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Fernando de la Rúa, 81 anos

Ex-presidente da Argentina que teve de partir da Casa Rosada de helicóptero, no fim de 2001, estava hospitalizado desde maio e não resistiu a um quadro de falência cardíaca e renal. Eleito em 1999, seu governo naufragou na crise econômica

postado em 10/07/2019 04:21
Ex-presidente da Argentina que teve de partir da Casa Rosada de helicóptero, no fim de 2001, estava hospitalizado desde maio e não resistiu a um quadro de falência cardíaca e renal. Eleito em 1999, seu governo naufragou  na crise econômica
Na campanha eleitoral de 1999, Fernando de la Rúa admitia em uma peça para a tevê que era ;chato;. Menos de dois anos depois, renunciava à presidência em meio a um caos econômico ; deixou a Casa Rosada de helicóptero, em dezembro de 2001, em meio a uma onda de protestos que lembrou a situação de 10 anos antes, quando Raúl Alfonsín teve de antecipar em seis meses o fim do mandato, por causa da hiperinflação. Assim como Alfonsín, De la Rúa pertencia à União Cívica Radical (UCR), legenda social-democrata centenária que resistiu à ditadura de 1976-1983, mas não aos desafios econômicos da redemocrarização. Aos 81 anos, o ex-presidente estava hospitalizado desde maio e morreu ontem, de falência cardíaca e renal.

Foi o presidente Mauricio Macri quem anunciou para o país a morte do ex-presidente, em mensagem na qual elogiou a trajetória democrática do antecessor. Morto no dia da independência da Argentina, De la Rúa tinha sido hospitalizado no início do ano para ser submetido a uma cirurgia por um quadro cardiovascular delicado. Após longa convalescença, foi novamente hospitalizado em maio, devido a uma complicação renal. Sua última aparição pública foi como convidado no jantar de gala que o governo ofereceu no Teatro Colón, em novembro passado, como parte da cúpula do G-20.

Quando chegou à presidência em 1999, aos 62 anos, exibia uma imagem austera, antítese do até então presidente Carlos Menem (1989-1999), peronista histriônico que vinha aplicando uma política econômica neoliberal e proclamava, na política externa, a intenção de manter ;relações carnais; com os Estados Unidos. Em ambos os casos, o ;menemismo; representava uma ruptura com a história da corrente política fundada nos anos 1940 pelo caudilho Juan Domingo Perón.

Nascido em 15 de setembro de 1937, De la Rúa estudou no Liceo Militar de Córdoba, sua província natal, no centro do país. Lá se formou advogado, aos 21 anos, e depois obteve o doutorado. Alinhou-se com a ala mais conservadora da UCR, em confronto com Alfonsín. Em 1999, porém, chegou ao governo à frente de uma coalizão de centro-esquerda, apresentando-se como ;a força moral contra a frivolidade e o engodo;.

Aos 35 anos de idade, em 1973, foi senador pela capital federal, tradicionalmente um distrito antiperonista, onde consolidou a carreira como deputado (1991-1992) e três vezes senador (1973-1976, 1983-1989 e 1992-1996). Primeiro prefeito de Buenos Aires eleito pelo voto direto, em 1996 ; até então, o titular era designado pelo presidente ;, fez do cargo seu trampolim para a Casa Rosada.

O governo da UCR começou a desmoronar em 2000, quando o vice-presidente Carlos ;Chacho; Álvarez, sindicalista de esquerda, pediu demissão em meio a um escândalo por supostamente ter pagado suborno a parlamentares da oposição para aprovar uma lei de precarização trabalhista. Por essa acusação, já como ex-presidente, foi absolvido em 2013. Em 2001, De la Rúa convocou como salvador da pátria o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo, responsável pela pasta no governo Menem e mentor da conversibilidade com paridade cambial entre o peso e o dólar, lançada em 1991. Após sua saída da presidência, a Argentina declarou défault ; a incapacidade de honrar os compromissos externos.


"Dizem que eu sou chato"


Fernando de la Rúa, ex-presidente da Argentina, em peça de tevê para a campanha presidencial vitoriosa de 1999

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