postado em 07/07/2019 04:05
O preconceito também pode impulsionar vícios em jovens. É o que mostra uma pesquisa conduzida por cientistas ingleses. A equipe coletou, em duas etapas, informações sobre tabagismo e experiências de racismo de alunos de 51 escolas de Londres. Na primeira fase, os 6.500 participantes tinham entre 11 e 13 anos. Depois, a amostra um pouco menor ; com 4.785 participantes da etapa inicial ; se enquadrava na faixa entre 14 e 16 anos de idade.
De acordo com a análise, jovens que tinham experimentado alguma forma de racismo apresentavam um risco 80% maior de fumar. Para os autores, a constatação apoia resultados de pesquisas anteriores que sugerem que o racismo pode desencadear uma resposta ao estresse que resulta em comportamentos de risco para a saúde, como o tabagismo. ;As descobertas gerais destacam o papel do racismo como um importante determinante social da saúde;, ressalta, em comunicado, Ursula Read, pesquisadora da University College of London, no Reino Unido, e coautora do estudo, divulgado, em janeiro, na revista Plos One.
Para Ursula Read, o estudo também apoia a teoria de que o tabagismo pode ser usada por vítimas de racismo como um tipo de estratégia de enfrentamento. Por isso, defende a cientista, especialistas e autoridades públicas devem considerar cuidadosamente o impacto da discriminação nesse tipo de comportamento de risco. ;Nossas descobertas têm implicações na saúde pública. Precisamos melhorar as intervenções na comunidade e encontrar novas maneiras de apoiar e incentivar as pessoas a não fumarem em uma idade jovem. Um ponto importante aqui é que o racismo afeta os resultados de saúde física e mental. Enfrentá-lo, portanto, é uma importante prioridade de saúde pública para os jovens;, ressalta.
Segundo Marizete Gouveia Damasceno, coordenadora da Comissão Especial de Psicologia e Diversidade Étnico-Racial (CEPDER) do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP-DF), a pesquisa sinaliza a possibilidade de surgimento de problemas ainda mais graves para a população negra, o que reforça a necessidade de atitudes preventivas. ;Acredito que os dados podem ser estendidos para além do tabagismo, incluindo outros vícios para aliviar incômodos gerados pela pressão social e que também contribuem para uma situação que pode virar uma bola de neve;, afirma.
A especialista também ressalta a necessidade de os serviços de saúde estarem preparados para atender as vítimas de preconceito. ;Quando a pessoa sofre discriminação e busca um especialista, muitas vezes, esse profissional não sabe o que fazer para ajudá-la. Isso prejudica ainda mais;, ilustra. Marizete Gouveia Damasceno acredita que as pesquisas podem ajudar a mudar esse cenário. ;Precisamos de mais estudos, principalmente feitos no Brasil, para entender a realidade em que vivemos e lidar melhor com ela. Nosso país é extremamente diversificado e, ainda assim, sofremos com esse problema. É importante também que a população negra tenha acesso a essas informações para que entenda o risco e como pode adoecer.; (VS)