postado em 09/08/2019 04:06
Donald Trump e Nicolás Maduro caminham para uma espécie de duelo sem retorno com os últimos movimentos de cada lado diante do impasse político na Venezuela. A retirada do governo chavista do ensaio de diálogo com a oposição, na ilha caribenha de Barbados, em resposta a um pacote de sanções com as quais Washington colocou o país em situação semelhante a de Cuba e do Irã, deu aos Estados Unidos a retaguarda para assumir uma posição de liderança nos esforços de outros governos da região para buscar uma transição em Caracas, na avaliação de analistas que acompanham o desenrolar da queda de braço.
;O tempo para o diálogo já passou. Agora, é hora de agir;, resumiu o conselheiro da Casa Branca para assuntos de Segurança Nacional, John Bolton. Veterano dos governos republicanos de Ronald Reagan e George W. Bush, expoente da linha dura no Departamento de Estado, Bolton tem sido o principal porta-voz dos que defendem, na equipe de Trump, uma ação mais decisiva para forçar a saída de Maduro do poder.
O processo de negociação inciado em Barbados foi mediado pela Noruega, que promoveu recentemente contatos iniciais entre as partes em Oslo ; palco de processos de paz, como o desenvolvido entre Israel e os palestinos, no início dos anos 1990. Entre as ideias colocadas sobre a mesa estavam a antecipação de eleições na Venezuela, em troca do relaxamento das sanções econômicas. Ao adotar o caminho oposto, com medidas que punem empresas americanas e de terceiros países que mantenham transações com o regime chavista, os EUA podem ter dado a Maduro a justificativa para romper o diálogo.
No anúncio da retirada de seus representantes do processo de Barbados, o presidente venezuelano desafiou a oposição ao se colocar publicamente sobre o que o chavismo e seus aliados classificam como ;o bloqueio econômico; americano. O novo pacote de Washington foi criticado pelos governos de Cuba, Rússia e China, que chegou a exigir de Trump que ;deixe de assediar; o regime de Maduro. A alta representante das Nações Unidas para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que no mês passado condenou duramente a repressão imposta à oposição venezuelana, reforçou o coro contrário às medidas anunciadas pelos EUA.
;Trump está configurando como será a política venezuelana do futuro e, acima de tudo, como será a oposição do futuro;, analisa o centista político Ricardo Sucre, ouvido pela agência de notícias France-Presse. ;Com as últimas sanções, é possível dizer que Trump passa a ser na prática o líder da oposição (na Venezuela).;
Sem opções
Observadores do cenário consideram sintomático o silêncio do líder oposicionista Juan Guaidó, proclamado presidente interino pela Assembleia Nacional, em janeiro, e reconhecido por mais de 50 países ; entre eles, os EUA e o Brasil. David Smilde, estudioso de assuntos latino-americanos na Universidade de Tulane, nos EUA, avalia que o novo pacote de sanções americanas configura o predomínio de Bolton na fixação da política de Washington para a Venezuela. Mas, ao mesmo tempo em que investe na tentativa de asfixiar o regime chavista, o governo Trump não dá sinais de que se disponha a arriscar uma saída pela força.
;Há pouco ou nenhum movimento, na Casa Branca, na direção de algum tipo de solução militar para o conflito;, afirma Smilde. ;É fato que estão trabalhando de forma agressiva, mas isso pode despertar apoio internacional para a mesa de negociações.;
"O tempo para o diálogo já passou. Agora, é hora de agir;
John Bolton, conselheiro da Casa Branca para assuntos de Segurança Nacional