A escolhida dos chefes de Estado e de governo dos 28 países-membros da União Europeia (UE) para presidir a Comissão Europeia (CE, braço executivo do bloco) chega à votação decisiva no parlamento continental, em Estrasburgo, disposta a um ;tudo ou nada;. Ursula von der Leyen, cuja candidatura sofre duros questionamentos entre os eurodeputados, formalizou ontem a renúncia ao Ministério da Defesa da Alemanha a partir de amanhã ; qualquer que seja o resultado. Primeira mulher indicada para o cargo mais importante de Bruxelas, que abriga o complexo-sede da UE, ela luta para não ser a protagonista de uma recusa da Eurocâmara ao nome escolhido pelos governantes ; algo inédito na história da integração europeia.
Aliada da chanceler (chefe de governo) Angela Merkel, que apadrinhou a indicação, Von der Leyen tem, em tese, o apoio de três bancadas que somam a maioria entre os 747 parlamentares. Mas mesmo no Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita), do qual faz parte, sobraram ressentimentos pela maneira como foi conduzida a indicação. Os socialistas, segunda maior força política, depois do PPE, foram contemplados no acordo costurado pelos líderes, mas os alemães do Partido Social Democrata (SPD) ensaiam boicotar a indicação. A recusa à ministra da Defesa pelo SPD, que integra o governo de coalizão em Berlim, constrangeu Merkel a ser a única dos 28 governantes a se abster na votação que consagrou a nomeação para a presidência da CE.
A ministra alemã tem ainda o apoio dos liberais, que formam a terceira bancada em Estraburgo, mas não deve contar com apoio nas demais bancadas ; desde os ecologistas, passando pela esquerda radical, até os eurocéticos e a ultradireita populista. A votação de hoje é secreta e em turno único: se a candidata não obtiver os 374 votos necessários, estará fora do páreo. Caberá então aos chefes de Estado e de governo reunir-se novamente, no prazo de 30 dias, para examinar outra indicação.
As normas da UE determinam que a nomeação de um candidato a presidir a CE é prerrogativa do Conselho Europeu, composto pelos governantes dos países-membros. Desde 2014, porém, o Parlamento Europeu adotou para o processo o sistema do ;cabeça de chapa;, que norteia o parlamentarismo alemão. Segundo esse mecanismo, os diferentes grupos políticos fazem campanha para a Eurocâmara com o nome de um candidato que, em caso de vitória, será o seu indicado para a CE. O PPE, que liderou a votação, tinha como spitzenkandidat o alemão Manfred Weber, que foi vetado no Conselho pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Merkel, em resposta, vetou o nome dos socialistas, o holandês Frans Timmermans.
Questionada pelo desempenho no governo alemão, Ursula von der Leyen tem a nomeação sob ataque em Estrasburgo justamente em nome da busca por transparência. O próximo presidente da CE substituirá em 1; de novembro o ex-premiê de Luxemburgo Jean-Claude Juncker. Na véspera, está prevista a efetivação do Brexit ; a saída do Reino Unido da União Europeia. A nova etapa na vida do bloco inclui também a regulamentação e a implementação progressiva do acordo de livre-comércio fechado recentemente com o Mercosul.