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Tensão marca aniversário

Mais de 550 mil pessoas protestam para lembrar os 22 anos da devolução do território para a China e exigem a revogação de projeto de lei sobre extradição. Ativistas invadem a sede do Parlamento. Chefe de governo denuncia violência

postado em 02/07/2019 04:22
Manifestantes usam carrinho de metal para romper a vidraça do Conselho Legislativo

Por um momento, o ativista holandês Gijs temeu ontem um massacre em Hong Kong, onde vive desde 2009. ;A situação por aqui é caótica, sem precedentes. Tenho medo pelo que possa ocorrer esta noite. Esta não é a Hong Kong que eu conheço. As pessoas estão intensamente nervosas, é uma batalha por tudo ou nada;, desabafou ao Correio, sob a condição de não ter o sobrenome divulgado. O 22; aniversário da devolução de Hong Kong para a China foi marcado, ontem, por protestos que contaram com a participação de mais de 550 mil pessoas e com a invasão ao prédio do Conselho Legislativo, órgão equivalente ao Parlamento. Com guarda-chuvas nas mãos ; um dos símbolos do movimento ;, os ativistas usaram um carrinho de metal para quebrar as vidraças e abrir passagem, na hora do almoço.

No plenário, os ativistas desafiaram Pequim, picharam o brasão do governo de Hong Kong e o cobriram com uma bandeira do Reino Unido. Em 1997, Londres entregou o controle do território a Pequim, mas a região ainda é administrada sob um acordo conhecido como ;um país, dois sistemas;. ;É surreal. Os ativistas não devem confiar nos americanos ou nos britânicos, mas precisam encontrar uma maneira melhor de controlar essa cidade, sem os fantoches de Pequim;, disse Gijs. Os manifestantes exigiram a renúncia imediata de Carrie Lam, chefe do Executivo, e a revogação de uma lei que permitirá a extradição de cidadãos para a China. Na madrugada de hoje, a polícia usou gás lacrimogêneo e retomou o controle do Parlamento.

;Nunca antes enfrentamos essa situação. A polícia foi definitivamente mais contida e recuou totalmente, quando o prédio foi invadido;, lembrou à reportagem o engenheiro de computação Declan McCarthy, 43 anos, que deixou as imediações do Conselho Legislativo minutos antes da ocupação. Questionado se teme uma reação desproporcional das forças de segurança, sob ordens da China, ele disse que a atenção da mídia internacional é um fator protetivo.


Declaração

Por volta das 4h de hoje (17h de ontem em Brasília), Carrie Lam convocou a imprensa e condenou a violência. ;Nada é mais importante do que o Estado de direito em Hong Kong;, desabafou, ao citar dois eventos ;completamente diferentes;. ;Um foi uma marcha pacífica e racional. A outra foi uma cena de transgressão da lei, chocante e comovente;, comentou. No entanto, ela não fez qualquer menção aos insistentes pedidos dos manifestantes para que abandone o poder.

;Provavelmente, o governo não quis usar a força em 1; de julho, aniversário da entrega de Hong Kong para Pequim. Talvez as autoridades temessem um novo massacre da Praça da Paz Celestial, Tanto que a polícia somente começou a limpar a área depois da zero hora de hoje;, disse ao Correio a cantora, atriz e ativista LGBTQ Denise Ho, que participou dos protestos. ;A situação toda foi muito estranha. De manhã, a polícia estava dentro do Parlamento. Por volta das 14h, simplesmente desapareceu. Quando os vidros do prédio foram estilhaçados, os policiais nada fizeram. As luzes do prédio foram apagadas, e as forças de segurança sumiram. Parece ter sido uma manobra deliberada do governo para incitar a invasão ao Conselho Legislativo e, depois, acusar os manifestantes de danos ao patrimônio.;


"Nada é mais importante do que o Estado de direito em Hong Kong;
Carrie Lam, chefe do governo de Hong Kong




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