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Caso de adolescente desaparecida se complica e atinge até o papa

Emanuela Orlandi é filha de um ex-funcionário do Vaticano e desapareceu há 36 anos, quando era adolescente. Buscas geraram críticas de opositores a Francisco

Agência France-Presse
postado em 15/07/2019 17:44
Cartazes com o rosto de Emanuela Orlandi, que desapareceu quando tinha 15 anosA tentativa do Vaticano de ajudar a família de Emanuela Orlandi, a adolescente que desapareceu em Roma há 36 anos, aprofundou ainda mais o mistério sobre seu destino e corre o risco de atingir a Santa Sé e até o Papa Francisco.

O caso misterioso, que alimentou várias teorias na década do 80 ao envolver hierarcas da igreja e a máfia siciliana, tomou um rumo inesperado no sábado.

A notícia de que foram encontrados vazios os túmulos de princesas enterradas no século XIX no cemitério Teutônico do Vaticano, onde se pensava que podiam estar os restos da jovem Orlandi, desconcertou os italianos.

No entanto, dois dias depois foram encontrados ossuários em um porão do mesmo edifício, indicou a Santa Sé.

Os especialistas consideram que os esqueletos das princesas podem ter sido trasladados a esse lugar com motivo das obras de ampliação do Collegio Teutonico, realizadas nos anos 60 e 70.

Os ossuários vão ser inspecionados no próximo fim de semana ante a presença da família Orlandi, que havia pedido a exumação desses restos, convencida de que a jovem estava ali.

Uma série de indicações anônimas levou o Vaticano a autorizar a abertura dos dois túmulos do cemitério alemão na esperança de encontrar algum rastro da filha do funcionário do Vaticano, que desapareceu quando tinha 15 anos.

Emanuela morava dentro das muralhas do Vaticano, e foi vista pela última vez em 22 de junho de 1983, quando estava saindo de uma aula de música no centro de Roma.

Armadilha?

Esse desaparecimento ainda intriga os italianos e gerou uma série de teorias da conspiração sobre eventuais pressões da máfia siciliana nos responsáveis das finanças da Santa Sé, a cargo então do monsenhor Paul Marcinkus, envolvido em uma das maiores fraudes financeiras na Itália.

Abertura de túmulo no cemitério Teutônico do Vaticano: covas vazias"Francamente, o pessoal do Vaticano não é tão astuto, nem tem a mente de um filme de James Bond, para acreditar que há uma conspiração altamente intrincada", comentou o especialista em assuntos do Vaticano John Allen no site de notícias religiosas Cruxnow.

A maior crítica à situação provém do site ultraconservador Infovaticana, inimigo do pontificado de Francisco.

"A grotesca situação da descoberta dos dois túmulos vazios denota o caos atual em que vivem as instituições que povoam o diminuto estado pontifício", escreveu.

O diretor de comunicações do Vaticano, Andrea Tornielli, explicou que os túmulos haviam sido abertos em um gesto de "proximidade com a família Orlandi" e "certamente não, como foi dito, como uma forma de admissão por parte do Vaticano da possível participação no ocultamento de um cadáver".

Essa explicação não foi suficiente para satisfazer os céticos, sobretudo depois de que Pietro Orlandi, que passou a vida procurando a irmã desaparecida, contou aos meios de comunicação que haviam lhe advertido horas antes de que os túmulos estavam vazios.

A possibilidade de que a Santa Sé esteja envolvida no desaparecimento de Orlandi foi levantada periodicamente nas últimas décadas, alimentando uma série de notícias e apesar das tentativas de transparência feitas por Francisco.

"Como é possível que o Vaticano tenha aceitado abrir o túmulo... sem saber os nomes e sobrenomes dos que estão por trás do aviso?", lamentou Francesco Grana no jornal Il Fatto Quotidiano.

"A família Orlandi e o Vaticano caíram em uma armadilha?", questiona.

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