Agência France-Presse
postado em 22/07/2019 13:48
Como escapar do caos no transporte público durante os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020? A questão é delicada, mas uma das soluções encontradas pelas autoridades é o trabalho remoto, um conceito de difícil compreensão para os japoneses.Os trens já são um calvário para muitos dos mais de 13 milhões de habitantes da capital japonesa nas horas de pico da manhã. Ao menor sinal de incidente, as estações viram um inferno: é praticamente impossível chegar às plataformas e fica difícil até respirar dentro dos vagões superlotados.
Durante os Jogos Olímpicos, "esperamos mais de 10 milhões de visitantes e até 920.000 espectadores e credenciados olímpicos por dia", alerta Kasumi Yamasaki, responsável pelos transportes para os Jogos de Tóquio.
Os operadores ferroviários preveem aumentar a frequência dos trens e metrôs, mas "as linhas circulam já em plena capacidade nas horas de pico, de 7h às 9h", explica à AFP.
Os especialistas esperam um aumento de 10% no número de passageiros nos trens e temem uma alta de 20% no número de automóveis nas ruas, o que poderia provocar atrasos importantes e engarrafamentos perigosos.
"Se medidas drásticas não forem tomadas, arriscamos sofrer tumultos fatais nas estações ferroviárias", alerta o professor Azuma Taguchi, da Universidade Chuo.
Contra a cultura empresarial
O resultado: é preciso convencer os funcionários a trabalhar de casa, ou pelo menos evitar as horas de pico. No Japão, porém, não ir ao trabalho é um desafio cultural.
Para acostumar as empresas e seus funcionários antes dos Jogos, as autoridades decretam há vários anos "dias de trabalho a distância" durante o período de 22 de julho a 6 de setembro, que corresponde às datas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
As prefeituras e cerca de 3.000 empresas privadas - incluindo a gigante do ramo de automóveis Toyota - participam desta iniciativa. Até o momento, campanhas deste tipo não deram muito resultado.
Além de não poderem realizar todas suas funções de casa, os funcionários têm outros obstáculos a superar, afirma Kanako Nakayama, responsável pelo trabalho remoto no Ministério do Interior.
As empresas muitas vezes se mostram reticentes, devido "à preocupação com a segurança de dados confidenciais, à dificuldade de controlar as condições de trabalho e porque a cultura de empresa insiste na importância da comunicação pessoal".
Escritório balneário
Os testes mostram, contudo, que quem trabalha de casa não é menos produtivo. Pelo contrário.
Depois de deixar a filha na creche, Yoshie Midorikawa volta para casa e começa sua jornada de trabalho. Ela liga o computador e envia uma mensagem para os colegas pelo celular, avisando estar conectada.
"Assim economizamos muito tempo e energia, evitando os trajetos cotidianos, especialmente quando os trens sofrem atrasos", garante esta mulher de 42 anos, representante comercial da empresa de serviços informáticos Kunai.
Os especialistas e os responsáveis governamentais esperam que os esforços feitos para o período dos Jogos Olímpicos possam criar um legado no futuro: "É uma chance de instalar o trabalhar a distância e criar, assim, um estilo de vida sem estresse", defende o professor Taguchi.
A deslocalização temporária das empresas sediadas para lugares turísticos fora de Tóquio também é uma solução possível. É o caso de Shirahama, cidade ao oeste do Japão que conta com dois edifícios comerciais construídos com a ajuda do Estado.
"Destacamos a presença próxima de praias, fontes termais e um acesso fácil a um aeroporto para as pontes aéreas entre Tóquio e este local de trabalho", explica Masakatsu Ogawa, responsável local.
Além de a receita da cidade ter disparado, graças ao imposto sobre empresas, sua população também "rejuvenesceu" com estes trabalhadores a distância urbanos. A prefeitura já começou a planejar a construção de um terceiro edifício comercial.