postado em 31/07/2019 04:06
A intensa campanha de bombardeios aéreos lançada no primeiro semestre no Afeganistão custou a vida de 1.366 civis, segundo relatório das Nações Unidas, e fez das forças que apoiam o governo de Cabul ; em especial os Estados Unidos e aliados ocidentais ; os principais reponsáveis pelas mortes, superando os grupos extremistas islâmicos. ;O dano causado à população é chocante e inaceitável;, concluiu a missão da ONU no país, que considera ;insuficientes; os esforços que as partes em conflito alegam fazer para limitar as baixas entre não combatentes. Um terço dos mortos e feridos foram crianças.
O número de vítimas contadas entre janeiro e junho representa uma queda de 27% em relação ao período correspondente de 2018, o ano mais sangrento no país desde 2012. Desse total, 717 foram mortas pelas forças pró-governo e 531 pelos insurgentes ; principalmente, o Talibã e o Estado Islâmico. Na comparação com o ano passado, as baixas causadas pelas tropas oficiais e pelos aliados estrangeiros cresceram 31%, enquanto as atribuídas aos extremistas caíram 43%, de acordo com o relatório. O balanço do primeiro semestre de 2019 registra 2.446 civis feridos por diferentes tipos de ataques.
No comunicado em que apresentou os números do relatório, o líder da Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama, na sigla em inglês), Tadamichi Yamamoto, cobrou o cumprimento de uma declaração conjunta firmada pelo governo e pelos insurgentes no início do mês, durante uma histórica reunião de paz celebrada em Dubai. ;Todos ouviram a mensagem dos delegados afegãos enviados à conferência: ;Reduzam para zero o número de baixas civis!’;, afirmou o emissário da ONU. ; Pedimos a todas as partes que considerem esse imperativo e respondam ao apelo dos afegãos para que sejam tomadas medidas imediatas para reduzir os terríveis danos infligidos.;
Os ataques aéreos em apoio ao governo, feitos principalmente pelos EUA, causaram a morte de 363 civis, dos quais 89 eram crianças. Os números apresentados pela Unama foram rejeitados por Washington, mas são consistentes com a tendência captada no período entre janeiro e março e indicam que se intensificou o padrão de aumento na proporção das vítimas causadas pelas forças estrangeiras. No balanço geral, os bombardeios aéreos ficam atrás dos combates terrestres como principal causa de baixas civis.
O responsável da missão da ONU por monitorar a situação de direitos humanos, Richard Bennett, respondeu às críticas das diferentes forças em combate e reiterou o chamado a que respeitem a segurança da população afegã. ;As partes em conflito podem dar explicações diferentes para as tendências recentes, cada qual procurando justificar as próprias táticas militares;, comentou. ;Mas persiste o fato de que o sofrimento dos afegãos só vai diminuir com um esforço determinado para evitar danos aos civis ; não apenas com o respeito ao direito humanitário internacional, mas também com a redução da intensidade dos combates.;
A diretora para a Ásia da organização internacional Human Rights Watch (HRW), Patricia Grossman, reforçou a crítica a Washington por ter adotado como política, aparentenmente, a utilização de bombardeios para pressionar o Talibã, em especial, na mesa de negociações. ;A explicação habitual, de que os insurgentes se misturam à população, não serve como desculpa para tantos mortos e feridos, nem para algo que, em alguns casos, pode configurar crimes de guerra;, disse à tevê pública britânica BBC. ;Embora os oficiais americanos em Cabul inisistam em que levam a sério o risco de baixas civis, não investigam adequadamente os erros cometidos.;
1.336
Civis mortos no país entre janeiro e junho, segundo a Missão
de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão
717
Vítimas causadas pelas forças do governo e seus aliados ocidentais