Agência Estado
postado em 11/08/2019 21:13
Durante cinco horas, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, depôs ante três promotores que investigam uma ata que aparentemente foi assinada em segredo com o Brasil para a utilização da eletricidade da usina de Itaipu, em um negócio que seria prejudicial para o Paraguai.
O documento foi rubricado por representantes dos dois países em 24 de maio passado em Brasília, mas em 1º de agosto o Paraguai o anulou de maneira unilateral, após o surgimento de uma grande polêmica que resultou em protestos, da população e de partidos opositores, e também a renúncia de várias autoridades paraguaias. A chancelaria brasileira até o momento não aprovou essa revogação.
O tema se tornou controverso porque poderia prejudicar o Paraguai com a venda de energia excedente da usina para o Brasil. Itaipu é compartilhada pelos dois países.
"O presidente respondeu nossas perguntas, mas não podemos dar detalhes porque a investigação continua", afirmou neste domingo a promotora Liliana Alcaraz em entrevista coletiva em uma sala da residência oficial do presidente em Assunção.
Os demais agentes do Ministério Público - Susy Riquelme e Marcelo Pecci - confirmaram que o chefe de Estado colocou à disposição seu telefone celular para verificar as mensagens a diferentes funcionários sobre a assinatura da ata.
Itaipu foi construída em 1974 sobre o rio Paraná e tem 20 turbinas. A represa gera eletricidade desde 1984 e cada país é dono de 50% da produção. Como o Paraguai consome somente 16% dessa energia, tem a liberdade para ceder o excedente ao Brasil, que desde 2009 paga US$ 340 milhões anualmente.
O acordo causou irritação no Paraguai porque a assinatura do documento implicaria que esse país perderia todos seus excedentes e, caso chegasse a precisar de parte dessa energia por, por exemplo, uma queda na produção, teria de comprá-la do Brasil, mas a um preço maior do que o vendeu.
Após ser conhecido o conteúdo da ata, o presidente da estatal Administração Nacional de Eletricidade (Ande), Pedro Ferreira, pediu demissão, dizendo que não concordava com o texto. Ferreira explicou que a assinatura ocorreu de modo secreto, que os técnicos não foram convidados e que o acordo obrigava o Paraguai a contratar de 2019 a 2022 a compra da energia excedente de Itaipu.
Apesar de ser bilateral, Itaipu vende sua produção à Ande do Paraguai e à Petrobras do Brasil e proíbe a comercialização para outras nações.
O novo ministro das Relações Exteriores paraguaio, Antonio Rivas, disse que as negociações entre os dois países voltarão ao nível técnico. O antecessor dele, Luis Castiglioni, renunciou há alguns dias por causa do escândalo.
O Partido Liberal Radical Autêntico, o maior da oposição, defendeu na semana passada que o Congresso realize um julgamento político que poderia resultar no impeachment de Abdo Benítez e de seu vice, Hugo Velázquez. A sigla, porém, não reuniu os votos necessários para abrir o processo. A chancelaria brasileira emitiu um comunicado no qual expressa que "o Brasil confia que o processo será conduzido sem ruptura da ordem democrática". Fonte: Associated Press.