postado em 16/08/2019 04:06
A cada ano, milhões de toneladas de lixo plástico são jogadas nos rios e acabam nos oceanos, onde lentamente se decompõem em fragmentos que vão ficando cada vez menores devido ao movimento das ondas e à ação dos raios ultravioletas. Essas minúsculas partículas de plástico acabam de ser detectadas no Ártico e nos Alpes, para onde foram transportadas pelo vento e, depois, depositadas na neve. A descoberta, feita por cientistas alemães e suíços, foi divulgada em um estudo publicado na revista americana Science Advances.
No artigo, os cientistas explicam que os microplásticos ; definidos como partículas com menos de cinco milímetros de comprimento ; são removidos do ar por meio de precipitações, particularmente de neve, ao completar-se o ciclo da água. ;É evidente que a maioria do microplástico na neve vem do ar;, frisa, em comunicado, Melanie Bergmann, autora principal do artigo e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Alfred Wegener, na Alemanha. O estudo também contou com a participação de cientistas do Instituto de Pesquisa de Neve e Avalanches da Suíça.
Melanie Bergmann e sua equipe utilizaram uma tecnologia de imagem infravermelha para analisar amostras de gelo flutuante coletadas, entre 2015 e 2017, no Estreito de Fram, localizado na costa nordeste da Groenlândia. Com o uso de helicópteros e botes, eles se aproximaram de cinco icebergs para realizar as coletas. Depois, compararam o material com amostras coletadas nos remotos Alpes suíços e em Bremen, no noroeste da Alemanha. As concentrações de micropartículas no Ártico foram bem mais baixas que nos lugares europeus, mas, de todo modo, eram significativas.
Poeira e pólen
A hipótese dos pesquisadores em relação ao transporte aéreo tem como base pesquisas anteriores sobre o pólen, quando se constatou que minúsculos grãos produzidos pelas flores, procedentes de locais próximos ao Equador, acabavam indo parar no Ártico. Do mesmo modo, a poeira do Deserto do Saara pode atravessar milhares de quilômetros e terminar no nordeste da Europa, segundo os especialistas.
Os autores do estudo divulgado nesta semana alertam que os efeitos da exposição aos microplásticos foram pouco estudados e que são necessárias mais pesquisas sobre os efeitos do material na saúde humana e dos animais. ;Uma vez que determinamos que grandes quantidades de microplásticos também podem ser transportadas pelo ar, naturalmente surge a pergunta se estamos inalando plástico e em que quantidade;, diz Melanie Bergamm.