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Risco de guerra após ataques a dois navios

Estados Unidos responsabilizam o Irã por explosões a bordo de dois petroleiros, perto do Estreito de Ormuz, e relatam ter vídeo que mostra barco iraniano retirando mina de casco. Conselho de Segurança da ONU se reúne em caráter de urgência

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 14/06/2019 04:17
Estados Unidos responsabilizam o Irã por explosões a bordo de dois petroleiros, perto do Estreito de Ormuz, e relatam ter vídeo que mostra barco iraniano retirando mina de casco. Conselho de Segurança da ONU se reúne em caráter de urgência

O alerta feito pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, deu a exata medida da tensão no Oriente Médio, que abalou o mercado internacional. ;Se há algo que o mundo não pode permitir, é um grande confronto na região do Golfo (Pérsico);, afirmou, pouco antes de o Conselho de Segurança se reunir, em caráter de urgência e a portas fechadas, a pedido dos Estados Unidos. Enquanto o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, visitava Teerã, dois navios petroleiros sofreram explosões no Golfo de Omã, a poucas milhas náuticas do Estreito de Ormuz. Três detonações foram reportadas a bordo do Front Altair, de bandeira das Ilhas Marshall, e duas no Kokuka Courageous, de bandeira panamenha e operado por uma companhia japonesa. Todos os tripulantes foram resgatados sem ferimentos.

;A avaliação dos Estados Unidos é a de que a República Islâmica do Irã é responsável pelos ataques;, declarou o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo. ;Tal análise se baseia na inteligência, nas armas utilizadas e o nível de expertise necessário para a operação;, acrescentou. Ele advertiu que Washington ;defenderá suas forças e seus interesses e ficará do lado dos aliados para proteger o comércio global e a estabilidade regional;. Os EUA mantêm na região USS Abraham Lincoln ; o porta-aviões transporta 44 caças F-18 Super Hornets.

Provas
Tripulantes do destroier USS Bainbridge, que também estava na área, relataram ter visto uma mina limpet não detonada acoplada a um dos petroleiros. Ontem à noite, os Estados Unidos revelaram que obtiveram fotos e vídeos que mostram uma embarcação da Marinha iraniana removendo uma mina do casco do Kokura Courageous, o que reforçaria as suspeitas sobre o Irã.

O Comando Central dos EUA avisou que nenhuma interferência a este navio de guerra será tolerada, em resposta à presença de vários pequenos barcos iranianos na região. O Irã informou que sua Marinha resgatou 44 ocupantes dos dois navios, após um ;incêndio;, e associou o ;acidente; à presença de Shinzo Abe em Teerã. As explosões no Front Altair ocorreram às 8h50 (1h20 em Brasília), a 25 milhas náuticas (cerca de 46km) de Bandar-e-Jask, cidade no sul do Irã. Uma hora depois, o incidente com o Kokuka Courageos se deu a 28 milhas náuticas (51km) da mesma localidade. O primeiro pedido de socorro foi recebido pela 5; Frota americana.

Segundo a imprensa estatal iraniana, ;quando o Front Altair pegou fogo, os 23 tripulantes pularam na água, foram resgatados por um barco próximo e entregues a uma unidade de resgate iraniana;. Os 21 homens do Kokuka Courageos também teriam sido salvos pelo Irã. ;Os ataques relatados aos petroleiros ligados ao Japão aconteceram quando o premiê (Shinzo Abe) se reunia com o aiatolá (Ali Khamenei) para conversas amigáveis e extensas. Dizer que é suspeito não é suficiente para descrever o que provavelmente ocorreu nesta manhã;, afirmou o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif. Em 12 de maio passado, dois petroleiros sauditas e um norueguês, além de um cargueiro dos Emirados Árabes Unidos, tinham sido alvos de sabotagem, na costa do emirado de Fuyaira. Na ocasião, as suspeitas recaíram sobre o Irã.

Escalada

Chefe de Segurança Marítima do Baltic and International Maritime Council (Bimco) ; organização privada baseada em Copenhague que controla 65% da frota mundial de navios mercantes ;, Jakob P. Larsen disse ao Correio que aguarda os relatórios da investigação fundamentados em evidências. ;No entanto, estou inclinado em acreditar que provavelmente o Irã provocou esses ataques. Desde a retirada dos EUA do pacto nuclear e do reforço das sanções, Teerã tem mostrado dificuldades para enviar uma clara mensagem a Washington. O Irã exauriu o vocabulário de ameaças verbais contra os americanos e os israelenses.; De acordo com ele, os ataques de 12 de maio foram interpretados como um primeiro sinal de que Teerã escalaria o conflito. ;A competição internacional entre as forças armadas regulares iranianas e a Guarda Revolucionária Islâmica pode desempenhar um papel nesse contexto.;

Durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador interino dos EUA, Jonathan Cohen, chamou os ataques de ;inaceitáveis; e denunciou uma tentativa do Irã de desestabilizar o Oriente Médio. Ele pediu ao organismo que enfrente a ;clara ameaça representada para a paz e a segurança internacionais;.

Preço do petróleo dispara
Os preços do petróleo se recuperavam ontem depois de ataques contra dois navios-tanque no Golfo de Omã. Em meio ao temor de um conflito nesta região crucial para o mercado petroleiro, WTI para entrega em julho subiu US$ 1,14 e fechou em US$ 52,28 o barril, na Bolsa de Valores de Nova York. Em Londres, o Brent para agosto subiu US$ 1,33 (2,2%). Pouco antes do fechamento, estava cotado a US$ 61,30. As tensões entre a Arábia Saudita, primeiro exportador mundial, e o Irã, outro peso-pesado do petróleo, também vêm mantendo o mercado nervoso.


Sem diálogo com Trump
O aiatolá Ali Khamenei (D) ; guia supremo iraniano ; descartou, categoricamente, qualquer tipo de discussão com o presidente norte-americano, Donald Trump, ao receber o premiê do Japão, Shinzo Abe (E). ;Não duvidamos da sua boa vontade, nem da sua seriedade, mas, sobre o que você me disse que o presidente americano falou, considero que Trump não merece que alguém troque mensagens com ele;, disse Khamenei ao visitante. ;Não tenho resposta para ele e não vou respondê-lo;, acrescentou a máxima autoridade do Irã.

;A avaliação dos Estados Unidos é a de que a República Islâmica do Irã é responsável pelos ataques;

Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano

Duas perguntas para
Jakob P. Larsen, chefe de segurança Marítima da Baltic and International Maritime Council (Bimco), organização privada
baseada em Copenhague que controla 65% da frota mundial de navios mercantes

O senhor acredita que o incidente no Golfo de Omã tem o potencial de deflagrar um conflito militar no Oriente Médio?

A situação atual atingiu o ponto mais alto de tensão, o qual antecede a um conflito armado. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, apontou os iranianos como culpados. A questão é: ;O que os Estados Unidos podem fazer agora sem perderem o respeito dos outros?;. Eu temo que vejamos algum tipo de resposta militar. Se isso ocorrer, podemos apenas supor quão rápida e seriamente a situação pode se desdobrar.

Como a comunidade internacional deve responder para conter esse risco?
A comunidade internacional deveria exigir a moderação de ambos os lados, seguida de conversas diplomáticas. Isso porque é difícil ver o que um conflito armado pode alcançar e qual será o estado final dele. Sei que a comunidade marítima internacional espera que as tensões diminuam, pois um confronto bélico nesta parte do mundo é a última coisa de que o transporte marítimo necessita. Tal conflito faria com que os preços subissem ainda mais. O crescimento econômico desaceleraria, a produção cairia e, com isso, o volume de comércio marítimo também sofreria uma baixa. Em meio a uma guerra comercial EUA-China, uma nova desaceleração da economia global é a última coisa que desejamos. (RC)

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