Os ativistas contrários ao polêmico projeto de lei de extradição de réus para a China não pretendem dar trégua aos legisladores e autoridades de Hong Kong. No dia seguinte aos violentos confrontos registrados entre forças de segurança e manifestantes, organizadores dos protestos convocaram uma nova marcha para o próximo domingo e uma greve geral para segunda-feira.
A mobilização estabelece uma nova linha de enfrentamento ao governo local, que se nega a retirar de pauta a votação da proposta, com o firme apoio de Pequim. O movimento, por sua vez, conquistou o respaldo de legisladores dos Estados Unidos.
Ontem, um grupo de parlamentares norte-americanos, dos partidos Republicano e Democrata, apresentou um projeto de lei que busca reafirmar ;o compromisso dos Estados Unidos a favor da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito; em Hong Kong e contra o que consideram um ;ataque; à autonomia parcial da ex-colônia britânica por parte de Pequim.
Batizada de ;lei sobre os direitos humanos e a democracia em Hong Kong;, a proposta foi apresentada nas duas câmaras do Congresso norte-americano. Ainda não foi marcada uma data para a votação do projeto. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por sua vez, tem adotado cautela ao falar sobre o assunto. Na quarta-feira, ele disse estar certo de que a China e Hong Kong serão capazes de chegar a uma solução.
Temor
Os manifestantes de Hong Kong temem que a lei da extradição abra caminho para a perseguição dos opositores políticos. A proposta seria analisada em segunda leitura anteontem, pelo Conselho Legislativo (LegCo, Parlamento), mas a sessão acabou adiada em razão da gigantesca mobilização, que terminou em confronto.
Segundo analistas, foi o maior episódio de violência entre forças de segurança e manifestantes desde 1997, quando Hong Kong, então colônia britânica, foi devolvida à China. De acordo com as autoridades, 22 pessoas ficaram feridas, entre policiais e manifestantes, na dispersão caótica do evento.
Milhares de pessoas, a maioria jovens, vestidas de preto, lotaram as ruas de Hong Kong para pressionar as parlamentares a tirar o projeto de lei da pauta. O enfrentamento se deu quando a marcha se aproximou da sede do Conselho Legislativo. Diante da situação, o parlamento, dominado por deputados favoráveis ao governo de Pequim, anunciou o adiamento do debate por tempo indeterminado.
Até o próximo domingo, os manifestantes prometeram seguir com as passeatas. Ontem foram registrados alguns protestos esporádicos, inclusive com violência, mas com um número bem menor de pessoas. ;Vamos lutar até o fim com a população de Hong Kong;, afirmou Jimmy Sham, da Frente Civil de Direitos Humanos (CHRF, na sigla em inglês), o principal grupo de protesto, antes de indicar que solicitou permissão para organizar o ato no fim de semana. O governo chinês voltou a denunciar como ;distúrbios; os protestos da véspera. ;Não foi uma manifestação pacífica, e sim distúrbios organizados;, afirmou o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang.