postado em 21/07/2019 04:05
O suspense termina dentro de dois dias para os mais de 60 milhões de súditos britânicos e para o alto comando da União Europeia (UE), assim como para os demais 27 países-membros. Na terça-feira, será anunciado em Londres o nome do novo líder do Partido Conservador ; e, por consequência, o novo primeiro-ministro, sucessor de Theresa May, demissionária desde maio. Caberá ao ex-chanceler Boris Johnson, adversário declarado da premiê, ou ao atual ocupante da pasta, Jeremy Hunt, assumir o leme para conduzir o país nos pouco mais de três meses que restam até 31 de outubto, a data fatal para efetivar a saída do bloco. O desfecho da novela do Brexit, iniciada com a decisão do referendo de junho de 2016, determinará o futuro imedidato e de médio prazo para ambos os lados do Canal da Mancha. E a pergunta do milhão, para governantes e observadores do cenário, é: haverá acordo, um rompimento brusco ou novo adiamento?
Boris Johnson, entusiasta da separação e um dos líderes do campo antieuropeu no partido, é o favorito para vencer a disputa interna. A última etapa se encerra amanhã, prazo final para a chegada dos votos postados no correio pelos filiados, com o resultado prometido para o dia seguinte e a posse do novo chefe de governo na quarta-feira. O ex-chanceler, que até aqui descartou a ideia de pedir mais prazo a Bruxelas, liderou todas as rodadas iniciais da disputa, nas quais a bancada conservadora na Câmara dos Comuns eliminou os demais concorrentes. Jeremy Hunt aposta em captar a preferência dos correligionários que, assim como parte respeitável do establishment político e empresarial, teme o impacto do chamado ;Brexit; duro ; sem qualquer acerto entre as partes sobre a transição para a nova relação de ex-parceiros.
;Não acredito que isso termine com a saída sem acordo;, disse Johnson no único debate cara a cara entre os dois finalistas, no último dia 9. ;Teremos algo entre agora e 31 de outubro;, garantiu, embora tenha reafirmado que o processo não será novamente adiado. O ex-chanceler consolidou a popularidade como prefeito de Londres e deixou o gabinete de May por oposição explícita ao acordo negociado pela premiê com os negociadores da UE ; proposta rejeitada três vezes pelo Parlamento. No confronto com o adversário, esgrimiu como argumento a convicção de que o país precisa de ;um pouco de otimismo;: ;Já demonstramos derrotismo demais;.
;Se quisermos fazer com que o Brexit seja um êxito, não se trata de demostrar otimismo cego;, contrapôs Hunt, que mencionou, sem entrar em detalhes, um plano de 10 pontos para enfrentar a hipótese de um ;divórcio não amigável; na data marcada ; a mesma do Halloween, uma coincidência que não escapa ao sarcástico humor dos britânicos. O chanceler desafiou o favorito a honrar a promessa de não permitir novo adiamento da separação, apoiada em 2016 por 52% dos votantes, uma maioria que parece duvidosa após três anos de idas e vindas. ;Quero saber até que ponto são sólidos os seus compromissos;, provocou. ;Se não nos tirar da UE em 31 de outubro, você vai se demitir?;
Tempo curto
A troca de guarda em Downing Street, a residência oficial do chefe de governo britânico, coincide com a transição em curso em Bruxelas. Em 1; de novembro, um dia depois do prazo fatal, toma posse a nova presidente da Comissão Europeia (CE, braço executivo da UE), a ex-ministra alemã Ursula von der Leyen, à frente da equipe que terá como principal tarefa, nos próximos cinco anos, colocar em prática o Brexit. Até lá, o recado do atual chefe da CE, Jean-Claude Juncker, é o mesmo repetido com insistência para os negociadores designados por Theresa May: o acerto concluído ao fim de quase três anos de discussões não está aberto a emendas. A própria Von der Leyen, no dia em que foi ratificada pelo Parlamento Europeu, acenou apenas com a possibilidade de dar mais tempo, a pedido de Londres, ;caso nos apresentem uma boa razão;.
O novo premiê terá o tempo como adversário certo: uma semana depois da posse, começa o recesso parlamentar, e será preciso esperar o retorno dos deputados para retomar a tramitação de uma nova proposta em torno do Brexit. Qualquer eventual alteração nos termos deverá ser no mínimo debatida com a nova presidente da CE e sua equipe ; outro complicador potencial. Em entrevista exibida na última quinta-feira pela emissora britânica BBC, mas gravada em março, o vice-presidente da Comissão, o holandês Frans Timmermans, confessa-se ;chocado; com o que vê como ;total despreparo; do governo britânico para conduzir o processo. ;Pensamos que fossem brilhantes, que tivessem em algum cofre um livro como os do Harry Potter, com todos os truques;, ironizou. ;Mas o tempo está se esgorando e vocês não têm um plano.;