Mundo

EUA e Rússia rompem tratado de desarmamento nuclear INF

Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou a retirada formal de Washington em um comunicado em um fórum regional em Bangcoc, minutos após a Rússia ter declarado o fim do tratado.

Agência France-Presse
postado em 02/08/2019 10:51
Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou a retirada formal de Washington em um comunicado em um fórum regional em Bangcoc, minutos após a Rússia ter declarado o fim do tratado.Os Estados Unidos e a Rússia encerraram nesta sexta-feira (2) o tratado de desarmamento nuclear INF, assinado no final da Guerra Fria, em uma decisão que reacende o medo de uma corrida armamentista entre as potências mundiais.

O Tratado de Armas Nucleares de Alcance Intermediário (INF, sigla em inglês) de 1987 limitava o uso de mísseis de alcance intermediário (500 a 5.500 km), tanto convencionais quanto nucleares.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou a retirada formal de Washington em um comunicado em um fórum regional em Bangcoc, minutos após a Rússia ter declarado o fim do tratado.

Meses atrás as duas partes indicaram sua intenção de se retirar do tratado, trocando acusações de quebra dos termos do pacto.

"A Rússia é a única responsável pelo fim do tratado", disse Pompeo em um comunicado ao final de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

Pouco antes do anúncio de Pompeo, o ministro russo das Relações Exteriores disse em Moscou que o tratado havia terminado "por iniciativa dos Estados Unidos".

O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, também pediu aos Estados Unidos que implementem uma moratória sobre a implantação de mísseis nucleares de alcance intermediário depois de deixar o INF.

Washington acusou a Rússia por anos de desenvolvimento de um novo tipo de míssil, o 9M729, alegando que violava o tratado, uma posição apoiada pela Otan.

O míssil em questão tem um alcance de cerca de 1.500 km, segundo a Otan. Mas Moscou garante que só pode percorrer 480 km.

Em reação ao fim do tratado, a Aliança Atlântica rejeitou nesta sexta-feira uma nova "corrida armamentista".

"Nós não queremos uma nova corrida armamentista, mas vamos garantir que a nossa dissuasão seja credível" em face da implantação do novo sistema de mísseis russo, anunciou seu secretário-geral, Jens Stoltenberg.

"A Rússia não voltou a cumprir suas obrigações de forma total e verificável através da destruição de seu sistema de mísseis", disse Pompeo, referindo-se ao míssil de cruzeiro 9M729.

No início do ano, a Casa Branca abriu um período de transição de seis meses para suspender sua participação no INF, que terminou nesta sexta.

Pouco depois, Moscou começou seu processo de retirada, e no mês passado o presidente russo, Vladimir Putin, suspendeu formalmente sua participação.

"Nova era"

Assinado em 1987 pelo então presidente americano Ronald Reagan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, o tratado INF foi considerado a pedra angular da arquitetura global do controle de armas.

Para os Estados Unidos, o pacto deu a outros países - principalmente à China - uma carta branca para desenvolver seus próprios mísseis de longo alcance e acusou a Rússia de repetidas violações.

As tensões entre Pequim e Washington - especialmente ligadas a disputas comerciais e marítimas - concentraram as atenções da ASEAN esta semana em Bangcoc, onde Pompeo acelerou a estratégia "Indo-Pacífico" dos Estados Unidos para neutralizar a influência econômica e militar chinesa na Ásia.

Pompeo assegurou nesta sexta-feira que os Estados Unidos "estão em busca de uma nova era de controle de armas que vá além dos tratados bilaterais do passado" e pediu que Pequim participe das discussões.

"Os Estados Unidos conclamam a Rússia e a China a se unirem a nós nesta oportunidade para oferecer resultados reais de segurança a nossas nações e ao mundo inteiro", disse ele.

O INF era visto como um dos dois principais acordos de armas entre Moscou e Washington. O outro é o novo tratado START, que mantém os arsenais nucleares dos dois países bem abaixo do pico da Guerra Fria.

Este pacto expira em 2021 e parece haver pouca vontade política por parte dos dois países em renová-lo.

A China rejeitou pedidos dos Estados Unidos para se juntar ao novo START no futuro.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação