Snowball ficou famoso há uma década, quando um vídeo da cacatua macho dançando, animadamente, músicas da banda Backstreet Boys viralizou na internet. Ele não apenas se movia de forma aleatória, mas parecia, de fato, executar os passinhos de acordo com o ritmo. Entre os que se impressionaram com a performance estavam dois pesquisadores do Instituto de Neurociências em La Jolla, na Califórnia.
Com a autorização da tutora da ave, os dois começaram a estudar as habilidades de Snowball, que protagonizou alguns estudos científicos. Agora, a dupla volta a publicar um artigo sobre o animal, na revista Current Biology, mostrando que os humanos não são os únicos a se valer de uma ampla variedade de movimentos e de várias partes do corpo para dançar. A cacatua faz isso também. E melhor que muita gente.
;A maior parte das espécies não executa movimentos espontâneos em resposta à música, isso inclui outros primatas;, diz Aniruddh D. Patel, um dos pesquisadores que acompanham Snowball há mais de uma década e coautor do artigo. ;Talvez porque, como os humanos, eles sejam aprendizes vocais, os papagaios apresentam essa resposta;, afirma Patel. De acordo com o cientista, o cérebro de animais que aprendem também pelo som contém conexões auditivas muito fortes, o que confere a eles ;habilidades sofisticadas de processamento audiomotor;.
Enquanto pesquisas anteriores, incluindo sobre Snowball, indicaram que papagaios balançam a cabeça ou levantam as patinhas em sincronia com as batidas musicais, os cientistas quiseram, agora, comprovar se, assim como humanos, eles também têm um vasto repertório de movimentos. Segundo Patel, não se trata de mera curiosidade. ;O resultado sugere que a dança não é um produto arbitrário da cultura humana, mas uma resposta à música que emerge quando certas capacidades cognitivas e neurais se juntam nos cérebros animais;, escreveu, no artigo.
Criatividade
O cientista conta que, logo após o primeiro estudo com Snowball, a tutora da cacatua, Irena Schulz, notou que ele começou a fazer passinhos inéditos. Foi o que Patel e o neurocientista John R. Iversen precisavam para testar a habilidade do animal de, assim como os homens, explorar diversos movimentos, usando todas as partes do corpo. Para isso, apresentaram a Snowball dois grandes sucessos da década de 1980: Girls just want to have fun, de Cyndi Lauper, e Another one bits the dust, do Queen. Cada música foi tocada três vezes, em um total de 23 minutos.
Quando o experimento foi feito, a cacatua tinha 12 anos (hoje está com 23) e só dançou quando a tutora estava por perto, incentivando Snowball com a frase ;Bom garoto;. A neurocientista Joanne Jao Keehn, que além de cientista é dançarina, analisou cada quadro do vídeo, avaliando a sequência de movimentos repetidos da ave, ou seja, a ;coreografia;.
Keehn classificou os passos em 14 movimentos diferenciados e dois compostos (misturando dois passos). Snowball mostrou que é um dançarino e tanto, com predileção por Girls just want to have fun, quando ;balançou mais o esqueletinho;. O artigo diz que o fato de o animal variar os movimentos dependendo da música é um sinal de ;flexibilidade e, talvez mesmo, de criatividade;.
O desafio, agora, é compreender a razão pela qual os papagaios são capazes de dançar conforme a música. Além do aprendizado vocal, há teorias que propõem que essa seja uma função comunicativa e de interação social, o que Patel pretende estudar agora.O resultado
;sugere que a dança não é um produto arbitrário da cultura humana, mas uma resposta à música que emerge quando certas capacidades cognitivas e neurais se juntam nos cérebros animais;
Aniruddh D. Patel, pesquisador do Instituto de Neurociências em La Jolla