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Nas mãos do aiatolá

O regime iraniano, comandado por Ali Khamenei (foto), amplia a interferência por toda a área, com operações militares pontuais e intervenções ideológicas em vários países. Política externa de Teerã coloca em xeque os interesses dos Estados Unidos e de Israel

postado em 23/06/2019 04:17
Moradores da capital iraniana queimam a bandeira americana: aversão histórica


A maioria dos árabes e muçulmanos o vê como sinônimo de libertação da tirania e de coragem. Os Estados Unidos e boa parte do Ocidente o enxergam como um fator de instabilidade e de influência nociva sobre uma região historicamente conturbada. Sob controle absoluto do aiatolá Ali Khamenei, líder espiritual e comandante supremo, o Irã tem ampliado o espectro de sua influência sobre todo o Oriente Médio, com ações diretas ou indiretas, nos âmbitos militar, político e ideológico. As recentes sabotagens de petroleiros na estratégica região do Estreito de Ormuz ; única ligação entre o Golfo Pérsico e o resto do mundo ; e a derrubada de um drone norte-americano fortaleceram a posição de Khamenei e a imagem de Teerã entre os aliados (Leia mais na página 13). A campanha pela libertação da Palestina confere legitimidade ao discurso do chefe máximo do Irã, muitas vezes calcado em tom agressivo. ;Vocês, jovens, devem ter certeza de que vão testemunhar a morte dos inimigos da humanidade, ou seja, da degenerada civilização americana, e a morte de Israel;, profetizou, durante reunião com estudantes, em maio.

Ali Mourad, pesquisador libanês especialista em assuntos do Golfo Pérsico, avaliou como ;óbvia; a interferência regional do Irã, um fenômeno retratado pelos Estados Unidos, por Israel, pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos como negativo e ofensivo aos seus interesses nacionais. ;A influência iraniana está alinhada a escolhas dos povos da região. Teerã está formando políticas regionais que levem em conta os temas da opinião pública, não dos governos. Este é o ponto fulcral que possibilita ao Irã ganhar tempo na expansão de sua geopolítica, ao contrário de governos que se moldam pelo alinhamento com os EUA;, explicou ao Correio. Para Mourad, o objetivo final de Teerã no Oriente Médio é a expulsão dos norte-americanos do oeste asiático. ;O líder supremo declarou isso por mais de uma vez e essa meta está na agenda que move o comportamento regional iraniano. Essa também é uma ambição dos povos árabes e muçulmanos.;

O especialista lembra que o papel do Irã no Oriente Médio é visto como positivo por boa parte da população. ;No Líbano, os iranianos apoiaram o Hezbollah, que conseguiu liberar suas terras do jugo de Israel. Na Síria e no Iraque, retomaram as terras das mãos dos terroristas do Estado Islâmico. No Iêmen, ajudam os rebeldes xiitas houthis a minarem a hegemonia da Arábia Saudita sobre o país;, disse Mourad.



Extremismo

Por sua vez, Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, afirmou que o Irã tem se envolvido com, e continua a apoiar, extremistas em toda a região, incluindo a milícia xiita libanesa Hezbollah, o movimento palestino Hamas e grupos jihadistas. ;Enquanto isso, Teerã avaliza elementos de grupos terroristas. As ações do Irã a esse respeito ajudam, certamente, para a desestabilização da região. Elas têm contribuído dramaticamente para a tensão geral e a hostilidade entre o Irã e vizinhos.;

Ali Vaez, diretor do Projeto Irã do instituto International Crisis Group (em Washington), compara o Irã ao Brasil em termos de importância geopolítica. ;É um dos maiores e mais populosos países do Oriente Médio. Assim como o Brasil, é normal que uma nação como o Irã goze de influência sobre a vizinhança. Embora a dominação iraniana no Oriente Médio não seja aceitável por muitos, a exclusão do país é inimaginável.; Ele acusa os EUA de destruírem o balanço de poder na região, após a invasão ao Iraque, em 2003. ;Isso levou ao empoderamento iraniano. A crise de hoje tem raízes nesse tropeço estratégico.; Vaez crê que, nas últimas três décadas, Irã e EUA nunca estiveram tão próximos de uma guerra capaz de se transformar em conflagração regional. ;É o resultado previsível da estratégia de máxima pressão exercida pela Casa Branca, que tornou o Irã mais beligerante.;

De acordo com Ali Mourad, a morte do presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser (1918-1970), fez com que o movimento nacionalista ruísse, abrindo espaço para a dominação dos EUA. Com a Revolução Iraniana ; e a ascensão do aiatolá Ruhollah Khomeini ;, a frustração dos árabes ante uma aliança do Cairo com Israel deu lugar à esperança. ;Khomeini expulsou os israelenses de Teerã e avisou que a embaixada de Israel seria dos palestinos. O líder palestino, Yasser Arafat, foi a Teerã e recebeu as chaves da representação. Os líderes árabes abandonaram, gradualmente, o tema palestino, após Arafat assinar os Acordos de Oslo. Mas, a posição iraniana sobre o tema nunca mudou. Por isso, Teerã ganha influência;, disse o pesquisador. Ele explicou que a Guarda Revolucionária ; exército ideológico do regime ; foi o meio usado para angariar a simpatia dos árabes, ao resistir à presença americana no Iraque e ao combater o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. ;Os cidadãos comuns do Oriente Médio creem que o Irã as ajudou a lutarem por causas justas;, concluiu Mourad.


"Vocês, jovens, devem ter certeza de que vão testemunhar
a morte dos inimigos da humanidade, ou seja, da degenerada
civilização americana, e a morte de Israel;

Aiatolá Ali Khamenei,
durante reunião com estudantes, em maio passado


Pontos de vista

Por Alon Ben-Meir

Limites reconhecidos
;Não há dúvidas de que o Irã surge como o principal ator no Oriente Médio. Isso é percebido pelos próprios países do Golfo Pérsico, bem como por Israel, como uma ameaça regional. O Irã reconhece os seus limites e é improvável que provoque o Estado judeu ou outras nações da região, pois isso poderia convidar os Estados Unidos a iniciarem hostilidades contra Teerã. Washington também firmou o compromisso de proteger os seus aliados no Oriente Médio.;

Professor de relações internacionais da Universidade
de Nova York e especialista em Oriente Médio


Por Ali Vaez

Preocupações legítimas
;O Irã precisou recorrer a aliados e a parceiros regionais para deter ataques direto ao seu território. Isso por não ser capaz de se defender de forma apropriada, depois de anos de isolamento e de privação da capacidade de renovar o seu arsenal, o qual remonta ao tempo do xá Mohammed Reza Pahlevi. A não compreensão de que o Irã tem preocupações legítimas de segurança é uma fórmula que somente aprofunda as tensões na região.;

Diretor do Projeto Irã do International
Crisis Group (ICG), em Washington


Por Ali Mourad

Superpotência desafiada
;Os mais recentes capítulos da crise entre Irã e os Estados Unidos, com a derrubada do drone, fizeram emergir um cenário claro. O Irã está ganhando mais influência e importância no Oriente Médio. O aiatolá Ali Khamenei é visto como um ator decisivo em todo o Oriente Médio quando confronta a superpotência mundial.;

Pesquisador freelancer libanês
especialista em
assuntos do Golfo Pérsico

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