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Ataque acirra os ânimos

Presidente do Líbano classifica de %u201Cdeclaração de guerra%u201D um ataque com drone atribuído a Israel contra reduto do movimento xiita Hezbollah, no subúrbio de Beirute. Estado judeu não se manifesta sobre episódio

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 27/08/2019 04:06
Garoto libanês passa de bicicleta ao longo da fronteira com Israel, perto do vilarejo de Kfar Kila, no sul do Líbano: soberania e independência exaltadas
Num primeiro momento, Beirute denunciou uma ;agressão; por parte de Israel, após a queda de um drone armado atribuído ao país vizinho em seu território. Ontem, o presidente libanês, Michel Aun, subiu o tom e descreveu como uma ;declaração de guerra; o ataque, realizado na véspera, contra os subúrbios ao sul da capital, reduto do movimento xiita Hezbollah. Ao receber o coordenador especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Líbano, Khan Kubis, ele disse que seu país vai se proteger.

;O que aconteceu é uma declaração de guerra que nos dá o direito de defender nossa soberania, nossa independência e nossa integridade territorial;, assinalou Aun durante o encontro, segundo um comunicado divulgado por seu gabinete. Após o suposto ataque, o Hezbollah e o Exército imediatamente acusaram Israel, que não fez comentários a respeito.

O líder xiita Hassan Nasrallah ameaçou Israel com represálias. ;Toda vez que os drones israelenses penetrarem no espaço aéreo do Líbano, vamos trabalhar para derrubá-los;, alertou o chefe do movimento libanês. Horas depois, o movimento palestino pró-sírio e pró-Hezbollah afirmou ter sido alvo ontem pela aviação israelense.

;Houve três ataques hostis contra os arredores da cidade de Qoussaya (leste), onde as posições militares da Frente Popular de Libertação da Palestina-Comando Geral estão localizadas;, segundo a agência de imprensa libanesa ANI. ;Em resposta, disparos antiaéreos foram feitos;, acrescentou, sem identificar a fonte da informação.

Prudência
Diante do clima de tensão crescente, as Nações Unidas pediram ;moderação máxima;. O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse que a organização não está em condições de verificar as informações divulgadas sobre os ataques na região nos últimos dois dias, mas afirmou que ;é imperativo que todos evitem a escalada e cumpram as resoluções do Conselho de Segurança;.

O incidente no subúrbio de Beirute ocorreu antes do amanhecer de domingo, horas depois de Israel anunciar ataques na Síria para impedir, segundo o Estado judeu, que uma força iraniana lançasse um ataque com drones explosivos.

Considerado por Israel e pelos Estados Unidos como uma organização terrorista, o Hezbollah é um importante ator político no Líbano, onde é representado no governo e no parlamento. É também uma força militar que intervém há anos no conflito sírio, em apoio ao regime de Bashar al-Assad.

Nos últimos meses, o movimento xiita e as autoridades israelenses, cujo último conflito aberto data de 2006, multiplicaram as declarações de guerra. Israel tem bombardeado regularmente a Síria contra o Hezbollah e seus aliados, o Irã e Assad. Agora, o conflito transbordou no próprio Líbano.

Ainda no domingo, o presidente Michel Aun considerou que o ataque colocava em risco a estabilidade e a paz na região. ;(Essa) nova agressão é uma tentativa de empurrar a situação para mais tensão;, criticou o primeiro-ministro Saad Hariri, rival do Hezbollah no cenário político libanês. Hariri denunciou ;uma violação da resolução 1701 da ONU; que pôs fim ao sangrento conflito de 2006 entre o movimento xiita e Israel. Os 33 dias de guerra fizeram 1,2 mil mortos no lado libanês e 160 no lado israelense.


;O que aconteceu é uma declaração de guerra que nos dá o direito de defender nossa soberania, nossa independência
e nossa integridade territorial;

Michel Aun, presidente do Líbano

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