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Divididos por Maduro

postado em 31/07/2019 04:06

Uma discussão interna ; mas pública ; sobre a natureza do regime da Venezuela atravessou a campanha da coligação esquerdista Frente Ampla (FA), que governa o Uruguai desde 2005, a três meses da eleição presidencial. Setores do governo do atual mandatário, Tabaré Vázquez, e o candidato à sucessão, Daniel Martínez, discordaram ontem abertamente sobre a declaração feita no fim de semana pelo ex-presidente e figura mais popular da legenda, José Pepe Mujica, que no fim de semana classificou como ;uma ditadura; o governo liderado por Nicolás Maduro.

Martínez, ex-prefeito de Montevidéu e ligado ao Partido Socialista, como Tabaré, tomou o partido de Mujica e respondeu a declarações do ministro da Economia, Danilo Astori, um dos líderes históricos da Frente Ampla, que sustentou a posição atual do governo ; reconhecer como presidente legítimo Maduro, e não o interino aclamado pela oposição, Juan Guaidó, apoiado por 50 países, entre eles a maioria dos vizinhos sul-americanos.

O candidato da coligação esquerdista lidera as intenções de voto para o primeiro turno, mas perde para a soma dos principais opositores. Em seu pronunciamento, ele invocou o recente relatório da alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que apontou graves violações por partr do governo de Caracas. ;Sim, companheiro Danilo: para a esquerda, o tema dos direitos humanos deve ser sempre um imperativo ético;, afirmou.

Preocupado em preservar a unidade da legenda, integrada também por aliados incondicionais de Maduro, como o Partido Comunista, o presidente guardou silêncio. Mas o vice-chanceler, Ariel Bergamino, saiu em defesa da política atual em relação à Venezuela. ;Não diz respeito a um país definir qual é a natureza do regime de um outro Estado soberano;, disse à rádio Carve.

O relacionamento com o chavismo tem sido um tema delicado para a Frente Ampla ao longo dos 15 anos à frente do governo uruguaio, mas especialmente após a morte de Hugo Chávez, em 2013, e a ascensão de Maduro. O próprio Muijica, que como presidente manteve proximidade com Caracas, causou divisões entre seus correligionários na corrente frentista formada pelos egressos do movimento guerrilheiro Tupamaros, no qual militou nos anos 1960 e 1970. ;É uma ditatura, sim;, afirmou no fim de semana. ;Na situação em que (o país) está, não se pode dizer outra coisa.;


;Para a esquerda, o tema dos direitos humanos deve ser sempre um
imperativo ético;

Daniel Martínez, candidato governista à presidência


;Não diz respeito a um país definir qual é a natureza do regime
de outro Estado;

Ariel Bergamino,vice-chanceler do presidente Tabaré Vázquez


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