postado em 19/08/2019 04:28
A chuva tropical e o policiamento ostensivo não impediram que milhares de pessoas voltassem às ruas, ontem, em Hong Kong. Apesar da ameaça de intervenção militar de Pequim, o protesto contra o governo manteve a força. A mobilização, que começou em junho e não tem precedentes na ex-colônia britânica, teve a imagem manchada, na semana passada, depois de cinco dias de paralisação no aeroporto.
A Frente Civil de Direitos Humanos (CHRF), que convocou uma manifestação ;não violenta;, anunciou que mais de 1,5 milhão de ativistas participaram dos protestos deste domingo ; número surpreendente, ante o fato de que Hong Kong tem apenas 8 milhões de habitantes. Por sua vez, as autoridades confirmaram a presença de 128 mil manifestantes reunidos no Victoria Park, o coração da ilha. Os policiais, entretanto, não incluíram na estimativa as pessoas que estavam em ruas adjacentes.
O grupo se reuniu durante o início da tarde no parque, sob uma chuva torrencial, formando um mar de guarda-chuvas multicoloridos. Em seguida, os manifestantes marcharam rumo ao distrito do Almirantado, mais a oeste, desafiando a proibição da polícia, que permitia apenas uma mobilização estática no parque. O movimento denunciava, mais uma vez, a violência policial.
Morador de Hong Kong, o assistentesocial Chan Ching Wa Jonathan, 54 anos, é um sobrevivente e conhece a fundo o risco de repressão por parte da China. Em 4 de junho de 1989, ele estava em Pequim para participar dos protestos da Praça da Paz Celestial e escapou de ser morto pelas forças chinesas. Ontem, Chan saiu às ruas da metrópole para protestar e se disse orgulhoso pelo que viu. ;Apesar de as pessoas terem diferenças em termos de táticas, elas eram como uma massa uniforme ao apresentarem suas demandas. Em terríveis circunstâncias e nas horas mais sombrias, os cidadãos de Hong Kong seguem lutando;, afirmou ao Correio. ;Nas ruas, nós gritávamos ;Respondam às nossas cinco demandas!’ e ;A polícia de Hong Kong, que supostamente defenderia a lei, quebrou a lei;;, acrescentou.
Alguns moradores reconheceram um aumento na violência entre os ativistas ; pedras e coquetéis molotov chegaram a ser usados contra a polícia nas últimas semanas. ;Certos manifestantes têm uma maneira extrema de expressar seus pontos de vista;, admitiu Ray Cheng, 30 anos. ;Eu sou contra a violência;, explicou a senhora Wong, de 54 anos. ;Mas o que os radicais fazem é quebrar vidros, não machucam ninguém, enquanto a polícia deixa feridos;, denunciou.
Os protestos em Hong Kong tiveram início em junho em oposição a um projeto de lei controverso que autoriza extradições para a China continental. Desde então, a mobilização ampliou as reivindicações para pedir um verdadeiro sufrágio universal. Dez semanas depois da primeira manifestação, o movimento praticamente não obteve nada do Executivo pró-Pequim, sediado em Hong Kong. A ausência de avanços empurrou os ativistas para ações mais contundentes, como o bloqueio do aeroporto internacional, na semana passada, quando centenas de voos tiveram que ser cancelados, causando uma série de transtornos.
Eu acho...
;Hong Kong está fazendo história. Este é um grande momento. Eles estão lutando na linha de frente contra a sombra expansiva da China totalitária. Sua luta encoraja a todos nós. Eles o fazem com força e com estilo, reclamando sua liberdade com coragem. Eu descarto um novo massacre de Tiananmen. Se a China usar a força militar em Hong Kong, isso será o fim do Partido Comunista Chinês. O partido precisa de Hong Kong, que é insubstituível enquanto centro financeiro e portal do comércio.;
Fengsuo Zhuo, 51 anos, um dos líderes estudantis da Praça da Paz Celestial e sobrevivente do massacre em Pequim
;Fiquei impressionado com o fato de que os moradores de Hong Kong se atreveram a enfrentar a ameaça de uma possível incursão do Exército Popular de Libertação do outro lado da fronteira e saíram em grande número. Apesar das táticas brutais e pesadas usadas pela polícia e de um governo que permanece alheio às vozes da população, nós decidimos manter o rumo a qualquer momento.;
Chan Ching Wa Jonathan, 54 anos, assistente social, sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial e manifestante em Hong Kong
Estado Islâmico assume carnificina em Cabul
O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou, ontem, a autoria do atentado suicida que deixou pelo menos 63 mortos e 182 feridos na noite de sábado, em uma festa de casamento em Cabul, capital do Afeganistão. ;Ontem o irmão suicida Abu Assem al-Pakistani (...) conseguiu ferir um grande grupo (...) de apóstatas (infiéis); em Cabul, ao detonar ;seu cinturão quando estava no meio da multidão;, declarou a facção, por meio do Telegram. ;Depois da chegada de membros da segurança, os mujahedines (guerrilheiros islâmicos) detonaram um carro-bomba;, completou a mesma fonte. Composto por islamistas radicais sunitas, o EI já atacou a comunidade xiita do Afeganistão, em diferentes ocasiões. Este era o caso da família dos noivos. A carnificina ocorreu às 22h40 (15h em Brasília) de sábado, no salão de casamentos Shar Dubai, na região oeste da capital afegã. Entre as vítimas, há mulheres e crianças.