postado em 27/07/2019 04:06
Peça-chave na histórica reaproximação entre Cuba e Estados Unidos, o cardeal cubano Jaime Ortega morreu ontem, aos 82 anos, informou a Arquidiocese de Havana. De acordo com fontes da Igreja, a saúde de Ortega, que sofria de um câncer terminal, piorou em 22 de junho. ;O cardeal Jaime faleceu e, ao começar a sentir sua ausência física, revivem, com o afeto agradecido, as lembranças de sua qualidade pessoal e de seu incansável zelo pastoral;, afirmou o arcebispo Juan de la Caridad García Rodríguez.
Nascido em 18 de outubro de 1936, em Matanzas, Jaime Lucas Ortega Alamino foi considerado um homem promotor de consensos, que liderou a Igreja em Cuba por 35 anos. Ingressou em 1956 no seminário diocesano San Alberto Magno dessa província do oeste da ilha, onde estudou filosofia e humanidades. Em 1960, foi enviado ao Canadá para estudar teologia.
Em 1966, sua atividade sacerdotal foi interrompida por oito meses. Nesse período, foi recrutado pelas Unidades Militares de Apoio à Produção (Umap), que funcionavam como campos de ;internato; para religiosos, homossexuais e outros malvistos, em substituição ao serviço militar obrigatório. Ao completar 75 anos, em 2011, apresentou sua renúncia como arcebispo de Havana, conforme as regras estabelecidas pelo Vaticano. No entanto, o seu amigo, o papa Francisco, recusou sua renúncia até um ano depois de visitar a ilha em 2015.
Mediador
Ortega atuou como facilitador das longas conversas secretas com os Estados Unidos. As negociações levaram ao histórico degelo entre ambos os países em 2014, depois de mais de meio século de inimizade e de confronto político. A essa reaproximação, acompanhada por uma troca de presos políticos entre esses dois inimigos da Guerra Fria, seguiu-se a visita à ilha do então presidente americano, o democrata Barack Obama, em 2016.
;Agradeço às autoridades do meu país por todas as possibilidades de superar períodos críticos e momentos difíceis e por terem sido capazes de avançar sem retrocesso por um caminho de diálogo;, disse Ortega, durante a última missa como arcebispo de Havana, em 2016. Ordenado padre aos 28 anos, bispo aos 34 e empossado cardeal aos 58, Ortega instalou, em 2010, um inédito diálogo com Raúl Castro, que levou à soltura de 130 presos políticos.