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Buscas por criança brasileira nos EUA

Menina de 2 anos desapareceu dos braços da mãe durante travessia do Rio Grande, na fronteira do México, na noite de segunda-feira. Mergulhadores, sonares e minissubmarino portátil trabalham na operação de resgate. Itamaraty acompanha o caso

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 04/07/2019 04:19
Mergulhadores vasculham leito do Rio Grande, onde a correnteza é considerada perigosa: menina estava presa à mãe e envolta em uma manta


Noite de 1; de julho, segunda-feira. Quando foi abordada por homens da US Customs and Border Patrol (CBP) ; a agência dos Estados Unidos responsável pelas fronteiras ;, a mulher haitiana já estava em solo norte-americano. O sonho de uma vida nova terminou em dor e em pesadelo. Ela revelou aos agentes que a filha se perdera durante a travessia do Rio Grande. A menina, de 2 anos, tem nacionalidade brasileira.

Eduardo Javier Martínez Adán, subdiretor da Direção de Defesa Civil e dos Bombeiros de Ciudad Acuña (estado de Coahuila), contou ao Correio que as buscas foram encerradas ontem e disse ser impossível encontrar a criança com vida. ;O incidente ocorreu entre 21h30 e 22h de segunda-feira (entre 23h30 e meia-noite, em Brasília). Um grupo de 30 pessoas de diferentes nacionalidades tentou cruzar o rio, entre eles o casal de haitianos e a filha, nascida no Brasil. A mãe carregava a criança presa às costas por uma manta. A correnteza acabou por remover a manta e levou a criança;, relatou.

A reportagem falou com Eduardo por volta das 18h30 de ontem ; ele tinha acabado de deixar a área do Rio Grande, finalizando o segundo dia de buscas. A operação de resgate mobiliza 10 homens da CBP, seis bombeiros de Ciudad Acuña e cinco integrantes dos Grupos Beta, órgão de proteção aos ilegais mantido pelo México. ;Além de uma lancha dos Grupos Beta, utilizamos um helicóptero e dois aerobotes. O que sabemos sobre a menina é que ela vestia uma roupa vermelha. Esperamos resgatar o corpo nesta quinta-feira;, afirmou o subdiretor.

A equipe conta com mergulhadores e com um minissubmarino operado remotamente. No local da tragédia, o Rio Grande tem profundidades que variam de 10cm a 2m. ;Existe uma represa que abre as comportas à noite, o que o torna ainda mais perigoso;, acrescentou Eduardo.

;Sempre que uma criança se perde é um trágico evento. Não posso imaginar a angústia que os pais dessa garota devem estar sentindo. Eu espero que nossos esforços de buscar sejam recompensados com um resultado positivo;, declarou Raul L. Ortiz, chefe da patrulha da CBP no Setor Del Río (Texas). Nenhum dado adicional a respeito da criança ou da família foi divulgado. ;Nós mantemos uma campanha contínua para alertar contra os perigos de cruzar a fronteira ilegalmente;, informou a CBP.

Consultado pelo Correio, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) confirmou que acompanha o caso por meio do Consulado-Geral do Brasil em Houston. Em respeito à privacidade dos envolvidos, se recusou a fornecer informações adicionais. No último dia 24, no mesmo rio, a imagem dos corpos de pai e filha de 2 anos, salvadorenhos, chocou o mundo.

Tima Kurdi, tia de Alan Kurdi, o menino de 3 anos morto na travessia do Mediterrâneo, em 2015, lamentou o incidente com a brasileira. ;Essas pessoas estão fugindo da guerra ou da pobreza e têm direito a buscar asilo. Nós precisamos nos focar nas raízes dos motivos pelos quais inocentes fogem de casa. É tão triste que o mundo veja imagens de migrantes mortos e, ainda assim, fique em silêncio;, desabafou à reportagem.


Superlotação
O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) advertiu sobre os riscos provocados pela superlotação nos centros de detenção de imigrantes ilegais no Texas. ;Estamos preocupados com a superlotação e a permanência prolongada, que representam um risco imediato para a saúde e a segurança dos agentes e oficiais do DHS, assim como para os detidos;, destaca o documento.

Em maio, 144 mil pessoas foram detidas por agentes da CBP, mas não há espaço suficiente nos centros. Segundo o dossiê, crianças com menos de 7 anos desacompanhadas aguardam pela transferência por até duas semanas, quando deveriam ser entregues a responsáveis ou a agências governamentais em 72 horas. Entre as condições que violam os padrões do DHS, estão a falta de lavanderias, de chuveiros e de comidas quentes, além da impossibilidade de mudança de roupa.


Eu acho...

;Seja na fronteira entre Estados Unidos e México, seja no Oriente Médio, as pessoas que migram fogem de suas casas
por força das circunstâncias, não por escolha. O que ocorreu com essa garotinha brasileira é muito triste.
O mundo não é justo.;


Tima Kurdi, tia de Alan Kurdi, o menino de 2 anos que morreu na travessia do Mar Mediterrâneo


Símbolos da tragédia

Vítimas da imigração encontraram a morte pelo caminho e
se tornaram ícones da crise no Oriente Médio e na América do Norte:


Alan Kurdi, 2 anos


A foto do corpo inerte do menino curdo-sírio estendido na Praia de Bodrum, no sul da Turquia, comoveu o planeta. Aylan, o irmão Ghalib, 4 anos, e a mãe, Rehanna, morreram depois que um bote em que viajavam rumo à ilha grega de Kos virou no Mar Mediterrâneo, em 2 de setembro de 2015.


Óscar Ramírez, 25, e Valeria, 2

Pai e filha, migrantes de El Salvador, foram encontrados mortos no último dia 24. Durante a travessia do Rio Grande, na fronteira entre México e UA, Óscar viu a menina ser carregada pelas águas, tentou salvá-la, mas também acabou morrendo.

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