Agência France-Presse
postado em 25/08/2019 13:48
Um policial de Hong Kong disparou pelo menos uma vez com sua arma de fogo neste domingo (25) e a polícia usou canhões de água contra manifestantes radicais na ex-colônia britânica abalada por protestos pró-democracia.
"Pelo que entendi, um colega acabou de atirar com sua arma de fogo. O que soube é que um policial uniformizado fez o disparo", declarou um policial de Hong Kong, Leung Kwok Win, a jornalistas.
No momento ocorriam confrontos violentos entre manifestantes pró-democracia e policiais em Tsuen Wan, a cerca de 10 quilômetros do centro da cidade.
Não foi possível saber quem era o alvo, mas esta foi a primeira vez que uma arma de fogo foi disparada desde que os protestos começaram em Hong Kong, três meses atrás.
O território semi-autônomo, um dos principais centros financeiros do mundo, vem sofrendo sua pior crise política desde sua devolução à China, em 1997.
Nascido da oposição a um projeto de lei, atualmente suspenso, visando autorizar as extradições para a China continental, o movimento se transformou em uma campanha mais global por mais democracia e proteção das liberdades.
Milhares de pessoas voltaram às ruas silenciosamente neste domingo sob forte chuva em Tsuen Wan. Mas manifestantes radicais ergueram uma barricada e jogaram pedras e coquetéis molotov contra agentes da polícia.
Depois de fazer uso de gás lacrimogêneo, que não surtiu o efeito desejado, a polícia de choque usou canhões de água contra os manifestantes.
Até à data, as forças de ordem jamais utilizaram essa técnica de dispersão. Comum no Ocidente, constitui uma novidade em Hong Kong e, por essa razão, a população é extremamente sensível ao seu emprego.
"Com a polícia e os manifestantes que se radicalizam, os canhões de água passarão a ser usados com frequência no futuro", previu Fong, um manifestante entrevistado pela AFP.
;Futuro sombrio;
Desde o início do movimento, a reação do governo central tem sido mista.
Embora não tenha o direito legal de intervir diretamente em Hong Kong, Pequim usou uma série de métodos, desde intimidação até propaganda e pressão econômica, para tentar conter a oposição.
O MTR - o metrô de Hong Kong - está atualmente enfrentando críticas públicas, depois de aparentemente ter cedido às críticas da mídia oficial chinesa que acusou a empresa de estar a serviço dos movimentos dos manifestantes.
Neste domingo, algumas estações do bairro de Tsuen Wan, próximas do local do protesto principal, foram fechadas pelo segundo dia consecutivo.
"Mesmo que nosso futuro seja sombrio, tentamos nos expressar de maneira racional", disse à AFP um jovem manifestante de vinte anos.
"Confiamos em nós mesmos e em nossa cidade, e um dia nossas demandas serão atendidas".
Um segundo protesto de várias centenas de pessoas, incluindo parentes de policiais, também foi realizado em outro local da cidade na tarde deste domingo.
Uma mulher que alegou ser a esposa de um policial se junto ao protesto para declarar seu apoio à polícia.
"Acredito que durante estes dois meses a polícia foi suficientemente desonrada", disse ela. "Eu realmente quero que saibam que, mesmo que o mundo inteiro cuspa em vocês, nós, da família, não faremos isso".
A polícia do território, regularmente criticada pelos manifestantes, tem sido alvo há semanas da ira dos manifestantes.
No sábado, a polícia enfrentou os manifestantes radicais que ergueram uma barricada no leste de Hong Kong. Os confrontos marcaram o fim de um relativo período de calma de 10 dias.
A polícia disparou gás lacrimogêneo e bateu em manifestantes que atiraram pedras e garrafas.
Dez pessoas foram hospitalizadas como resultado dos confrontos, incluindo duas em estado grave, disseram à AFP responsáveis médicos.