A primeira rodada de votação entre a bancada do Partido Conservador no parlamento britânico confirmou o favoritismo inicial do ex-chanceler Boris Johnson para suceder a premiê demissionária como líder da legenda ; e, por extensão, chefe de governo. Entre os 10 concorrentes, Johnson, ex-prefeito de Londres e adversário frontal de May, disparou com o apoio de 114 dos 313 votantes, seguido de longe pelo atual ministro de Relações Exteriores, Jeremy Hunt, que teve 43 votos. A ex-líder do governo na Câmara dos Comuns, Andrea Leadsom, a ex-ministra do Trabalho Esther McVey e o ex-líder de bancada Mark Harper ficaram abaixo de 17 votos e foram excluídos da disputa, que seguirá com nova votação na semana que vem entre os sete remanescentes.
;Estou feliz, mas resta um longo caminho a percorrer;, afirmou Johnson, 54 anos, ao agradecer o resultado inicial, consciente de que a vantagem conseguida terá de ser ampliada nas próximas rodadas de votação secreta entre a bancada ; a próxima prevista para a semana que vem. ;Boris se saiu muito bem hoje, mas o resultado mostra que, quando passarmos à fase da decisão entre os membros do partido, sou eu quem pode enfrentá-lo;, comentou Hunt, inclinado a lutar pelos 30 votos dados aos três candidatos eliminados. Hunt tem como adversário mais imediato o ministro do Meio Ambiente, Michael Gove, apoiado por 37 deputados.
O tema central da disputa, que provocou a demissão de May, é a conclusão do processo pelo qual o Reino Unido deixará a União Europeia (UE). Entusiasta do Brexit desde o referendo que aprovou a separação, em junho de 2016, Johnson defende que o ;divórcio; se efetive na data prevista, 31 de outubro, ainda que o país não consiga aprovar um acordo com o bloco sobre os termos da separação e os parâmetros para a futura relação. O ex-chanceler propõe que Londres suspenda o pagamento, acertado por May, de 39 bilhões de libras a título de cumprimento dos compromissos com o orçamento da UE nos próximos anos.
;Enfrentamos uma eleição crucial: quem conseguirá negociar opções melhores do que as ruins que já temos?;, questionou Hunt, empenhado em diferenciar-se do rival no tema crucial do Brexit. ;Poucas vezes, esteve em jogo algo mais importante do que isso para o nosso país. É um momento sério que requer um líder sério;, afirmou. Enquanto o atual chanceler enfatiza a opção por uma solução negociada para o impasse com a UE, o favorito suaviza a retórica e sustenta que a ;opção; de sair sem acordo deve ser vista como ;último recurso; e como mecanismo para fortalecer a posição do país nas negociações.
A preferência pelo ;Brexit duro;, como é chamada a saída sem acordo, perdeu ontem as duas principais defensoras. Os dois candidatos em melhor posição para enfrentar Johnson nas próximas rodadas acenam com a ideia de negociar com Bruxelas um novo adiamento da separação, caso não seja possível aprovar um acordo em tempo para efetivar a saída do bloco até 31 de outubro. À espera de uma definição da sucessão em Londres, os dirigentes da UE mantêm por ora a posição de que os termos negociados com o governo de May não estão sujeitos a renegociação, e caberá ao novo premiê conseguir em tempo a aprovação da proposta no parlamento.
Os parlamentares conservadores farão novas rodadas de votação, nas próximas semanas, até que restem dois candidatos à liderança. Os nomes serão, por fim, submetidos à votação entre os 160 mil filiados do Partido Conservador, entre meados e fim de julho. O nome do futuro premiê deverá ser conhecido até a última semana do mês que vem.
;Boris se saiu muito bem hoje, mas quando passarmos à fase da decisão entre os membros do partido, sou eu quem pode enfrentá-lo;
Jeremy Hunt, ministro das Relações Exteriores e rival de Johnson
Seis rivais no caminho de Johnson
Jeremy Hunt
Atual chanceler, 52 anos, defendeu a permanência do país na UE no referendo de 2016, mas mudou de opinião durante as negociações sobre o Brexit, decepcionado com a ;arrogância; dos dirigentes de Bruxelas nas negociações. Ex-empresário, tem na bagagem o prestígio conquistado ao longo de seis anos em que saneou o Serviço Nacional de Saúde (NHS), que atravessava uma profunda crise.
Michael Gove
Ministro do Meio Ambiente e inimigo jurado dos plásticos descartáveis, foi um dos mais ferrenhos defensores do Brexit no gabinete de Theresa May e foi o ;braço direito; de Boris Johnson na campanha para o referendo de 2016. Hoje com 51 anos, foi um dos mais ferrenhos defensores do Brexit dentro do governo de May, mas acena com o pedido de novo adiamento do prazo.
Dominic Raab
Advogado especializado em direito internacional, 45 anos, é outro partidário fervoroso da saída do país da UE e foi brevemente ministro para o Brexit, entre julho e novembro de 2018. Deixou o cargo por não concordar com o acordo negociado por May com a UE. Está entre as figurass mais conhecidas da ;jovem guarda; conservadora.
Sajid Javid
Ex-banqueiro e filho de um motorista de ônibus paquistanês, o ministro do Interior tem 49 anos e representa, no Partido Conservador, a face de um Reino Unido moderno e multicultural. Pronunciou-se contra o Brexit na campanha para o referendo de 2016, mas, desde então, defende posições contrárias ao bloco europeu.
Matt Hancock
Ex-economista do Banco de Inglaterra, 40 anos, o ministro da Saúde é uma das estrelas ascendentes do Partido Conservador. Foi contrário ao Brexit no referendo de 2016, mas mudou de posição e passou a defender com ênfase o acordo fechado por May com a UE.
Rory Stewart
O ministro de Desenvolvimento Internacional tem 46 anos e é ex-funcionário do Ministério das Relações Exteriores. Serviu no Iraque como governador adjunto da coalizão, após a invasão americana, em 2003, e cruzou o Afeganistão durante um mês, em 2002. Perfila-se na disputa como adversário frontal do Brexit sem acordo.