Agência France-Presse
postado em 18/07/2019 11:05
O Irã anunciou, nesta quinta-feira (18), ter retido "um navio-tanque estrangeiro" e sua tripulação sob suspeita da prática de "contrabando" de combustível no Golfo.
A região se encontra sob alta tensão há dois meses, após uma sequência de eventos envolvendo petroleiros.
Segundo os Guardiães da Revolução, o Exército ideológico da República Islâmica, o navio-tanque foi apresado no último domingo, 14 de julho, "ao sul da ilha (iraniana) de Larak", também conhecida como Lark, no Estreito de Ormuz.
O anúncio da retenção do navio acontece dois dias depois das declarações do guia supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, sobre o assunto. Segundo ele, o Irã responderia "na hora e no lugar oportunos" à intercepção, em 4 de julho, de um petroleiro iraniano por parte das autoridades britânicas, na costa de Gibraltar.
Os Guardiães ainda não divulgaram o nome da embarcação retida na costa de Larak, nem sua bandeira.
"Esse navio com capacidade de dois milhões de barris e com 12 membros de tripulação a bordo se dirigiram para entregar combustível de contrabando de navios iranianos", afirmou o Sepahnews, o site oficial dos Guardiães.
Conforme a mesma fonte, o caso do navio apresado está nas mãos da Justiça.
Na terça-feira, o Ministério iraniano das Relações Exteriores, anunciou que a República Islâmica havia oferecido assistência a "um petroleiro estrangeiro" que "teve um problema técnico" no Golfo.
Troca de acusações
Mais cedo naquele mesmo dia, a organização TankerTrackers, especializada no acompanhamento das cargas de petróleo, indicou que o navio-tanque de bandeira panamenha "Riah" havia entrado nas águas iranianas em 14 de julho.
O "Riah" costuma passar pelo Estreito de Ormuz para abastecer outros navios.
Segundo a TankerTrackers, o sinal do sistema automático de identificação do petroleiro foi interrompido naquele momento. A última posição conhecida do "Riah" foi na costa da ilha de Qeshm, situada a menos de seis milhas náuticas a oeste de Larak.
A região do Golfo e do Estreito de Ormuz, por onde transita um terço do petróleo transportado por via marítima no planeta, encontra-se no centro de intensas disputas geopolíticas há mais de dois meses. O pano de fundo é a escalada de tensão entre Irã e Estados Unidos.
Os EUA reforçaram sua presença militar na região com base nas supostas "ameaças" iranianas contra interesses americanos, as quais nunca foram claramente explicitadas.
Alimentada por suas divergências sobre a questão nuclear iraniana, a escalada entre os dois países atingiu seu ápice em 20 de junho, quando o Irã abateu um drone de vigilância americano.
O presidente americano, Donald Trump, disse ter anulado, no último minuto, ataques de represália contra alvos no Irã nas horas que se seguiram a este incidente. Segundo Teerã, o equipamento sobrevoava o espaço aéreo iraniano, o que Washington nega.
Nesta quinta, durante uma conversa por telefone, o presidente russo, Vladimir Putin, e seu colega francês, Emmanuel Macron, concordaram sobre a necessidade de "consolidar os esforços" para salvar o acordo nuclear. Segundo o Kremlin, trata-se de um "fator muito importante para garantir a segurança no Oriente Médio".
Escalada
Sem dar detalhes, os Guardiães da Revolução negaram as alegações de "veículos da imprensa ocidental", segundo os quais o Irã teria retido "outro navio" estrangeiro há alguns dias.
Nesta quinta-feira, o chefe do Comando Central americano, Kenneth McKenzie, falou em agir "energicamente" para garantir a segurança do transporte marítimo no Golfo, durante uma visita a uma base aérea perto de Riad, capital da Arábia Saudita. O país é um rival regional do Irã.
Na terça-feira, o Ministério britânico da Defesa disse estar pronto para enviar um terceiro navio de guerra para o Golfo. Disse se tratar de um deslocamento "de rotina", sem relação com as tensões na região.
Na semana anterior, Londres disse que embarcações militares iranianas haviam tentado "impedir a passagem" pelo Ormuz de um petroleiro britânico e que um navio da Marinha Real inglesa, o "HMS Montrose", que foi em seu socorro, teve de "lançar advertências verbais" aos iranianos.
Os Guardiães da Revolução negaram qualquer "confrontação" recente com navios estrangeiros.
Segundo autoridades britânicas de Gibraltar, o navio iraniano retido em 4 de julho é suspeito de ter sido enviado rumo à Síria. Essa entrega violaria sanções da União Europeia a Damasco.
Sem divulgar o destino final do petroleiro "Grace I", o Irã garantiu que sua rota não passaria pela Síria e pediu a liberação "imediata" do navio-tanque.