesma família.
"Sem consciência?"
Rihani conta que em janeiro, no enterro do sobrinho de um amigo morto num bombardeio aéreo, um homem interrompeu a cerimônia. O pai do garoto tinha acabado de morrer em consequência dos ferimentos sofridos e a família queria sepultar os dois no mesmo lugar.
"Estava cavando um sepultura, tive que alargar mais para que coubessem nela o pai e o filho", recorda.
Na semana passada, perto da aldeia de Kafr Aweid, uma dezena de homens se juntaram para enterrar seus parentes nas imediações de um campo. Deveriam estar celebrando a festa muçulmana de Aíd al Fitr, que marca o fim do mês do jejum, mas dez civis morreram nos bombardeios do regime.
Perto de uma cova, um homem reconforta outro com semblante triste e marcas de sangue na roupa.
Sob uma árvore, uma família observa uma caixa de papelão manchada de sangue. Em seu interior está o corpo em pedaços de Yamen, de quatro anos.
Seu avô, inclinado sobre a caixa, está furioso. "Onde está a humanidade? Não tem consciência?", grita com as mãos levantadas para o céu.