postado em 05/07/2019 04:21
O local escolhido não poderia ser mais simbólico: o Monumento a Abraham Lincoln, o presidente que, em plena Guerra Civil, apelou à unidade nacional, entre 1861 e 1865. O roteiro foi original e polêmico: pela primeira vez, um mandatário dos Estados Unidos transformou as celebrações do 4 de Julho, Dia da Independência, em um espetáculo midiático, político e autopromocional. Às 18h35 (19h35 em Brasília), enquanto a multidão voltava os celulares aos céus sobre o National Mall, em Washington DC, para fotografar o sobrevoo do Air Force One, o presidente Donald Trump se aproximava do púpito e começava um longo discurso, atrás de uma barreira de vidro blindado.
;Hoje, nós nos reunimos como uma nação com este (evento) muito especial ;Salute to America; (;Saudação à América;). Nós celebramos nossa história, nosso povo e os heróis que orgulhosamente defendem nossa bandeira ; os bravos homens e mulheres das Forças Armadas dos Estados Unidos;, declarou o republicano, diante de cerca de 800 militares e de tanques de guerra M1 Abrams.
Durante as pausas do pronunciamento, caças, drones (aviões não tripulados), helicópteros e o bombardeiro ;invisível; B2 Spirit sobrevoaram a capital norte-americana. O tom do discurso foi de celebração ao Exército, à Marinha e à Aeronáutica, homenageados de forma individual. ;Hoje, assim como 243 anos atrás, o futuro da liberdade americana repousa sobre os ombros de homens e mulheres dispostos a defendê-los. É hora de se juntar aos nossos militares e de fazer uma declaração verdadeiramente grande na vida, e você deveria fazê-la;, disse o presidente. ;Enquanto permanecermos fiéis à nossa causa, desde que nos lembremos de nossa grande história, (...) não haverá nada que a América não possa fazer.;
Richard Hanley, especialista em mídia e professor de jornalismo da Universidade Quinnipiac (em New England), afirmou ao Correio que Trump aproveitou o feriado secular mais importante dos EUA para obter ganho político pessoal. ;Ele transformou a data em plataforma para a candidatura à reeleição. Trump desejou ser a peça central da independência norte-americana, algo novo para a nação. A celebração em Washington sempre foi apartidária. No entanto, 2019 entrou para a história como o ano em que o 4 de Julho se tornou uma narrativa sobre poder político e presença pessoal;, explicou.
De acordo com Hanley, o discurso de Trump foi ;apartidário, em termos da recitação da história militar americana, pontuado artisticamente pelos sobrevoos;. Apesar de reconhecer que o pronunciamento não seguiu o modelo de indignação vista na campanha, o especialista crê que Trump alcançou seus amplos fins políticos. ;Ele elogiou as virtudes dos militares. Ao fazê-lo, se alinhou com os triunfos históricos das Forças Armadas, como a maioria dos presidentes o faria. O evento de hoje (ontem) foi produzido para alcançar sua base política e para polir suas credenciais patrióticas antes da campanha de 2020.;
Pontos de vista
Por Richard Hanley
Protagonismo
por completo
;Donald Trump é um político instintivo, que busca se inserir onde possa assegurar vantagem política e atrair imensa cobertura midiática. Ele se vê como o produtor, diretor e estrela da Presidência. O uso do Dia da Independência dos EUA se encaixa nesse padrão, que pode redefinir a Presidência do futuro.;
Especialista em mídia e professor de jornalismo da Universidade Quinnipiac (em New England)
Por James Naylor Green
Memórias de
algo inexistente
;Trump transformou o 4 de Julho em um evento para promover a própria reeleição. Ele distribuiu ingressos VIP para simpatizantes políticos e receberá fundos do National Park Service (Serviço Nacional de Parques). Ele proferiu um discurso que foi uma lembrança nostálgica de um passado não existente.;
Historiador da Brown University (em Rhode Island)