No cenário interno, confusão e incerteza sobre o substituto da primeira-ministra Theresa May e sobre os rumos do Brexit ; o processo de divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia (UE). No contexto externo, relações cada vez mais tensas entre Londres e Washington, depois do vazamento da opinião do embaixador britânico nos Estados Unidos, Kim Darroch, sobre o governo caótico do presidente norte-americano, Donald Trump, e a reação desmedida do magnata republicano. A crise diplomática, que agora envolve o chanceler Jeremy Hunt, ocorre no momento em que o líder trabalhista (oposição), Jeremy Corbyn, defende a realização de um segundo referendo sobre o Brexit, na tentativa de forçar a permanência no bloco europeu. Nas mensagens confidenciais, o embaixador classificou Trump de ;inepto; e sua gestão de ;disfuncional;.
Em meio à derrota na Justiça, que o proibiu de bloquear críticos no Twitter, Trump voltou a usar a rede social para atacar Darroch e May. ;O embaixador maluco que o Reino Unido impingiu aos Estados Unidos não é alguém que nos empolgue, é um cara muito estúpido;, escreveu. ;Ele deveria falar ao seu país, e a May, sobre sua negociação fracassada do Brexit, e não ficar chateado com minha crítica sobre como foi isso mal gerenciado. (...) Não conheço o embaixador, mas disseram que ele é um tolo pomposo.; O líder norte-americano disse que o representante britânico ;deveria falar ao seu país, e a May, sobre a fracassada negociação sobre o Brexit. ;Eu disse a May sobre como fazer esse acordo, mas ela seguiu seu próprio e ridículo caminho e foi incapaz de concluí-lo. Um desastre!”, enfatizou.
Simpatia
Anthony Glees, diretor do Centro para Estudos de Segurança e Inteligência da Universidade de Buckingham, acredita que a amizade estremecida entre britânicos e americanos pode beneficiar o ex-chanceler Boris Johnson, principal cotado para liderar os tories (conservadores) e ascender ao posto de primeiro-ministro. Trump demonstra simpatia por Johnson, que tem sido comparado ao presidente dos EUA por suas polêmicas e sua impetuosidade. ;O ataque do republicano a May é ultrajante, e mostra até que ponto ele pode intimidar o Reino Unido e almejar conseguir o que deseja ; um embaixador em Washington capaz de ser manipulado pela Casa Branca para atender aos interesses do ;América em primeiro lugar;;, comentou Glees, ao citar o lema de campanha de Trump.
A postura de um potencial substituto de Darroch em Washington será considerada crítica, caso o Reino Unido abandone a rede de segurança da EU e seja forçado a negociar, a partir de uma posição de fragilidade, um acordo comercial com os EUA. ;Não será um pacto entre iguais, e um embaixador pró-Brexit ajudará Trump a colocar os interesses de seu país em primeiro lugar;, acrescentou o professor da Universidade de Buckingham.
Glees lembrou que faz parte do trabalho dos embaixadores relatar o que observam sobre a nação onde firmaram o posto de trabalho. ;Eles o fazem em vários graus de sigilo. A primeira coisa a notar sobre a crise nas relações Reino Unido-EUA ; uma crise muito séria ; é que, de alguma forma, as comunicações secretas entre Darroch e o Ministério das Relações Exteriores, em Londres, foram alvos de hackers. Isso terá sido feito por um adversário ou um inimigo, o que significa China, Irã, Coreia do Norte ou Rússia;, apostou. Ele vê os interesses russos como claros e suspeita que alguém de Moscou ou um político pró-Brexit tenha vazado as mensagens de Darroch.
Chefe do Programa EUA e Américas da Chatham House (em Londres), Leslie Vinjamuri duvida que a crise diplomática mude o resultado da disputa pela chefia de governo. ;No entanto, podem muito bem mudar quem será o próximo embaixador;, afirmou. O chanceler Jeremy Hunt lembrou que os diplomatas são apontados pelo governo do Reino Unido. ;Se eu me tornar premiê, nosso embaixador ficará;, garantiu, ao tachar os comentários de Trump sobre May de ;desrespeitosos e falsos;. Johnson participou de um debate com Hunt e se recusou a comentar a reação de Trump ao vazamento de e-mails. Também declinou confirmar se manteria Darroch em Washington.
Pontos de vista
Por Anthony Glees
Ansiedade no
Parlamento
;A maioria dos parlamentares, incluindo grande parte dos conservadores, estará muito ansiosa sobre o que está ocorrendo. Estamos agora na fase de eleger o novo líder Tory (conservador), o qual está prestes a se tornar primeiro-ministro. O eleitorado é composto de 160 mil a 170 mil membros do Partido Conservador, muitos dos quais são eleitores do Brexit e representam 0,27% do eleitorado britânico. O novo líder será Boris Johnson e, de uma forma estranha, a fúria de Trump ajuda o potencial novo premiê, pois o republicano disse que o valoriza.;
Diretor do Centro para Estudos de Segurança e Inteligência da Universidade de Buckingham
Por Leslie Vinjamuri
Parceria
complicada
;A tensão entre Londres e Washington torna muito complicado o trabalho em conjunto sobre as prioridades estratégicas. China, comércio e Irã são temas que os Estados Unidos e o Reino Unido deveriam estar, ativa e estrategicamente, gerenciando em parceria. Isso se torna impossível quando esses dois aliados são constantemente dilacerados por contratempos diplomáticos.;
Chefe do Programa EUA e Américas da Chatham House (em Londres)