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Sem bilhete de volta

Presidente Jair Bolsonaro associa retenção de dois navios graneleiros iranianos às sanções impostas pelos Estados Unidos ao regime islâmico e destaca a boa relação com Washington. Petrobras recusa abastecer embarcações por temer impactos econômicos

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 20/07/2019 04:19
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As sanções impostas ao Irã pelo governo norte-americano começam a impactar os negócios do Brasil com o país persa. Depois de um evento de celebração do Dia do Futebol, no Ministério da Cidadania, o presidente Jair Bolsonaro comentou a recusa da Petrobras em abastecer dois navios iranianos ancorados perto do porto de Paranaguá (PR), e afirmou que as empresas brasileiras foram alertadas sobre os riscos do bloqueio de Washington às relações comerciais com o Irã. ;Existe esse problema. Os Estados Unidos, de forma unilateral, pelo que me consta, têm embargos levantados contra o Irã. As empresas brasileiras foram avisadas por nós desse problema e estão correndo o risco nesse sentido, e o mundo está aí;, declarou.

Bolsonaro atribuiu a retenção das embarcações iranianas às boas relações entre Washington e Brasília. ;Estou me aproximando cada vez mais do (presidente Donald) Trump. Fui recebido duas vezes por ele, (líder da) primeira economia do mundo e do segundo mercado do mundo. O Brasil está de braços abertos para fazermos acordos e parcerias, pelo bem de nossos povos. O Brasil é um país que não tem conflito em nenhum lugar do mundo, graças a Deus. Pretendemos manter nessa linha, mas entendemos que outros países têm problemas e nós, aqui, temos que cuidar dos nossos em primeiro lugar;, acrescentou o brasileiro.

Os navios graneleiros MV Bavand e MV Termeh chegaram ao Brasil transportando ureia e estavam previstos para retornar ao Irã com milho brasileiro. No entanto, estão fundeados, desde o início de junho, a 20km do porto de Paranaguá. O MV Bavand está carregado com 48 mil toneladas de milho, enquanto o MV Termeh permanece vazio. A Petrobras optou por não abastecê-los para não ficar sujeita ;ao risco de ser incluída na lista (de empresas sancionadas pelos EUA);. Em comunicado divulgado ontem, a estatal brasileira explicou que poderia sofrer graves prejuízos, caso fosse enquadrada em sanções impostas pela Secretaria de Tesouro norte-americana.

A Petrobras ressaltou que ;existem outras fornecedoras de combustível no país;. ;A companhia mantém seu compromisso em atender a demanda de seus clientes, desde que observadas as normas aplicáveis e suas políticas de conformidade;, acrescentou. ;O risco envolvido na contratação de navios sancionados deve ser de responsabilidade da empresa exportadora, e não da Petrobras, que não tem qualquer relação com as atividades comerciais da exportadora.;





Prejuízo
Antônio Jorge Ramalho, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), disse não se surpreender com as medidas adotadas pela Petrobras. Segundo ele, o governo de Jair Bolsonaro ;visa se aproximar dos Estados Unidos de maneira acrítica;. ;O prejuízo para a Petrobras realmente seria significativo. Ela estaria impedida de fazer negócios com empresas norte-americanas, caso abastecesse os navios iranianos. Mas, em relação aos alimentos exportados pelos navios, eles não são abordados nas sanções norte-americanas;, avalia Antônio.

Para ele, dificilmente a decisão criará conflitos entre o Brasil e o Irã. ;O Irã entende essa decisão. O nosso governo atual tem tentado se aproximar dos EUA de uma forma bem acrítica, mais alinhada, então é normal que nossas empresas reajam assim. O Brasil, no passado, costumava ter mais autonomia, ao estabelecer suas próprias linhas de ação;, explicou Ramalho.

No último ano, os EUA têm ampliado as restrições ao Irã, com foco no setor de petróleo. Em contrapartida, Teerã parte para ações militares, faz ameaças nucleares e chegou a derrubar um drone norte-americano no Estreito de Ormuz. Recentemente, o país também revelou a pretensão de aumentar o estoque de urânio enriquecido, ultrapassando o limite estabelecido em 2015, por meio de acordo internacional.

* Estagiária sob supervisão de Rodrigo Craveiro




"Existe esse problema, os Estados Unidos, de forma unilateral, pelo que me consta, têm embargos levantados contra o Irã. As empresas brasileiras foram avisadas por nós desse problema e estão correndo o risco neste sentido e o mundo está aí;
Jair Bolsonaro, presidente do Brasil


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