postado em 08/08/2019 04:06
A crise em torno da Caxemira subiu ontem mais alguns degraus com a decisão do Paquistão de expulsar o embaixador da Índia e chamar de volta o seu representante em Nova Delhi. O rebaixamento das relações diplomáticas entre os vizinhos, que travaram três guerras em sete décadas como países independentes ; duas delas pelo controle do território ;, foi a resposta de Islamabad à decisão indiana de revogar o estatuto especial que dava autonomia administrativa à parte da região sob seu controle. O governo paquistanês também congelou o comércio bilateral.
;Vamos chamar nosso embaixador em Delhi e expulsar o deles;, anunciou o chanceler Shah Mehmood Qureshi pela emissora de tevê ARY News. Um comunicado oficial confirmou a retaliação comercial e antecipou a iniciativa de levar a questão ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. ;Ordenei a ativação de todos os canais diplomáticos para expor o brutal regime racista da Índia e as violações dos direitos humanos;, reforçou o premiê Imran Khan. Ele também determinou que as Forças Armadas fiquem em alerta.
A Caxemira é disputada pelos dois países desde 1947, quando se tornaram independentes da Coroa britânica e se separaram em bases religiosas. O território tem população de maioria muçulmana e o Paquistão reivindica a soberania, mas a Índia alega que a incorporação ao país foi pedida, na época, pela autoridade local.
Sem aviso
O governo americano, que reagiu inicialmente à crise pedindo ;paz e respeito aos direitos; da população local, nega que tenha sido informado sobre a medida pelo premiê Narendra Modi. ;O governo indiano não nos consultou nem informou antes de revogar o estatuto especial;, disse a secretária de Estado adjunta para o Sul da Ásia, Alice Wells.
Desde o anúncio da revogação do estatuto especial, no domingo, a região está sob bloqueio de comunicações, com os acessos viários interditados e as atividades escolares suspensas. Desde então, repetem-se manifestações contra a medida, que equivale na prática à anexação do território pela Índia. No Paquistão, grupos extremistas islâmicos saem às ruas diariamente em regiões fronteiriças à Índia, onde os protestos se concentram em Bangalore. Na Caxemira, o blecaute de informações dificulta a obtenção de notícias, mas a agência de notícias Press Trust of India mencionou a prisão de 100 pessoas, incluindo líderes políticos locais, principalmente na região de Srinagar, onde se concentra a população muçulmana do território. De acordo com a Agência France-Presse (AFP), um manifestante teria morrido.
;Sabemos que a Caxemira luta e que vai explodir, só não sabemos quando;, disse à AFP uma fonte das forças de segurança no Vale de Srinagar. Tropas indianas, incluindo 80 mil efetivos enviados como reforço no fim de semana, estabeleceram postos de controle nas ruas, com obstáculos e arame farpado. Além da população local, também os jornalistas ficaram praticamente sem liberdade de movimento. ;É um bloqueio sem precedentes;, queixou-se um fotógrafo que trabalha há mais de 30 anos no território.
Para os moradores, restou o consolo de terem tido tempo para comprar alimentos, água e gêneros de primeira necessidade antes de ser imposto o virtual estado de sítio. Segundo relatos, as autoridades indianas invocaram a ameaça iminente de violência e atentados para justificar as medidas de segurança. ;Durante dias, mentiram para nós sobre complôs terroristas;, disse um deles. ;Pelo menos, todos puderam fazer estoques antes de nos enjaularem.;
;Ordenei a ativação de todos os canais diplomáticos para expor o brutal regime racista da Índia e as violações dos direitos humanos;
Imran Khan, primeiro-ministro do Paquistão