Agência Estado
postado em 14/08/2019 20:42
A defesa do egípcio que mora no Brasil acusado pelo FBI de envolvimento com o grupo terrorista Al-Qaeda, Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, entrou com um recurso na segunda-feira contra decisão do Comitê Nacional Para os Refugiados (Conare), que negou pedido de refúgio em seu nome.
Apesar de Ibrahim estar legalmente no Brasil como residente, o advogado que faz a defesa do caso, Ronaldo Musslim Vaz de Oliveira, justifica que a condição de refugiado é essencial para que o egípcio não seja extraditado, caso tal solicitação seja feita ao Brasil.
"É importante o refúgio, para que ele saia desse status de residente e possivelmente no futuro consiga obter a cidadania brasileira", explicou Oliveira à reportagem.
Questionado sobre o motivo que impede que a cidadania brasileira seja expedida, o advogado relata que Ibrahim "não consegue corresponder a todos os requisitos" para tal.
"Um deles é não ter processos criminais em aberto. No Egito, o nome dele foi lançado como pessoa que deveria ser procurada e isso se deu por causa da oposição ao governo", justifica.
Ibrahim reside desde 2017 no Brasil, segundo seu advogado, e desde 2018 é reconhecido como residente legal, como informou nota do Ministério das Relações Exteriores e da Justiça.
O egípcio é casado com uma brasileira e tem uma loja de móveis em Guarulhos, na grande São Paulo.
À reportagem, o advogado de Ibrahim defendeu que a acusação "é uma forma de tentar transformar opiniões políticas contrárias ao governo atual (do Egito), para tentar criminalizar".
Oliveira reforçou que não há processos por parte do governo brasileiro contra Ibrahim, explicando que a acusação somente está baseada no FBI.
"Eu tive acesso a alguns documentos (do FBI), mas que não demonstram veracidade. Não há detalhes sobre a atuação dele, sobre dias ou horários que ele tenha feito algo" que poderia incriminá-lo, relatou.
Apesar de burocraticamente não haver mais processos contra Ibrahim, a Polícia Militar de São Paulo esteve em sua casa com um mandado de busca e apreensão na madrugada de terça-feira. Os policiais foram embora sem levar nada.
Relembre o caso
Na noite de segunda-feira, o FBI divulgou anúncio onde especifica que Ibrahim está na lista de procurados do órgão, por "planejamento de ataques contra os Estados Unidos e seus interesses, e no fornecimento de apoio material para Al-Qaeda desde, aproximadamente, 2013".
A defesa de Ibrahim alega que ele seja vítima de perseguição política no Egito, por ter sido partidário do partido político formado pelo grupo Al-Gamaa al-Islamiya, conhecido como "O Grupo Islâmico", de alinhamento sunita.
A organização é considerada terrorista pelos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia por atacar o governo egípcio na década de 90 com o apoio do Irã, Sudão e da Al-Qaeda.
Após a Primavera Árabe no Egito, em 2011, o Al-Gamaa criou um partido político, decorrente de negociações de paz no país.
Com a deposição pelo exército do ex-presidente Mohammed Morsi, em 2013, morto em 2019, o Al-Gamaa, assim como outros partidos, foi considerado terrorista pelo atual presidente militar Abdel Fattah el-Sisi, e seus membros perseguidos.