postado em 12/08/2019 04:05
A seis meses de se iniciar a temporada das primárias para a eleição presidencial de novembro de 2020, e depois da segunda rodada de debates entre os mais de 20 pré-candidatos a enfrentarem Donald Trump, o Partido Democrata se defronta com um dilema existencial que se repete praticamente há meio século, sempre que se trata de destronar um presidente republicano que parte para a reeleição. As pesquisas de opinião entre o eleitorado de oposição seguem indicando um favorito destacado. Joe Biden, vice de Barack Obama e expoente da ala moderada, lidera as preferências com 34%, o dobro das intenções de voto do concorrente mais próximo, o senador Bernie Sanders, um dos porta-vozes do flanco esquerdo. Em seguida, mais duas senadoras do campo chamado de liberal, Kamala Harris (9%) e Elizabeth Warren (8%).
À primeira vista, o cenário parece caminhar para uma definição segura, inclusive pela divisão da base mais identificada com as posições à esquerda entre três nomes, sem que nenhum deles se sobressaia. Mas o transcurso dos debates, com os pré-candidatos divididos em dois grupos de 10, evidenciou as dificuldades do partido para encontrar alguém capaz de resgatar o entusiasmo gerado por Obama em 2008, quando surpreendeu a favorita Hillary Clinton e arrastou para as urnas uma legião de novos eleitores, enchendo de energia alguns dos nichos sociais clássicos dos democratas: brancos da classe operária, negros e hispânicos.
Biden aposta na boa receptividade que exibe entre essas três categorias e na ideia de que seria a opção mais viável, eleitoralmente, para disputar com Trump. Mas, no palco, pareceu pouco incisivo diante de um confronto no qual ficaram expostas as fraturas ideológicas da oposição e uma falta de sintonia entre os candidatos e o americano médio. Pior: pesa contra ele, na caminhada para as primárias, uma espécie de ;maldição; que persegue os democratas que largam na dianteira na disputa interna (Leia abaixo). No balanço de perdas e ganhos das etapas iniciais, são os estrategistas republicanos que comemoram.
;Devem estar soltando fogos na Casa Branca;, comenta o consultor político Russ Schrieffer, que assessorou Mitt Romney, em 2012, na derrota para Obama. Ele toma como exemplo a acirrada discussão entre os pré-candidatos sobre a reforma do sistema de saúde, um tema no qual Biden sofreu críticas pesadas pelas realizações da administração na qual foi o vice-presidente. Bernie Sanders e Elizabeth Warren, que subiram ao palco na mesma noite, rivalizaram no esforço de apresentar as propostas mais extremas, como a extensão universal da cobertura gratuita ; uma ideia que tem aprovação de um terço dos americanos, nas pesquisas. ;Serão por essas políticas que os democratas serão reconhecidos na campanha presidencial;, sustenta Schrieffer. ;Certamente, essa será a imagem que os comitês de Trump vão explorar.;
O próprio presidente encarregou-se de confirmar o consultor ao ironizar, como é de seu estilo, o desempenho dos possíveis adversários. ;Passaram mais tempo atacando Obama do que falando mal de mim;, discursou Trump durante comício em Ohio. Sem adversários no partido, ele está, desde já, em plena campanha, mobilizando as bases republicanas, em especial nos estados-pêndulo que definiram sua vitória em 2016. O mesmo foco de preocupação aparece na carta aberta enviada aos pré-candidatos por um democrata peso-pesado, Rahm Emanuel, que foi chefe de gabinete de Obama na Casa Branca. ;Com muita frequência, vocês sucumbem à tentação de buscar ;curtidas; nas redes sociais e, com isso, fecham as portas para os eleitores indecisos de Ohio, Pensilvânia, Michigan ou Wisconsin;, advertiu.
;Não vi ninguém falar da classe média ou de como reduzir a carga tributária que pesa sobre ela ; só falaram sobre quanto aumentar esses impostos;, observa outro estrategista republicano, Alex Conant. Ele cita uma pesquisa do Instituto Marista, segundo a qual apenas 38% dos entrevistados aceitam incluir imigrantes ilegais na saúde pública, taxa semelhante à dos que apoiam descriminar a imigração ilegal. Ambas as propostas, defendidas pelos ;esquerdistas;, foram combatidas pelo campo oposto.
;O que os moderados fizeram, nos debates, foi apenas ressaltar o quanto os outros candidatos estão fora de sintonia com os eleitores comuns;, reforça um dos mais celebrados consultores governistas, Karl Rove, artífice das duas vitórias eleitorais de George W. Bush. ;Essa ideia de dar assistência médica gratuita aos ilegais simplesmente não passa pela goela de um chefe de família de Michigan.; Ned Ryun, que chefia a American Majority, um grupo conservador que trabalha justamente esse segmento do eleitorado, parece convencido da reeleição de Trump. ;Basicamente, os democratas estão escolhendo qual deles irá para o sacrifício em 2020.;
Devem estar soltando fogos na Casa Branca;
Russ Schrieffer, consultor político pró-Trump
A ideia de dar assistência médica gratuita aos imigrantes ilegais não passa pela goela de um chefe de família de Michigan;
Karl Rove, estrategista de campanha de George W. Bush
Vocês sucumbem à tentação de buscar ;curtidas; nas redes sociais e, com isso, fecham as portas para os eleitores indecisos de Ohio, Pensilvânia, Michigan ou Wisconsin;
Rahm Emanuel, chefe de gabinete de Barack Obama