postado em 08/07/2019 04:20
Próteses oculares, ossículos artificiais de ouvido, auxílio no tratamento da sensibilidade nos dentes e estímulos na regeneração de tecidos ósseos são algumas das aplicações do biosilicato. Apesar de útil, esse material tem produção de alto custo e é frágil. Pesquisadores do Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros (CeRTEV), em parceria com cientistas da Universidade de Paduá, na Itália, da Universidade Estadual da Pennsylvania, nos Estados Unidos, e do Centro Nacional de Pesquisa do Egito, desenvolveram uma versão alternativa do biosilicato na tentativa de garantir melhor funcionalidade e reduzir o preço de fabricação desse curinga da área médica.
A equipe apostou em matérias-primas mais acessíveis e na facilidade da impressão 3D. ;No caso do biosilicato, a impressão 3D leva a uma produção mais rápida e barata, além de possibilitar a transformação do material em qualquer formato;, diz Murilo Crovace, professor do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coautor do estudo, detalhado recentemente no Journal of the American Ceramic Society.
O método tradicional de produção do biosilicato consiste na cristalização controlada de um vidro especial por meio de tratamentos térmicos. A nova composição se dá a partir de resinas de silicone baratas, carbonatos de cálcio e sódio e fosfato de sódio dibásico. Submetidos a alta temperatura, esses produtos resultam em um material com funcionalidades semelhantes às do biosilicato. Quando usado na impressora 3D, deu origem a suportes de cerâmica vítrea e espumas moldadas.
Testes mostraram que o material apresenta alta porosidade e resistência à compressão. ;Os vidros convencionais são frágeis e, por meio da cristalização controlada de um biovidro, conseguimos produzir um material semelhante ao biosilicato que, além de ter alta resistência mecânica, é usinável, bioativo e bactericida;, pontua Edgar Dutra Zanotto, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), coordenador do CeRTEV e coautor da pesquisa.
Aplicações ampliadas
Segundo Emílio Barbosa e Silva, coordenador do curso de odontologia no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), pesquisas como essa são extremamente importantes para o desenvolvimento de produtos e materiais que aumentem a quantidade e a qualidade de tratamentos médicos. ;Esses materiais ganham importância à medida que simplificam, barateiam e aumentam o leque de situações em que podem ser aplicados;, explica. ;É a ciência atuando para melhorar a vida das pessoas, popularizando e ampliando seu alcance para permitir que uma gama maior de indivíduos possa ter alcance aos tratamentos.;
Zanotto conta que, em testes clínicos, seis aplicações do biosilicato tradicional foram suficientes para resolver o problema de sensibilidade dentária em voluntários. A expectativa é de que a nova versão do material tenha resultados melhores. No caso das próteses oculares, popularmente chamadas de olhos de vidro, o material consegue aderir aos tecidos que circundam o olho do paciente, dando maior mobilidade à prótese.
Doutor em engenharia de materiais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), José da Silva Rabelo Neto ressalta que essas soluções são bem-aceitas no mercado. ;A ciência de materiais tem grande impacto, porque desenvolve materiais inovadores, que aumentam a eficiência funcional de produtos. Nesse caso especial, há ainda um impacto muito perceptível pelo tipo de aplicação: acarretará em soluções para problemas de saúde, o que sensibiliza muito a sociedade.;
* Estagiária sob supervisão de Carmen Souza