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Funeral-relâmpago para Morsy

postado em 19/06/2019 04:17
O caixão com o corpo do ex-presidente sob os cuidados de parentes: jornalistas impedidos de registrar o enterro


Um enterro rápido e discreto, na presença apenas da família, marcou ontem a despedida de Mohammed Morsy, o primeiro presidente eleito democraticamente no Egito. A cerimônia não inibiu, porém, os pedidos por uma apuração rigorosa sobre as causas da morte do líder islamista, que desmaiou durante uma audiência em um tribunal do Cairo, na véspera.

A ONU pediu uma averiguação ;minuciosa e independente; sobre a morte do ex-presidente, que tinhas 67 anos e vinha de passar os seis anos anteriores como preso político. ;Toda morte repentina na prisão deve ser seguida de investigação rápida, imparcial, minuciosa e transparente por um órgão independente, para esclarecer a razão do falecimento;, declarou o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Rupert Colville. ;É preciso verificar se as condições de detenção tiveram impacto na morte.;

Morsy foi sepultado em Medinat Nasr, um bairro da capital egípcia, ;na presença da família, e as orações fúnebres foram proferidas no hospital da prisão de Tora;, para onde o ex-presidente foi levado após desmaiar no tribunal, disse o advogado Abdelmoneim Abdel Maksud. Ele explicou que parentes lavaram o corpo e rezaram os últimos ritos no Hospital Leeman Tora.

Apenas 10 familiares e pessoas muito próximas assistiram à cerimônia. Jornalistas foram impedidos de entrar no cemitério, que fica na mesma área onde ocorreu o maior massacre da história moderna do Egito ; a repressão, em agosto de 2013, de um protesto islamista na Praça Rabaa, semanas depois da destituição de Morsy pelo Exército. Mais de 800 pessoas morreram em um só dia.

A imprensa local mencionou o tema de forma mínima. Alguns jornais não noticiavam sequer que se tratava do chefe de Estado egípcio entre junho de 2012 e julho de 2013. Em um país onde a oposição é brutalmente reprimida, pouca gente comentava abertamente a morte do ex-presidente.

A seção jordaniana da Irmandade Muçulmana, o partido de Morsy, organizou uma cerimônia em sua sede, Amã, onde foi exibido um grande retrato do ex-governante egípcio. Na Turquia, onde o governo apoia a Irmandade, milhares de pessoas participaram em Istambul de uma oração coletiva. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi visto entre outros fiéis em um ato fúnebre na histórica mesquita de Fatih. Erdogan, aliado de Morsy, classificou-o como um ;mártir; e responsabilizou pela morte ;os tiranos no poder; no Egito.

Primeiro chefe de Estado eleito democraticamente na história milenar do país ; e o único, até o momento ;, em 2012, Morsy foi deposto pelos militares cerca de um ano depois e substituído pelo general Abdel Fatah al-Sisi. Em 2014 e 2018, o militar, formado sob a ditadura de três décadas do colega Hosni Mubarak, foi eleito ; sem concorrentes ; com pouco menos de 100% dos votos.

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