postado em 29/06/2019 04:15
Sob o impacto da imagem chocante de um migrante salvadorenho e da filha, mortos na tentativa de cruzar o Rio Grande para cruzar a fronteira entre o México e os Estados Unidos, uma agência das Nações Unidas divulgou ontem um cálculo segundo o qual, nos últimos anos, uma criança morreu praticamente a cada dia na tentativa de se deslocar para um local seguro. De acordo com a Organização Internacional de Migrações (OIM), desde 2014, quando os dados sobre o tema começaram a ser sistematizados, as jornadas de risco em busca de abrigo causaram 32 mil vítimas em todo o mundo, entre elas ao menos 1.600 menores.
;As crianças estão morrendo em todas as regiões do mundo. Elas não estão cientes do que está acontecendo e enfrentam riscos terríveis;, lamentou Frank Laczko, chefe do centro de análise de dados da OIM. O Alto Comisariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) contabiliza uma população de 70 milhões de pessoas deslocadas do local onde viviam por força de conflitos armados, perseguição política ou étnico-religiosa, violência relacionada ao crime e miséria ; ou, em boa parte dos casos, pela combinação de dois ou mais entre esses fatores. Os menores são a maioria nesse contingente.
A foto do salvadorenho Óscar Alberto Martínez, 25 anos, com a filha Angie, que não chegou a completar 2, correu o mundo nas redes sociais, dominou o noticiário da mídia internacional e suscitou comparações com a crise dos refugiados no Mediterrâneo, em 2015. Em meio à fuga em massa de centenas de milhares de sírios castigados pela guerra civil, foi encontrado em uma praia da Turquia o corpo do menino Alan Kurdi, 3, afogado em um naufrágio.
A onda de migração do Oriente Médio e do norte da África colocou em alarme a União Europeia (UE), que negociou com o governo de Ancara o fechamento da rota para o continente via Grécia. A entrada em massa de estrangeiros estimulou o crescimento de forças de extrema-direita em vários países europeus e, desde então, decresceu o fluxo de migração no Mediterrâneo. Com isso, o número de mortes na tentativa da travessia caiu de 6.280, em 2017, para 4.734, no ano passado.
Nos EUA, onde o movimento de migrantes da América Central para a fronteira mexicana se acentuou na virada do ano, as autoridades de fronteira registraram mortes de estrangeiros em 2018. Organizações de defesa dos direitos humanos, porém, alertam que o número real de vítimas deve ser maior, já que o ambiente desértico dificulta que sejam encontrados os corpos de muitos dos que não resistem a difícil jornada rumo a estados como Texas, Arizona e Califórnia.
;Dreamers;
A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu ontem examinar decisões de instâncias judiciais inferiores que bloquearam a ofensiva do presidente Donald Trump para cancelar um programa que protege da deportação centenas de milhares de imigrantes, chamados de dreamers (;sonhadores;). A Ação Diferida para Chegadas na Infância (Daca, na sigla em inglês) contempla estrangeiros que entraram no país ilegalmente, quando crianças, com os pais. Lançado em 2012 pelo presidente democrata Barack Obama, o Daca tem inscritos 700 mil ;dreamers;, de um total estimado em até 1,8 milhão. A questão deve entrar na pauta da Suprema Corte no ano que vem, em plena campanha para a eleição presidencial.
1.600
Total aproximado de menores mortos no deslocamento forçado desde 2014, segundo a Organização
Mundial de Migrações