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Coalizão à italiana

Termina nesta noite o prazo fixado pelo presidente Sergio Mattarella para que os dirigentes políticos resolvam a crise e evitem a convocação de eleições antecipadas %u2014 solução desejada pela ultradireita, que lidera as pesquisas de opinião

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 28/08/2019 04:06
O premiê demissionário Giuseppe Conte contornou o veto da centro-esquerda para continuar à frente do governo






Ficou para as últimas horas de prazo a definição sobre o futuro político da Itália, ao fim de uma terça-feira marcada por idas e vindas nas negociações para a formação de um novo gabinete, de modo a evitar a convocação de eleições legislativas antecipadas. O Movimento Cinco Estrelas (M5S), legenda de protesto que governava em coalizão com a ultradireitista Liga até esta romper o acordo, ficou a um passo de selar uma nova parceria, com o Partido Democrático (PD, centro-esquerda). O acerto esbarrou na reivindicação do líder do M5S, Luigi di Maio, pela posição de vice-premiê, pretensão rechaçada pelo PD. Os dois partidos têm até a noite de hoje para apresentar uma opção viável de governo ao presidente Sergio Mattarella, que, caso contrário, terá de chamar os italianos de novo às urnas ; como quer o líder da Liga e ministro do Interior, Matteo Salvini.

Di Maio e o lider do PD, Nicola Zingaretti, conseguiram contornar o obstáculo que parecia ter arruinado as negociações na noite de segunda-feira. A legenda de centro-esquerda levantou o veto que apresentava à renovação do mandato de Giuseppe Conte como primeiro-ministro. Embora não tenha filiação partidária, o premiê (demissionário) é visto como uma figura próxima demais ao M5S. Quando o acordo parecia assegurado, Zingaretti bloqueou a indicação de Di Maio como vice-premiê.

No fim da noite, fontes do PD citadas pelo jornal Corriere della Sera davam o processo como ;perto de um impasse;. O motivo seria uma postagem na qual Di Maio anunciou que a proposta de governo seria levada a votação entre os membros do M5S por uma plataforma digital. ;Isso é uma ofensa às instituições;, reagiu um dos dirigentes da centro-esquerda. ;Resolvemos as questões do programa de governo. Falta resolver a questão de Di Maio;, disse, à saída das reuniões, o ;número 2; do PD, Andrea Orlando. Stefano Patuanelli, líder da bancada do M5S, deu a entender que o hoje vice-premiê terá um papel de relevo. ;Ele é o chefe político do nosso partido. Absolutamente, tem de estar no governo com uma posição de relevo;, declarou.

Ambos os lados confirmaram uma reunião marcada para a manhã de hoje, com a finalidade de aparar as últimas arestas. A resistência do PD à confirmação de Di Maio como vice-premiê se sustenta na alegação de que Conte, inicialmente vetado por Zingaretti, é ;um político ligado ao M5S;, ainda que formalmente sem filiação. Com base nisso, a centro-esquerda defendia que o vice saísse dos seus quadros. A legenda de protesto ofereceu duas outras opções: a repetição da fórmula mantida com a Liga, com um vice-premiê para cada partido, ou a supressão do posto no novo gabinete.

Assim como o presidente Sergio Mattarella, os dois partidos correm contra o tempo para evitar a convocação de novas eleições, como pretende o líder da ultradireita. Quando anunciou o rompimento da coalizão com o M5S, Matteo Salvini alegou ;diferenças incontornáveis; entre os parceiros, ao fim de 14 meses de governo. O líder da Liga pretendia derrubar o gabinete com um voto de desconfiança, mas Conte antecipou-se e apresentou a renúncia ao presidente. Antes, em discurso ao parlamento, acusou o ministro do Interior de agir ;irresponsavelmente; em nome de ;interesses pessoais e partidários;. Em março de 2018, o M5S elegeu a maior bancada, mas nas eleições europeais de maio último, a Liga inverteu as posições, e pesquisas recentes de opinião colocaram o partido na liderança.

Trump
Embora simpático às posições anti-imigração da Liga, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu ontem com tuítes nos quais pareceu alinhar-se a Giuseppe Conte. O premiê italiano demissionário antecipou a volta ao país depois de assistir, na França, à reunião do G7, em companhia de Trump. ;As coisas começam a parecer boas para ele;, escreveu o presidente americano. ;Ele representou a Itália fortemente no G7, ama seu país e trabalha muito bem com os EUA.;


Resolvemos as questões do programa de governo. Falta resolver a questão de Di Maio;
Andrea Orlando, vice-secretário-geral do Partido Democrático

;Di Maio é o chefe político do nosso partido. Tem de estar no governo com uma posição de relevo;
Stefano Patuanelli, líder da bancada do M5S


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