postado em 20/06/2019 04:17
O jornalista saudita Jamal Khashoggi, colunista do The Washington Post, foi vítima de uma execução premeditada e extrajudicial, pela qual a Arábia Saudita é a responsável. As conclusões são de um documento divulgado ontem por Agnes Callamard, relatora especial da Organização das Nações Unidas para assassinatos extrajudiciais, sumários ou arbitrários. ;Esta investigação demonstrou que há provas suficientes sobre a responsabilidade do príncipe herdeiro (Mohamed bin Salman) que justificam uma investigação suplementar;, afirmou a autora, no texto elaborado após seis meses de inquérito. O relatório lança luz sobre o que ocorreu no interior do consulado da Arábia Saudita em Istambul, em 2 de outubro passado, quando Khashoggi foi visto pela última vez com vida. O dossiê também expõe a transcrição de uma gravação, feita pelos serviços de inteligência turca, em que se revelam os diálogos antes e durante o assassinato e o esquartejamento do jornalista (veja o quadro). O corpo do colunista jamais foi encontrado.
De acordo com Callamard, a execução de Khashoggi foi ;resultado de um planejamento elaborado envolvendo extensiva coordenação e importantes recursos financeiros e humanos;. ;Foi (um crime) supervisionado, planejado e endossado por funcionários de alto nível; foi premeditado;, sustentou. A Turquia avalizou ;com força; as conclusões do documento, desqualificado pela Casa de Saud, a sede da monarquia saudita. ;Não tem nada de novo. O relatório repete o que já se disse e o que foi ;vendido; pelos meios de comunicação;, tuitou o vice-ministro das Relações Exteriores, Adel Al-Jubeir, ao apontar ;contradições e acusações infundadas, que colocam a credibilidade do inquérito independente em xeque;.
Além de citar as ;evidências críveis; de envolvimento de Mohamed bin Salman (MBS), o relatório de Callamard recomenda sanções contra Riad. ;O assassinato do senhor Khashoggi constitui crime internacional, sobre o qual os Estados deveriam clamar jurisdição universal. Eu apelo a esses Estados a tomarem as medidas necessárias para estabelecer sua competência a fim de exercer jurisdição, sob o direito internacional, sobre este crime de execução judicial;, escreveu a relatora. ;Levando em consideração as provas verificáveis sobre as responsabilidades do príncipe herdeiro em seu assassinato, estas sanções também deveriam incluir o príncipe herdeiro e seus bens pessoais no exterior.;
Controle total
Pesquisadora da Organização Europeia pelos Direitos Humanos na Arábia Saudita, Duaa Dhiny disse ao Correio não descartar uma ação direta do príncipe MBS na morte de Khashoggi. ;Qualquer um sabe na Arábia Saudita que todos os organismos e autoridades estão diretamente ligados ao rei e ao herdeiro. É improvável que um assassinato dentro do consulado saudita tenha ocorrido sem as ordens ou o mínimo conhecimento do príncipe;, opinou. ;Se a comunidade internacional deseja responsabilizar os autores desse crime, ela deve começar pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU, do qual a Arábia Saudita faz parte; depois, precisa atacar negócios culturais e econômicos firmados com o governo de Riad.; Ela citou o Canadá como exemplo de país a se levantar contra as violações dos direitos humanos por parte da Arábia Saudita.
Para Dhiny, o assassinato de Khashoggi é a face mais clara das violações cometidas por Riad. ;A punição de dissidentes e de formadores de opinião na Arábia Saudita ocorre de várias formas. Há dois meses, uma execução em massa envolveu crianças e jovens, alguns deles acusados de participarem de protestos. Antes disso, o xeque Nimr Al-Nimr foi executado por ordem da Corte devido a suas posições de oposição. Clérigos reformistas também enfrentam o risco de execução.;
Tallha Abdulrazaq, especialista em Oriente Médio pelo Instituto de Segurança e Estratégia da Universidade de Exeter (Reino Unido), disse não ter dúvidas de que Khashoggi foi assassinado por agentes sauditas. ;Há uma clara ligação entre os mais altos conselheiros de MBS e os assassinos. Em um Estado autoritário, onde o controle se revela muito centralizado, é completamente implausível que o príncípe herdeiro não tivesse ideia do que esses agentes faziam;, afirmou ao Correio. Ele acredita que sanções não seriam consideradas palatáveis pelo Ocidente, principalmente pela ;enorme quantidade de dinheiro saudita e de acordos envolvendo armas e equipamentos;. ;Por motivos pragmáticos, nenhuma penalidade será aplicada;, previu. Abdulrazaq sublinha que, desde a ascensão de MBS ao poder, existe uma tendência sem precedentes do uso de força e de violência.
"Esta investigação demonstrou que há provas suficientes sobre a responsabilidade do príncipe herdeiro que justificam uma investigação suplementar;
Agn;s Callamard, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para execuções extrajudiciais
TUITADAS
;Jamal Khashoggi era o meu noivo. Os assassinos dele estão em liberdade;
Hatice Cengiz, noiva do jornalista saudita, que o aguardava na porta do consulado