postado em 25/08/2019 04:05
Osábado marcou o fim de 10 dias de relativa calmaria em Hong Kong, onde a polícia de choque voltou a dispersar, com gás lacrimogêneo, manifestantes radicais pró-democracia. Após uma passeata pelo bairro de Kwun Tong, na zona leste da parte continental da cidade, os ativistas foram interceptados pela tropa, ergueram barricadas e confrontaram as forças de segurança. Reincorporada à China em 1997, após século e meio como colônia britânica, mantendo o sistema econômico capitalista e relativa autonomia de administração, Hong Kong vive desde o fim de junho a mais grave crise política desde então.
A imprensa relatou a prisão de vários manifestantes, em especial os que passaram a atirar garrafas e outros objetos na tropa de choque. Vários dos mais radicais vestiam roupas negras e escondiam o rosto com máscaras. Depois de arrancar paralelepípedos do calçamento para improvisar barricadas, eles proclamavam lemas como ;o pacifismo não vai resolver o nosso problema;. ;Foi o governo que recusou o diálogo;, acusou um deles, ouvido pela agência de notícias France-Presse.
A turbulência política em Hong Kong teve início em junho, quando a governadora Carrie Lam, indicada pelo regime comunista de Pequim, apresentou ao Legislativo local um projeto de lei que permitiria a extradição de presos do território para a China continental. A medida, considerada uma ferramenta para reforçar a repressão a dissidentes, motivou uma onda de manifestações que resultou na retirada provisória do projeto.
O desenrolar do movimento engrossou a lista de demandas. Agora, os ativistas exigem o abandono total da lei de extradição, a abertura de investigação sobre alegados abusos de violência por parte da polícia e a renúncia da governadora. Ao fim de semanas seguidas de manifestações pacíficas, o clima na cidade entrou em uma escalada de tensão. Grupos ligados a gangues locais, conhecidas como tríades, emboscaram ativistas em estações de trem. O aeroporto internacional foi bloqueado por três dias, forçando o cancelamento de voos, e um jornalista da mídia pró-Pequim foi agredido, sob a acusação de ;espionar; o protesto.
;Eu não vejo nenhum com esse regime, e por isso estou cada vez mais na linha de frente;, disse um manifestante ouvido pela France-Presse, sem revelar o próprio nome. Mais moderado, Dee Cheung, 65 anos, elogiou, ainda que com algumas reservas, o desprendimento dos jovens que assumiram a liderança dos protestos. ;Eles estão nas ruas colocando o próprio futuro em risco, e isso por Hong Kong;, elogiou. ;Nós não concordamos com tudo o que eles fazem, especialmente com aqueles que atacam a polícia. Mas também temos de questionar por que eles fazem isso.;
O governo de Pequim mantém até aqui distância prudente da crise, mas o escritório do regime que responde por assuntos de Hong Kong advertiu, na semana passada, sobre o ;perigo; representado por ;ações que caracterizam terrorismo;. Unidades militares foram deslocadas para a fronteira com o território, mas a hipótese de intervenção direta não foi mencionada.