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EUA vão acelerar a produção de mísseis

Em resposta ao rompimento do Tratado de Armas Nucleares de Alcance Intermediário (INF), firmado com Moscou, Washington anuncia a fabricação de armamentos terra-ar e condiciona novo acordo à presença da China e da Rússia. Especialistas admitem risco de corrida nuclear

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 03/08/2019 04:05
Em resposta ao rompimento do Tratado de Armas Nucleares de Alcance Intermediário (INF),  firmado com Moscou, Washington anuncia a fabricação de armamentos terra-ar e condiciona novo acordo à presença da China e da Rússia. Especialistas admitem risco de corrida nuclear


O mundo está cada vez mais próximo de uma corrida nuclear. Após norte-americanos e russos confirmarem o rompimento com o Tratado de Armas Nucleares de Alcance Intermediário (INF, pela sigla em inglês), assinado no fim da Guerra Fria, em 1987, os Estados Unidos anunciaram que pretendem acelerar o desenvolvimento de novos mísseis terra-ar. O presidente Donald Trump advertiu que qualquer novo acordo para restringir a fabricação de mísseis nucleares terá de incluir a China, além da própria Rússia. ;Realmente queremos incluir a China em algum momento;, afirmou o republicano. ;Isto seria algo grandioso para o mundo;, avaliou. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, prometeu que a resposta da aliança militar ocidental ao fracasso do INF será ;comedida e responsável; e alertou que o sistema de mísseis SSC-8, de Moscou, capaz de transportar carga nuclear e de difícil detecção, violou o tratado. ;Nenhum acordo internacional é eficiente se for respeitado por um único lado. A Rússia carrega a responsabilidade pelo fim do tratado;, disse Stoltenberg. Por sua vez, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, lamentou que o planeta tenha perdido ;um freio indispensável na guerra nuclear;.

O secretário da Defesa dos EUA, Mark Esper, considerou a produção de mísseis uma reação natural a Moscou. ;Agora que nos retiramos (do Tratado INF), o Departamento da Defesa continuará plenamente com o desenvolvimento destes mísseis convencionais para lançamento terra-ar, como resposta prudente às ações da Rússia;, avisou o chefe do Pentágono. Ele frisou que os EUA cumpriram ;escrupulosamente; suas obrigações com o INF até a saída formal.

Em entrevista ao Correio, Steven Pifer ; ex-embaixador dos EUA em Varsóvia, Londres e Moscou ; assegurou que a proibição imposta pelo Tratado INF aos mísseis de cruzeiro e balísticos com alcance entre 500km e 5.500km foi ;uma importante restrição à competição de armas nucleares entre EUA e Rússia;. ;Agora, enfrentamos a perspectiva de uma competição de armas menos previsível, mais instável e menos segura. Washington e Moscou podem se lamentar pelo abandono do tratado;, disse o diplomata, que atuou como conselheiro da delegação americana nas negociações sobre as forças nucleares de alcance intermediário, em Genebra.

Start
Segundo ele, a contenção nuclear passa a depender de um único acordo, o Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start), de 2010, que expira em dois anos. ;O pacto pode se estender por até cinco anos. A Rússia tem demonstrado interesse na extensão, enquanto o governo Trump não tem uma posição formal, e o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, expressou dúvidas sobre a prorrogação;, explicou Pifer. O ex-embaixador acredita que a não prorrogação do Novo Start representaria um grande erro. ;A ampliação restringiria as forças estratégicas russas até 2026, enquanto continuaria o fluxo de informação trocada pelos dois lados devido às provisões de verificação do tratado. Além disso, a prorrogação não afetaria os planos de modernização das forças estratégicas dos EUA, pois eles foram pensados para se adequarem aos limites do Novo Start.;

Pifer explicou que o Pentágono planeja o desenvolvimento de um míssil de cruzeiro lançado em solo com alcance de mil quilômetros e um um míssil balístico capaz de atingir alvos entre 3 mil e 4 mil quilômetros ; destinado a responder à ameaça chinesa. ;Ambos podem ser testados este ano. O impacto militar desses artefatos dependeria da prontidão dos aliados dos EUA em hospedá-los. Mísseis de alcance intermediário baseados nos Estados Unidos não causarão muita preocupação à Rússia ou à China.;

Diretora de política do Centro para Controle de Armas e Não Proliferação (em Washington), Alexandra Bell lembrou à reportagem que a Rússia já desenvolveu, testou e produziu um míssil de alcance intermediário, o 9M729. Agora, Washington buscaria fabricar um sistema de mísseis balísticos e de cruzeiro, terrestres, convencionais e móveis, com alcance entre 500km e 5.500km. ;Se ambos os lados continuarem a desenvolver esses tipos de mísseis, poderíamos ver nova corrida armamentista.;

Bell destacou que o Tratado INF forneceu estabilidade ao continente europeu por mais de três décadas e ajudou a inaugurar o fim da Guerra Fria. ;Sua morte torna o mundo menos seguro. Há preocupações de que Washington e Moscou não estenderão o novo Start. ;Isso significa que não existiria controle sobre os sistemas nucleares estratégicos dos EUA e da Rússia pela primeira vez em quase 50 anos. Tal manobra ameaçaria a saúde do Tratado de Não Proliferação Nuclear, o mais importante do planeta;, disse a especialista.

Eu acho...

;Os Estados Unidos se retiraram do Tratado INF porque a Rússia violou o acordo, ao trabalhar com um míssil proibido. Infelizmente, o governo do republicano Donald Trump realmente não tentou trazer Moscou de volta à conformidade. Parece que tanto Moscou quanto Washington não tinham a vontade política para preservar o tratado. Como resultado, Rússia e Estados Unidos estão agora livres para dispor de mísseis de alcance intermediário, lançados do solo. É um grande golpe ao regime de controle de armas nucleares. No entanto, ainda não está claro sobre quais serão as consequências militares dessa retirada.;



Steven Pifer, ex-embaixador dos EUA em Varsóvia, Londres e Moscou. Atuou como conselheiro da delegação americana nas negociações sobre forças nucleares de alcance intermediário em Genebra



;Sem o Tratado INF, os Estados Unidos e a Rússia serão capazes de produzir um número ilimitado de mísseis de alcance intermediário. Tais mísseis poderiam ser configurados para carregar armas nucleares, como ocorreu durante a Guerra Fria. Nós sabemos que essas armas são altamente desestabilizadoras e é por isso que nos livramos delas em primeiro lugar. Se lembrarmos a corrida armamentista de alcance intermediário entre o fim da década de 1970 e o início dos anos 1980, veremos que não há garantia de que seremos espertos o bastante para criar outro tratado do tipo INF. Isso poderia significar um desastre.;


Alexandra Bell, diretora de política do Centro para Controle de Armas e Não Proliferação (em Washington)

Trump não vê problemas em testes norte-coreanos


A Coreia do Norte fez, ontem, o terceiro teste de projéteis em oito dias, segundo o Exército sul-coreano, mas o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse não ter problemas com os disparos de Pyongyang. Resoluções da ONU proíbem a Coreia do Norte de fazer testes de mísseis balísticos. Trump minimizou, porém, esses lançamentos. Na quinta-feira, três países-membros europeus do Conselho de Segurança da ONU ; Reino Unido, França e Alemanha ; condenaram os testes norte-coreanos. ;Não tenho qualquer problema, vejamos o que acontece, mas os mísseis de curto alcance são muito padrão;, disse o norte-americano. ;Pode ser que haja uma violação (das resoluções) da ONU, mas o presidente Kim Jong-un (foto) não quer me decepcionar traindo minha confiança;, tuitou Trump.

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