postado em 11/07/2019 04:05
Enquanto os Estados Unidos reforçavam ontem a estratégia de exercer pressão máxima sobre o Irã, ameaçando endurecer as sanções, os europeus tentavam buscar uma saída para salvar o acordo nuclear assinado em 2015 entre o Ocidente e a República Islâmica. O diplomata francês Emmanuel Bonne desembarcou em Teerã para um dia de negociações, tumultuadas por tuitadas do presidente Donald Trump, que voltou à rede social para acusar o regime iraniano de enriquecer urânio ;há muito tempo em segredo; e prometendo que, em breve, vai elevar ;substancialmente; a carga contra o país.
Destacado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, Bonne não tem uma tarefa tranquila. O cenário de hostilidade vem aumentando desde maio do ano passado, quando Washington deixou o pacto nuclear, também assinado pela Alemanha, China, França, Grã-Bretanha e Rússia. Em resposta, o Irã anunciou que deixaria de respeitar vários compromissos do acordo para pressionar os outros signatários a ajudá-lo a evitar medidas de Trump, que afetam gravemente seus setores petroleiro e financeiro. Recentemente, superou suas reservas de urânio de baixo enriquecimento acima do limite imposto pelo acordo (300 kg) e, desde segunda-feira, passou a enriquecer urânio a mais de 4,5%.
;Sob pressão, nenhuma negociação é possível;, disse o chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif, antes de se reunir com o enviado francês, conclamando os ;europeus a resolver o problema; causado pela saída dos Estados Unidos do acordo. Teerã descarta categoricamente a renegociação do acordo, como pretende Trump, e se recusa a entrar em contato com Washington até que revoguem as sanções impostas desde agosto de 2018.
Na visita de ontem a Teerã, Bonne entregou ao presidente Hassan Rouhani uma mensagem escrita pelo líder francês. Segundo fontes do governo iraniano, Rouhani declarou que o país persa ;sempre deixou a porta aberta para a diplomacia e o diálogo; e que jamais se distanciou da meta de ;aplicação abrangente;. Acrescentou ainda esperar que todos ;implementem integralmente seus compromissos;. Antes do encontro com Rohani, o emissário francês se reuniu com o almirante Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, e, por último, com Zarif.
Ironia
Em Viena, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) se reuniu, a pedido do governo de Donald Trump, para analisar o cenário. Durante a audiência, Rússia e Irã zombaram da iniciativa dos EUA, uma vez que Washington deixou o pacto. ;É tristemente irônico que essa reunião tenha sido organizada a pedido dos Estados Unidos, o regime por trás da situação atual;, alfinetou o embaixador iraniano na AIEA, Kazem Gharib Abadi.
Por sua vez, Mikhail Ulyanov, representante russo, classificou a iniciativa como bizarra. ;Pedimos a todos os membros do conselho que condenem veementemente essa política americana destrutiva;, acrescentou Ulyanov, estimando que ;em primeiro lugar, os Estados Unidos devem abandonar suas tentativas de impor um embargo ao petróleo de Teerã;. A embaixadora americana Jackie Wolcott acusou Teerã de uma tentativa de ;extorsão nuclear;.
A reunião terminou sem uma moção ou declaração final, segundo diplomatas. De acordo com uma fonte diplomática em Viena, a AIEA indicou aos seus países-membros que constatou um nível de enriquecimento de 4,53%, assinalando que o percentual permanece longe dos 90% necessários para uso militar.