postado em 29/07/2019 04:05
O Oriente Médio é outro cenário no qual a política externa do governo Bolsonaro se apresenta com a aparência de uma contradição. De um lado, sinaliza uma clara aproximação com Israel, a ponto de ter ensaiado a mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. A ideia, lançada pelo presidente ainda em campanha, reafirmada na transição e novamente nos primeiros meses de mandato, chegou a causar estremecimento com países árabes e ameaças de retaliação comercial.
Mesmo no Conselho de Direitos Humanos, onde tem se alinhado com regimes árabes e islâmicos, a diplomacia basileira emitiu votos inéditos contra resoluções que condenavam Israel pelo tratamento dispensado aos palestinos. E o aparente ziguezague tem como linha de continuidade uma inflexão clara em relação ao Irã, expressa no recente impasse com os navios cargueiros que passaram semanas retidas em Paranaguá. No pano de fundo, outro traço marcado do governo Bolsonaro: o alinhamento explícito com os Estados Unidos, que impõem sanções ao regime islâmico de Teerã.
;A questão do governo Donald Trump com o Irã tem relação com o impasse nuclear e a segurança dos EUA, e isso tem importância para eles;, explica o professor Juliano Silva Cortinhas, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da UnB. É por isso que, na sua análise, Washington não vê como distanciamento a guinada do país para posições de matriz religiosa no âmbito dos direitos humanos. ;Trump não está preocupado com essas questões.;
A reorientação do Planalto e do Itamaraty para a aliança prioritária com Washington ; expressa na indicação do deputado Flavio Bolsonaro (PSL-SP), o filho ;03;, para assumir a embaixada brasileira ; é apresentada pelo ministro Ernesto Araújo como parte da reinserção do Brasil no que chama de ;aliança liberal conservadora;. O chanceler associa esse movimento a uma tendência recente de contestação ao sistema multilateral, expressa por Trump e por governos da nova direita europeia, como os da Itália e da Hungria, dois dos destinos de sua recente viagem ao continente.
;O Brasil é parte de um movimento de recuperação do papel da nação como ator no sistema internacional;, disse na entrevista à BBC. É por essa perspectiva que Araújo vê a aguardada concessão ao Brasil do status de aliado preferencial dos EUA fora do âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar ocidental. ;Isso vai trazer benefícios para a recapacitação da nossa capacidade miltar, que foi algo negligenciado em governos recentes;, argumenta o chanceler. ;Faz parte das relações internacionais ter capacidade de dissuasão e de defesa do território.; (SQ)