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'Estamos vendo nascer o Tea Party democrata', diz sociólogo americano

Agência Estado
postado em 23/06/2019 12:06
As primárias do Partido Democrata terão o maior número de candidatos em 40 anos, com pelo menos 24 nomes confirmados. Entre líderes históricos, como Joe Biden, Elizabeth Warren e Bernie Sanders, há também novatos, como o prefeito Pete Buttigieg e Beto O'Rourke. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o historiador Geoffrey Kabaservice diz que o número de concorrentes é alto porque há chance real de vitória contra Donald Trump. O que vai definir as primárias democratas? A grande novidade é a ascensão de um movimento coeso e forte de uma esquerda mais radical, ligada a políticas identitárias e ao conceito de justiça social. Esse movimento se consolidou, inclusive com a criação de uma espécie de comitê central para fomentar candidaturas de jovens contrários ao establishment do partido. Foi o caso da eleição de Alexandria Ocasio-Cortez? Exatamente. AOC (como é chamada nos EUA) se tornou o rosto deste movimento. Mas não se restringe a ela. Grupos como o Democratas pela Justiça e o Nossa Revolução, que são escritórios políticos de eleitores jovens e inspirados por Sanders, reúnem diversos pequenos doadores. Eles querem não apenas candidatos progressistas, mas jovens, com diversidade e oriundos da classe trabalhadora, em vez de políticos típicos. Como este movimento vai afetar a corrida democrata? Eles são barulhentos. Sabem usar as redes sociais e defendem políticas públicas que beiram o populismo. Assim como o Tea Party, no Partido Republicano, eles forçarão os candidatos centristas a modular o discurso para agradar esses eleitores radicais. Isso pode afetar o candidato na eleição nacional. Mas Trump venceu com um discurso agressivo, não? Claro, mas o discurso agradava à maioria dos eleitores por suas promessas econômicas teve efeito em Estados afetados pela desindustrialização e imigração. No caso dos democratas, há pautas que agradam muitos eleitores, como o combate à desigualdade, mas há temas espinhosos, como aborto, igualdade de gêneros e políticas identitárias. Estamos vendo uma virada à esquerda dos democratas. A dúvida é se esse movimento terá o caráter do Tea Party, com rigidez ideológica e incapacidade de negociar, ou se será pragmático. É possível um radical vencer? Não acho que seja o caso. Como republicano, espero que não. Esse discurso tóxico faz mal para a política americana. Esse a vai ser o foco de Trump: o Partido Democrata está tomado por "socialistas" e os americanos precisam repelir o "perigo comunista". Pode dar certo? Acho difícil. Nas eleições de meio de mandato, quase todos os democratas que derrotaram republicanos moderados eram também moderados. Poucos apoiam a agenda socialista de Sanders. E o fato de Biden liderar as pesquisas é sinal de que ele é um nome que ainda une o partido. Em longo prazo, esse movimento pode ter êxito? O Tea Party empurrou os republicanos para o populismo e derrubou a antiga liderança do partido, mas não atingiu muitos dos seus objetivos, como a diminuição do Estado e a destruição do Obamacare. A radicalização ocorreu, mas não se consolidou. Tende a acontecer o mesmo no Partido Democrata. Quem será o candidato democrata? Se tivesse que apostar, colocaria minhas fichas em Biden ou Elizabeth Warren. Se alguém corre por fora é Kamala Harris, que tem carisma e ótimo discurso. Fora desses, não apostaria em ninguém. E o embate contra Trump? Há chance real de um candidato democrata ganhar. Não é à toa que há mais de 20 concorrendo, o maior número da história do partido. Trump não tem boa avaliação e há Estados republicanos mais esparsamente povoados do que os democratas, urbanizados. O domínio conservador nas áreas rurais e nas pequenas cidades ajudou o Partido Republicano a manter sua maioria no Senado, mas os conservadores representam pouco mais de um terço da população - um pouco menos que os 40% que aprovam Trump. Um republicano só pode vencer se ganhar em um número crítico de distritos suburbanos onde vivem os eleitores ricos, com nível universitário e moderados. Esses eleitores - particularmente mulheres - ficaram tão insultados com Trump que se voltaram contra seu partido na eleição de meio de mandato. Isso pode acontecer de novo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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