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Evolução do cérebro foi mais complexa do que o imaginado

Correio Braziliense
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postado em 22/08/2019 04:07
Pesquisa é resultado da análise de um fóssil de 20 milhões de anos encontrado nos Andes chilenos
Há muito se pensava que o tamanho do cérebro dos primatas antropoides ; um grupo diverso que inclui macacos modernos e extintos, humanos e seus parentes mais próximos ; aumentava progressivamente com o tempo. Novas pesquisas em um dos mais antigos e completos crânios de primatas fósseis da América do Sul, porém, mostram que o padrão de evolução cerebral não foi bem assim.

O estudo, publicado na revista Science Advances e liderado por pesquisadores do Museu Americano de História Natural, da Academia Chinesa de Ciências e da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, sugere que o cérebro se expandiu repetida e independentemente ao longo do curso da história antropoide. Foi um processo mais complexo do que anteriormente reconhecido.

;Os seres humanos têm cérebros excepcionalmente grandes, mas sabemos muito pouco sobre até onde essa característica-chave começou a se desenvolver;, disse a principal autora do estudo, Xijun Ni, pesquisadora do museu e da Academia Chinesa de Ciências. ;Isso se deve em parte à escassez de crânios fósseis bem preservados de ancestrais muito antigos.;

Ni liderou um estudo detalhado de um excepcional fóssil antropoide de 20 milhões de anos descoberto nas montanhas dos Andes chilenos. Apenas esse espécime foi encontrado até hoje, da espécie conhecida como Chilecebus carrascoensis. ;O Chilecebus é um daqueles fósseis raros e verdadeiramente espetaculares, que revelam insights e conclusões surpreendentes todas as vezes que é estudado;, conta a cientista.

Pesquisas anteriores da equipe forneceram uma ideia aproximada da encefalização do animal (tamanho do cérebro em relação ao do corpo). Um alto quociente de encefalização (EQ) significa um cérebro grande para um animal de um determinado tamanho corporal. A maioria dos primatas tem EQs elevados em relação a outros mamíferos, embora alguns ; especialmente os humanos e seus parentes mais próximos ; apresentem QEs ainda maiores do que outros.

Tomografia

O estudo avança ainda mais, ilustrando os padrões de crescimento cerebral por meio da ampla árvore genealógica antropoide. O PEQ (quociente de encefalização filogenética) resultante do Chilecebus é relativamente pequeno: 0,79. A maioria dos macacos vivos, em comparação, tem PEQs variando de 0,86 a 3,39, com humanos chegando a um extraordinário 13,46 e expandindo dramaticamente os tamanhos do cérebro, mesmo comparados aos parentes mais próximos. Com essa nova estrutura, os pesquisadores confirmaram que o aumento cerebral ocorreu repetida e independentemente na evolução antropoide, em linhagens do Novo e do Velho Mundo, com ocasionais diminuições de tamanho.

A tomografia computadorizada de raios X de alta resolução e a reconstrução 3D digital do interior do crânio de Chilecebus deram à equipe de pesquisa novas percepções da anatomia do cérebro. Nos primatas modernos, o tamanho dos centros visual e olfativo é negativamente correlacionado, refletindo um potencial trade-off evolutivo ; isso significa que os primatas visualmente aguçados normalmente têm olfato mais fracos.

Surpreendentemente, os pesquisadores descobriram que um pequeno bulbo olfatório no Chilecebus não era contrabalançado por um sistema visual amplificado. Essa descoberta indica que, na evolução dos primatas, os sistemas visual e olfativo estavam muito menos fortemente acoplados do que se supunha até agora.

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