postado em 05/07/2019 04:21
A apreensão de um superpetroleiro iraniano suspeito de transportar petróleo para a Síria acrescentou ontem alguns graus de tensão nas relações entre o regime islâmico e a União Europeia (UE), em um período crítico para o futuro do acordo multilateral assinado em 2015 para conter o programa nuclear iraniano. O Grace 1, de 330m de comprimento e com bandeira panamenha, foi interceptado pela Marinha britânica ao largo do território de Gibraltar, sem disparos nem conflito. As autoridades de Teerã classificaram a medida como ;um ato de pirataria;, exigiram a pronta liberação e convocaram para explicações o embaixador britânico, Robert Macaire.
O petroleiro foi interceptado na madrugada de ontem, 4km ao sul do rochedo de Gibraltar, em uma zona utilizada pelas embarcações para carregar suprimentos, principalmente alimentos. Com apoio de fuzileiros navais, a polícia e agentes de alfândega abordaram o navio, que foi atracado na parte leste do território. Durante a tarde, a tripulação foi interrogada.
;Temos razões para acreditar que o Grace 1 transportava sua carga de petróleo bruto para a refinaria de Banias, na Síria, que pertence a uma entidade sujeita a sanções da UE;, explicou Fabian Picardo, chefe do governo de Gibraltar. O regime de Damasco é alvo de represálias econômicas do bloco europeu desde o início da guerra civil, em 2011. Além disso, os Estados Unidos ameaçam com sanções as empresas, os governos e as pessoas físicas que forneçam petróleo e derivados para o governo sírio.
Em Teerã, o regime islâmico reagiu convocando o embaixador britânico para explicar a ;apreensão ilegal; do petroleiro. Falando a uma emissora local de tevê, o porta-voz da chancelaria iraniana, Abbas Mousavi, denunciou a operação como ;uma forma de pirataria; e acusou os EUA de estarem por trás da iniciativa. ;Isso indica que o Reino Unido segue a política hostil de Washington, que é inaceitável para a nação iraniana e para o seu governo;, completou.
Embora Londres sustente que o Grace 1 foi interceptado em acatamento às sanções da UE contra a Síria, fontes da área de defesa admitiram que o navio era monitorado pelos EUA, que teriam informado as autoridades de Gibraltar sobre a sua passagem e sobre o destino do carregamento. O chanceler da Espanha, Josep Borrell, confirmou que a apreensão ;foi solicitada ao Reino Unido pelo governo americano;, e acrescentou que o governo de Madri está estudando as circunstâncias ; a Espanha reclama para si a soberania de Gibraltar.
O superpetroleiro era monitorado desde abril, quando foi carregado em um terminal iraniano e seguiu viagem por uma rota considerada atípica. Em vez de cruzar o Canal de Suez e se dirigir para o litoral sírio do Mediterrâneo, o Grace 1 circunavegou a África pelo sul para ingressar no Mediterrâneo via Gibraltar. Os serviços de inteligência dos EUA suspeitam que o desvio se destinava a disfarçar o destino final da carga.
Desde meados de 2018, quando se retirou do acordo nuclear firmado em 2015 pelo Irã com seis potências (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha), o governo americano reimpôs sanções ao regime de Teerã. Desde maio, empresas de terceiros países que negociem com petróleo iraniano estão sujeitas a represálias dos EUA.
;Isso indica que o Reino Unido segue a política hostil
de Washington, que é inaceitável para a nação iraniana e para o seu governo;
Abbas Mousavi, porta-voz da chancelaria do Irã