postado em 27/08/2019 04:05
Washington e Teerã romperam as relações diplomáticas em 1980, após a invasão à Embaixada dos Estados Unidos em Teerã por manifestantes e o sucesso da Revolução Iraniana. Quase quatro décadas depois e em meio ao impasse provocado pelo programa nuclear persa, os EUA ensaiam uma reaproximação com o Irã, sob o respaldo dos franceses. No encerramento da cúpula do G7 (os sete países mais ricos do mundo ; França, Alemanha, Gã-Bretanha, Itália, Estados Unidos, Canadá e Japão), o presidente norte-americano, Donald Trump, se disse pronto a se reunir com o homólogo iraniano, Hassan Rohani. ;Se as circunstâncias forem propícias, eu certamente concordo em encontrá-lo;, declarou o magnata republicano, durante entrevista coletiva em Biarritz, balneário no sul da França. ;O Irã é um país de potencial tremendo. Não estamos buscando uma mudança de liderança. Eu realmente creio que o Irã pode ser uma grande nação, mas não pode ter armas nucleares;, ressaltou Trump.
Por sua vez, Rohani contrariou os linhas-duras de seu próprio país, que se opunham a contatos de alto nível com os Estados Unidos. ;Se eu tiver a certeza de que comparecer a uma sessão ou ter um encontro com alguém ajudará a desenvolver o meu país e a resolver os problemas do povo, não hesitarei em fazê-lo;, declarou. Segundo a agência estatal de notícias iraniana Irna, Rohani afirmou que sua nação assegura os interesses nacionais ;com duas mãos de poder e diplomacia;. ;Nós precisamos usar os poderes militar, de segurança, cultural e político para frustrar os problemas criados pelos inimigos;, comentou. ;O que é importante é nosso interesse nacional.;
Anfitrião da cúpula do G7, o presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu no domingo com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, e admitiu ter criado as condições para uma cúpula bilateral entre Trump e Rohani. O encontro deve ocorrer dentro de poucas semanas. A chanceler alemã, Angela Merkel, saudou a nova ;atmosfera de discussões;. ;É um grande avanço;, reconheceu. A ida de Zarif a Biarritz causou surpresa.
Em entrevista ao Correio, Naysan Rafati, analista sobre o Irã do International Crisis Group (ICG), afirmou que parece haver um impulso na iniciativa de Paris de começar a reduzir as tensões entre o Irã e os Estados Unidos. ;Eu espero que, nas próximas semanas, particularmente com a Assembleia Geral das Nações Unidas (entre 17 e 30 de setembro) no horizonte, veremos se há interesse suficiente e disposição de Teerã e de Washington para um arranjo no qual os EUA aliviem parte da pressão econômica e o Irã retome os compromissos com o JCPOA, evitando provocações regionais;, disse, ao citar o Plano de Ação Conjunto Global, o acordo nuclear assinado em 2015 entre Irã, Estados Unidos, França, China, Alemanha, Reino Unido e União Europeia (UE).
Rafati lembrou que, em julho, após a retirada unilateral dos EUA, o Irã começou a violar o JCPOA. ;As prioridades para as partes signatárias remanescentes do pacto incluem reverter essas violações, assegurar que o estoque de urânio enriquecido iraniano e as taxas de enriquecimento retornem aos valores pactuados e evitar uma crise de proliferação imediata;, comentou. ;Se isso puder ser obtido, eventualmente levaria a mais discussões sobre a expansão do acordo nuclear. No entanto, seria um processo de negociação provavelmente mais demorado.;
Teerã tenta forçar um alívio das sanções impostas por Washington que têm sufocado sua economia. Apesar disso, os ultraconservadores do regime não poupam críticas à iniciativa diplomática de Zarif e de Rohani. O jornal Kayhan classificou de ;infeliz; a viagem do ministro à França, por considerar que envia uma ;mensagem de fragilidade e desespero;. Essas iniciativas ;são empreitadas sob a ótica imaginária de uma abertura, mas isso não vai dar nenhum resultado além de mais insolência e pressão; por parte dos EUA, insistiu o jornal. Abdollah Haji-Sadeghi ; representante dos Guardiães da Revolução ; também atacou os ;esforços em vão; e a postura dos EUA. ;Sua hostilidade em relação à Revolução Islâmica e a este conflito são sem fim. Não podemos chegar a uma solução, ou a uma reconciliação pelo diálogo. Não devíamos esperar o que quer que seja além de hostilidade;, declarou, segundo a agência Isna.
Provável convite
a Putin em 2020
Ao fim do encontro do G7, ontem, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que pode convidar o colega russo, Vladimir Putin, para a próxima cúpula em 2020, apesar da exclusão da Rússia do grupo em 2014. O evento será sediado pelos Estados Unidos. ;Eu certamente poderia convidá-lo;, disse o magnata republicano, ao ser questionado sobre a presença de Putin, depois de pedir a reintegração da Rússia. Ele declarou, porém, que não sabe se o presidente russo, que ;é um homem orgulhoso;, aceitaria o convite.
Magnata se nega a mediar a crise na Caxemira
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, negou qualquer possibilidade de se envolver na crise da Caxemira indiana. De acordo com o magnata republicano, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, controla a situação. Nas últimas semanas, Trump chegou a demonstrar disposição de mediar a questão delicada da Caxemira entre Índia e Paquistão. No entanto, depois de uma reunião com Modi, à margem da cúpula do G7, na França, desistiu da ideia. ;O primeiro-ministro tem a impressão de ter a situação sob controle;, disse. A situação na Caxemira, dividida entre Índia e Paquistão, duas potências nucleares, desde 1947, é mais complicada pelo fato de a China reivindicar parte da região. Em 5 de agosto, a Índia revogou a autonomia constitucional da parte sob seu controle. No fim de semana, moradores de Karachi (Paquistão) usaram um boneco de Modi para protestar contra a Índia.
Eu acho...
;Trump sancionou o líder supremo iraniano (aiatolá Ali Khamenei), que deveria autorizar as negociações. Também sancionou o chanceler iraniano, que deveria conduzir os diálogos. Se Trump for sincero sobre as negociações, deve suspender as sanções. Eu não posso imaginar tal encontro, enquanto o aiatolá seguir sancionado pelos EUA.;
Seyed Hossein Mousavian, especialista em Oriente Médio pela Universidade de Princeton