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Um pedido, uma ordem

O presidente dos EUA, Donald Trump, adverte a Israel que permitir a entrada de duas deputadas democratas no país seria "sinal de grande fraqueza". Netanyahu proíbe acesso e cita legislação antiboicote. Congressistas visitariam a Palestina

postado em 16/08/2019 04:06
Ilhan Omar (E) e Rashida Tlaib (D) ouvem discurso da colega Ayana Pressley, acompanhadas de Alexandria Ocasio-Cortez (C): na mira de Trump


Donald Trump conseguiu o que desejava. Em uma intervenção incomum, o presidente norte-americano usou o próprio Twitter para pressionar o governo israelense a impedir a entrada no país das congressistas democratas Ilhan Omar e Rashida Tlaib. ;Mostraria grande fraqueza se Israel permitisse as visitas das deputadas Omar e Tlaib. Elas odeiam Israel e todo o povo judeu, e não há nada que possa ser dito ou feito para mudarem de ideia. Minnesota e Michigan terão dificuldades, colocando-as de volta ao cargo. Elas são uma desgraça!”, escreveu o magnata, referindo-se aos berços eleitorais das legisladoras.

Tlaib, de ascendência palestina, e a também muçulmana Omar pretendiam visitar a Cisjordânia amanhã, mas o Ministério do Interior de Israel confirmou que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu atendeu ao pedido do republicano e negou a entrada de Omar e de Rashida. Lideranças do Partido Democrata e palestinas condenaram a decisão do Estado judeu.

Para justificar a medida, Israel se baseou em uma legislação que veta a entrada de estrangeiros que apoiam o boicote ao país. ;Nenhum país no mundo respeita os EUA e o Congresso americano mais do que o Estado de Israel. Como uma democracia livre e vibrante, Israel está aberto a críticas, com uma exceção: a lei israelense proíbe a entrada daqueles que apelam e trabalham para impor boicotes a Israel, assim como outras democracias que previnem o acesso de pessoas que acreditam serem prejudiciais à nação;, afirmou Netanyahu, por meio de um comunicado.

Também em nota, Hanane Achraui ; integrante do comitê executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) ; classificou de ;escandalosa; a decisão de Israel. ;A decisão israelense de proibir as eleitas do Congresso Rashida Tlaib e Ilhan Omar de visitarem a Palestina é um ato de hostilidade escandaloso contra o povo americano e seus representantes.; As congressistas também exibiram repúdio ante o anúncio israelense. A refugiada somali Ilhan Omar, 37 anos, considerou ;uma afronta que Netanyahu, sob pressão do presidente Trump, negue a entrada de deputadas do governo dos EUA;. De acordo com ela, Israel está implementando ;o veto muçulmano de Trump;. Por sua vez, Rashida Tlaib, 42, filha de imigrantes palestinos, reagiu publicando uma imagem da avó (veja foto).

Em peso, a bancada democrata demonstrou apoio às colegas. Líder da minoria no Senado, Chuck Schumer advertiu que ;negar a entrada de membros do Congresso dos EUA é sinal de fraqueza, não de força;. ;Isso apenas danificará o relacionamento entre EUA e Israel, e o apoio a Israel na América;, alertou, ao lembrar que ;nenhuma sociedade democrática deveria temer um debate aberto;. Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, disse que o veto às deputadas ;está aquém da dignidade do grande Estado de Israel;. ;As declarações de Trump sobre as congressistas são um sinal de ignorância e de desrespeito, e estão aquém da dignidade do gabinete presidencial.;

A senadora Elizabeth Warren, pré-candidata democrata à Casa Branca, afirmou que ;Israel não se promove como uma democracia tolerante ou um aliado inabalável dos Estados Unidos;, ao impedir a entrada de congressistas ;por causa de suas opiniões políticas;. Ela lamentou a ;manobra vergonhosa e sem precedentes;. No mês passado, Trump chegou a escrever uma série de tuítes racistas contra Rashida Tlaib, Ilhan Omar e as também deputadas Ayanna Pressley (afro-americana) e Alexandria Ocasio-Cortes, de ascendência porto-riquenha.

Em entrevista ao Correio, Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, avaliou a decisão de Israel como ;nada menos do que ultrajante;. ;Omar e Tlaib são funcionárias do governo americano e têm direito de emitir suas opiniões. Israel não pode impedir a entrada de pessoas apenas por não concordarem com as políticas do governo;, disse. Ele também qualificou de ultrajante a recomendação feita por Trump pelo Twitter. ;O presidente deveria ter permanecido em silêncio ou falado em nome das autoridades americanas. Mas um racista como Trump não possui tal capacidade;, disparou. Ben-Meir vê o banimento das deputadas como uma ofensa ao Partido Democrata. ;Isso sugere como Netanyahu e Trump estão equivocados e fora da realidade.;


"A ironia no fato de a ;única democracia; no Oriente Médio tomar tal decisão é que trata-se de um insulto aos valores democráticos e uma resposta fria à visita de autoridades de uma nação aliada;

Ilhan Omar, deputada por Minnesota


;Estou aqui por minha avó;



A deputada Rashida Tlaib publicou uma foto da avó palestina no Twitter, ao comentar o fato de ser impedida de viajar a Israel. ;Esta mulher aqui é minha sity (avó). Ela merece viver em paz e com dignidade humana. Estou aqui por causa dela. A decisão de Israel de barrar a sua neta, uma congressista dos Estados Unidos, é sinal de fraqueza, pois a verdade sobre o que está ocorrendo com os palestinos é assustadora;, escreveu em seu perfil na rede social.


Eu acho...

;Israel demonstra fraqueza ao bani-las de entrar no país. Isso mostra que Netanyahu segue as ordens de Trump e exibe o medo israelense da publicidade negativa, quando as deputadas mostrarem a face real do sistema de apartheid em Israel.;


Medea Benjamin, cofundadora o grupo pacifista Code Pink



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