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Índia avança na Caxemira

Governo nacionalista hindu revoga autonomia na parte que controla do território, que tem maioria muçulmana e é reivindicado pelo Paquistão. Extremistas reagem, Islamabad convoca reunião de comandantes militares e ambos os lados entram em alerta

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 06/08/2019 04:05
Militantes islâmicos paquistaneses protestam contra o decreto do premiê Narendra Modi, em Karachi: tensão volta a crescer
A dura reação do Paquistão ; tanto do governo quanto de grupos extremistas islâmicos ; se somou ao alerta de autoridades locais para as consequências da revogação da autonomia da parte indiana do território da Caxemira. Disputada entre os dois países desde a independência, há sete décadas, a região é palco de tensão permanente e repetidas ondas de violência. A decisão anunciada ontem pelo primeiro-ministro Narendra Modi, um nacionalista hindu, foi festejada pelos seus partidários, mas causou preocupação entre setores da oposição, que temem a reação da maioria muçulmana no Vale de Srinagar.

;O Paquistão fará tudo o que estiver a seu alcance para contra-atacar as medidas ilegais;, diz uma nota divulgada pela chancelaria, em Islamabad. ;Nenhuma medida unilateral do governo indiano pode modificar o estatuto;, prossegue o texto, referindo-se ao regime de autonomia administrativa adotado para a região no âmbito da Índia ; parte da Caxemira está sob controle paquistanês, ao fim de duas guerras travadas entre os vizinhos pela soberania.


Radicalização
;Hoje é o dia mais sombrio da democracia indiana;, tuitou Mehbooba Mufti, ex-dirigente do governo do estado indiano de Jammu e Caxemira. ;Isso terá consequências catastróficas para a região;, advertiu. ;Vai haver uma reação muito forte na Caxemira. Já existe um estado de agitação, e isso vai apenas piorar a situação;, reforçou Wajahat Habibullah, outro ex-alto funcionário do governo local. Opositores de Narendra Modi manifestaram oposição à medida em cidades como Bangalore, e lembraram que a Caxemira vive desde 1989 uma insurgência islâmica, com saldo de 70 mil mortes.

O decreto anunciado pelo governo de Nova Delhi tem vigência imediata e responde a uma das promessas com as quais o premiê nacionalista conduziu o Bharatiya Janata Party (BJP, Partido do Povo Indiano, hinduísta) a uma expressiva vitória nas eleições legislativas deste ano. O texto revoga os dispositivos da Constituição que dispunham sobre a Caxemira, em especial o artigo 370, que dava ampla autonomia legislativa à assembleia local e reservava ao governo indiano as decisões sobre defesa, relações exteriores e comunicações. Um projeto de lei complementar será enviado ao parlamento para dividir a Caxemira indiana em duas unidades a serem administradas diretamente pelo governo central.

Em meio a aplausos da militância do BJP e de emissoras de tevê alinhadas aos nacionalistas hindus, mais 80 mil agentes das forças de segurança foram enviados nos últimos dias à Caxemira, para prevenir distúrbios. As comunicações na região foram bloqueadas desde a tarde de domingo, as vias de acesso foram interditadas, as atividades escolares foram suspensas e as concentrações públicas estão proibidas por tempo indefinido.

Do outro lado da fronteira, os comandantes militares paquistaneses foram convocados para uma reunião extraordinária, hoje, em Islamabad. ;A Índia está fazendo um jogo perigoso, que terá sérias consequências para a paz e a estabilidade da região;, advertiu o chanceler Shah Mehmood Qureshi. O anúncio do decreto indiano sobre a Caxemira foi recebido com protestos por grupos islâmicos extremistas, que prometem intensificar a insurgência.


;A Índia está fazendo um jogo perigoso, que terá sérias consequências para a paz e a estabilidade da região;
Shah Mehmood Qureshi, chanceler do Paquistão

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