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''Perdi 22kg em três meses'', diz jornalista que estava preso na Venezuela

Braulio Jatar Alonso é um dos 22 presos políticos libertados na sexta-feira pelo governo venezuelano, após denúncia feita pela ONU

Rodrigo Craveiro
postado em 06/07/2019 07:00

Braulio Jatar Alonso é um dos 22 presos políticos libertados na sexta-feira pelo governo venezuelano, após denúncia feita pela ONUA Venezuela reagiu ao relatório da alta comissária para os Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, com a libertação de 22 presos políticos, entre eles o jornalista Braulio Jatar Alonso e a juíza Lourdes Afiuni. ;A bem-vinda libertação de 62 presos (neste mês), além de mais 22 soltos ontem (quinta-feira ; 4/7), e a aceitação das autoridades de dois funcionários dos direitos humanos no país significam o começo de um compromisso positivo do país com seus numerosos assuntos de direitos humanos;, declarou Bachelet, durante discurso no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra.

Em entrevista ao Correio, Alonso conta o que passou na cadeia e diz que, oficialmente, ainda não teve a prisão revogada.

Três perguntas para Braulio Jatar Alonso, advogado, jornalista, editor do portal Reporte Confidencial e ex-preso político, solto nesta quinta-feira (4/7)


Por quanto tempo o senhor esteve detido e por quais motivos?
Eu estive preso por quase três anos. No primeiro ano, passei por quatro centros de detenção distintos. No último ano, fiquei em prisão domiciliar. Eles nos acusaram, em 2016, de perturbar o bom andamento do que era uma reunião do grupo de países não alinhados, na Ilha de Margarita. Isso é algo absolutamente falso, como sabe o mundo inteiro. A ONU qualificou a minha detenção como arbitrária. Temos um portal de nortícias, o reporteconfidencial.info, o mais importante do estado de Nueva Esparta e um dos maiores da Venezuela. O que fizemos foi informar que, um dia antes, tinha ocorrido um panelaço contra a comitiva de Nicolás Maduro. No dia seguinte, quando reproduzimos em uma rádio o material do portal, eles nos detiveram arbitrariamente e nos sequestraram. Nos primeiros nove meses, minha saúde sofreu importante deterioração. Perdi 22kg em três meses que passei nas celas de isolamento.

O senhor esperava por sua libertação?
A minha liberdade foi anunciada pela alta comissária para os Direitos Humanos da ONU (Michelle Bachelet), a quem estou muito agradecido. No entanto, ela está em suspenso, pois não recebi nenhuma notificação. O que ocorreu foi que a polícia que tinha a custódia da minha prisão domiciliar, a última das cinco fases de privação de liberdade, me informou que estava se retirando por ter recebido um ofício do tribunal. O que me disseram é que tenho de me apresentar ao tribunal, na segunda-feira, para me inteirar da decisão da Corte. A ONU ordenou minha liberdade plena e uma indenização pelos danos causados nesse período. Nessa causa arbitrária, injusta e ilegal, qualificada pela ONU, exigem que eu me apresente a cada 15 dias. Também estou proibido de deixar o território de Nueva Esparta e a Venezuela. O tribunal pode revogar ou mudar a ação cautelar. Esse tempo pendente da causa é como ser retirado de uma jaula e colocado em uma cadeia de 20m. O que você tem são 20m de liberdade. Não creio que isso seja liberdade.

Como vê o relatório apresentado por Bachelet?
O relatório da ex-presidenta chilena e atual alta comissária para os Direitos Humanos da ONU é de uma verdade devastadora e demolidora. Eu, na condição de jornalista e de advogado, tenho estado com ;a voz no pescoço;, gritando essa verdade e me opondo às arbitrariedades sistemáticas produzidas na Venezuela há vários anos. Finalmente, o transbordamento de venezuelanos pela fronteira pôs em alerta o resto dos países. Agora, o que faz valentemente a alta comissária é documentar uma verdade que há anos ocorre na Venezuela.

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