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Atentado mata 26 e fere 56

Comando de terroristas do Al-Shabab, grupo ligado à rede Al-Qaeda, explode carro-bomba diante de hotel na cidade portuária de Kismayo e atira contra hóspedes. Dois jornalistas e 10 estrangeiros estão entre os mortos. Ministro admite falha de segurança

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 14/07/2019 04:26
Comando de terroristas do Al-Shabab, grupo ligado à rede Al-Qaeda, explode carro-bomba diante de hotel na cidade portuária de Kismayo e atira contra hóspedes. Dois jornalistas e 10 estrangeiros estão entre os mortos. Ministro admite falha de segurança

A mensagem foi publicada pela jornalista somali-canadense Hodan Nalayeh, apenas seis dias antes de sua morte. ;O valor mais importante que aprendi estando na Somália é a paciência. Ser paciente com os meus irmãos e irmãs que testemunharam a guerra e o conflito é o mínimo que eu posso fazer. Nós nunca podemos saber o dano que a guerra produziu, mas podemos ser compreensivos e pacientes;, escreveu no Twitter. Na última sexta-feira, Hodan, 43 anos, e o marido, Farid Jama Suleiman, foram surpreendidos pela explosão de um carro-bomba que destruiu parte do Hotel Asasey, na cidade portuária de Kismayo, 500km ao sul da capital da Somália, Mogadíscio.

Após a detonação, quatro terroristas invadiram o prédio disparando a esmo. O cerco ao hotel durou quase 12 horas e terminou com um saldo de 26 mortos e 56 feridos. Três extremistas também foram abatidos pelas forças de segurança e outro acabou capturado. Entre as vítimas, além de Hodan e Farid, estão três quenianos, um britânico, dois norte-americanos e três tanzanianos. Outro jornalista, Mohamed Samal Omar, foi morto a tiros ao tentar fotografar os terroristas dentro do hotel.

No momento do pior ataque registrado em Kismayo nos últimos sete anos, o Hotel Asasey sediava um encontro de anciãos e congressistas do Estado de Jubaland. ;O Al-Shabab, grupo terrorista ligado à Al-Qaeda, atacou esse hotel popular em Kismayo, capital de Jubaland. Além dos 26 mortos e dos 56 feridos, há um trauma psicológico experimentado por toda a comunidade;, lamentou ao Correio, por meio do WhatsApp, Mursal Khalif, ministro da Saúde de Jubaland.

Segundo ele, a ação terrorista teve início às 17h30 (11h30 em Brasília) de sexta-feira e terminou às 5h de ontem (hora local). ;A situação em Kismayo, neste momento, é calma, apesar do tremendo luto e do imenso choque. Não houve nenhum ataque à cidade por quase seis anos. É possível que o foco nas eleições estaduais do próximo mês tenha significativamente desviado a atenção da segurança;, acrescentou Khalif. ;As nossas forças militares conseguiram resgatar cerca de 200 civis do prédio e eliminaram os terroristas às 5h de hoje (23h de sexta-feira em Brasília).;



Padrão

Por sua vez, o ministro do Planejamento e da Cooperação Internacional de Jubaland, Adam Ibrahim Aw Hersi, disse ao Correio que o atentado em Kismayo seguiu um padrão de ataques vistos em outras regiões da Somália. ;Eles utilizaram um VBIED (dispositivo explosivo improvisado em carro ou carro-bomba) e uma invasão de extremistas suicidas;, comentou. Hersi admitiu que a comunidade internacional tem trabalhado ostensivamente para ajudar a Somália a enfrentar a ameaça do Al-Shabab. ;No entanto, os somalis não estão prontos para usar essa disposição internacional para combater e, eventualmente, eliminar o grupo Al-Shabab.;

Testemunhas relataram à agência France-Presse que o hotel ficou destruído pela explosão. A parte que resistiu à detonação do carro-bomba ficou crivada de balas. ;Todo o prédio está em ruínas. Havia corpos, e tiraram vários feridos lá de dentro. A polícia cercou o local;, contou Muna Abdirahman. Hodan Nalayeh era considerada uma estrela do YouTube e tinha retornado à Somália recentemente, com o marido e os dois filhos, onde fundou a plataforma de mídia social Integration TV. Com essa ferramenta, ela buscava apresentar histórias sobre a vida no país e sobre a diáspora somali. Por meio de um comunicado, o Sindicato Somali de Jornalistas (SJS) lamentou o ;dia triste; para os profissionais da imprensa somali, ao confirmar as mortes de Hodan e de Samal Omar.

;Mujahedine (guerrilheiros islâmicos) realizaram um ataque de martírio a um dos hotéis que abrigavam as autoridades apóstatas da administração de Jubaland;, afirmou o grupo extremista Al-Shabab, por meio de um comunicado. ;Os nossos comandos tomaram o controle do Hotel Asasey e foram capazes de frustrar quatro tentativas das forças especiais somalis de ocupá-lo;, acrescentou a facção, em outro comunicado, divulgado na quarta hora do ataque. Em outubro de 2017, o Al-Shabab reivindicou um atentado com um caminhão-bomba que matou mais de 500 pessoas em Mogadíscio. A facção luta para depor o governo somali, apoiado por 2 mil homens de uma força especial da União Africana.

Memória


Massacre na Índia

Hotéis de luxo costumam ser visados por terroristas. Em 26 de novembro de 2008, uma série de atentados deixou 166 mortos e mais 300 feridos em Mumbai, a capital comercial da Índia. Os ataques duraram quatro dias e espalharam o horror entre os moradores. Os extremistas escolheram oito alvos, incluindo dois hotéis, o Oberoi Trident e o Taj Mahal Palace & Tower (foto). No Taj, seis explosões foram reportadas, uma no lobby, duas nos elevadores e três nos restaurantes. Os bombeiros precisaram utilizar escadas para resgatar 200 reféns, retirados pelas janelas. No momento da ação terrorista, vários membros do Parlamento Europeu estavam hospedados no hotel. Os ataques foram planejados dentro do Paquistão e realizados por 10 militantes do Lashkar-e-Taiba, depois de receberem treinamento em campos instalados em Karachi e em Thatta. O massacre inspirou o filme Atentado ao Hotel Taj Mahal, em cartaz nos cinemas de Brasília. A produção foca nas histórias do chef Hemant Oberoi e do garçom Arjun, que arriscaram as próprias vidas para salvar vítimas.

"Mujahedine (guerrilheiros islâmicos) realizaram um ataque de martírio a um dos hotéis que abrigavam as autoridades apóstatas da administração de Jubaland;
Comunicado do grupo terrorista Al-Shabab

Eu acho...


;O Al-Shabab é um grupo terrorista que luta para controlar todo o território da Somália. Ele possui uma interpretação impopular do islã baseada na aplicação rigorosa da sharia (lei islâmica). No atentado em Kismayo, 14 dos 56 feridos correm risco de morte.;
Mursal Khalif, ministro da Saúde de Jubaland


;Em outras partes da Somália, o Al-Shabab tem provocado estragos. Os terroristas escolheram o Hotel Asasey para potencializar o número de vítimas civis, em um sórdido objetivo de permanecer nas notícias como uma organização terrorista.;
Adam Ibrahim Aw Hersi, ministro do Planejamento e da Cooperação Internacional de Jubaland



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